Na Paixão do Senhor, Cardeal Scherer convida a testemunhar 'aquele que é a verdade'

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Arcebispo de São Paulo também classificou a corrupção como “deterioração do coração e da consciência” e “desqualificação humana”
Publicado em: 26/03/2016 - 12:15
Créditos: Redação

Por Fernando Geronazzo

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, presidiu a Ação Litúrgica da Paixão de Senhor, na tarde desta Sexta-feira Santa, 25.

A celebração que marca o segundo dia do Tríduo Pascal – aberto na Quinta-feira Santa, com a Missa da Ceia do Senhor – é marcada pela proclamação da paixão de Jesus segundo o evangelista São João, a Oração Universal, na qual são feitos pedidos por todas as intenções do mundo, o rito de adoração da santa cruz e a comunhão.

Na homilia, Dom Odilo explicou que a celebração da Sexta-feira Santa, recordando a Paixão de Cristo, sempre confronta os cristãos os fortes momentos da prisão de Jesus, seu julgamento, a condenação á morte, a tortura, o caminho do Calvário com a cruz nas costas, a crucificação, a morte e a sepultura de Jesus.

“Os fatos narrados pelo evangelista São João nos mostram com muitos detalhes que aqui estamos diante de um drama verdadeiro, não de uma fantasia criada para ser um teatro, mas é alguém é que está ali, Jesus Cristo”, disse.

De acordo com o Cardeal, a narrativa da Paixão convida quem a ouve a questionar com qual dos vários personagens apresentados se identifica e em que lugar cada um se situa nesses fatos.  Mas o Arcebispo  também chamou a atenção para a verdadeira finalidade da narrativa. “Depois da morte de Jesus, São João conclui: ‘Aquele de que viu, aquele que escreve dá testemunho disso, e seu testemunho é verdadeiro...’. São João narra a paixão de cristo para que ‘creiais e crendo tenhais a vida em seu nome’... Que nós também, reconhecendo que ele é o filho de Deus, vendo, através de São João, também creiamos”, destacou.  

Ouça a íntegra da homilia:

Corrupção: deterioração do coração

Ao mencionar a traição de Judas, que literalmente vendeu Jesus por 30 moedas, Dom Odilo chamou a atenção para a realidade da corrupção. “Judas era um dos doze, estava junto com Jesus. Como foi que não aprendeu a lição? Como foi que o seu coração se corrompeu ao ponte de ele trair o mestre desse jeito? Judas foi chamado por Jesus não para ser o traidor, mas para ser discípulo, para ser um dos apóstolos”, disse, recordando que Judas carregava consigo o vício do apego ao dinheiro,  a avareza. “É um vício sério, um dos pecados capitais. Judas estava marcado por este amor ao dinheiro e seu coração”.

“A corrupção é um problema muito sério que se escancara sempre mais na vida pública brasileira. Mas cuidado! Muito rapidamente nós apontamos o dedo. A corrupção está por toda parte, pode estar perto de nós, dentro de nossa casa,. Podemos nós, de repente, estar praticando corrupção”, alertou o Cardeal.

O Arcebispo ressaltou que corrupção é o desvio de finalidade não somente do dinheiro, mas é a “deterioração do coração e da consciência”. “O que é um fruta corrompida? Um fruta podre. A corrupção é podridão”, afirmou, recordando, ainda, quando o Papa Francisco diz que a “corrupção cheira mal”.

Ainda de acordo com Dom Odilo, “a corrupção é a desqualificação humana, quando se perdeu a referencia à dignidade”, e por isso, se é capaz de fazer o mal para “tirar vantagem”. “E qual é, geralmente, o motivo da corrupção? O amor ao dinheiro, a avareza, alguma vantagem a qualquer custo”, acrescentou, reforçando que isso pode acontecer na política, da economia, administração, no âmbito profissional, na vida privada, nas relações interpessoais.

“Ninguém é corrompido de uma hora para outra. A corrupção começa com pequenas corrupções, desonestidades, concessões de aproveitar o que é alheio em benefício pessoal”, alertou o Cardeal.

Dom Odilo lembrou, ainda, que Jesus veio ao mundo para dar testemunho da verdade. “Estamos em tempos, no nosso querido Brasil, em que é preciso ouvir a voz da verdade. É preciso ter cuidado com os gritos da multidão. É preciso estar atentos à voz da verdade para não cometer injustiças, mais uma vez por corrupção. A verdade corrompida, a  justiça, de repente, corrompida, quando não se ouve a verdade”, afirmou, ressaltando, ainda, que “a verdade não é a do grito, deve ser buscada serenamente, ouvindo a voz da consciência, da responsabilidade pessoal de quem deve pronunciar a palavra da verdade”.

Peçamos que, pelos méritos da paixão de Nosso Senhor jesus Cristo, não nos deixemos corromper, mas sejamos da verdade, ouçamos a sua voz, demos ao mundo testemunho daquele que é o caminho, a verdade e a vida e, por isso deu a vida pela humanidade, para dar testemunho da verdade”, concluiu o Arcebispo. 

Após a celebração, houve a tradiconal "Procissão do enterro",  com as imagens do Senhor Morto e de Nossas Senhora das Dores, pelas ruas do centro da Capital. Neste sábado, às 19h, Dom Odilo preside a solene Vigília Pascal, também na Catedral da Sé.