‘Jesus não abandonou sua igreja, mas caminha com ela’

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O Arcebispo Metropolitano deu ínicio as tividades do Sínodo Arquidiocesano de São Paulo, no domingo, 24
Publicado em: 28/02/2018 - 15:00
Créditos: Redação

Luciney Martins/O SÃO PAULO

“Deus nos concede esta graça especial e, ao mesmo tempo, confia uma imensa tarefa à nossa generosa colaboração”, afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, na celebração de abertura do primeiro sínodo arquidiocesano de São Paulo, no sábado, 24, no Centro de Eventos São Luís, na Consolação. 

Dom Odilo partiu do relato sobre o encontro de Jesus ressuscitado com os dois discípulos de Emaús – Evangelho de São Lucas (Lc 24,13-35) – para refletir a experiência de “caminhar juntos”, significado da palavra “sínodo”. “Haviam feito uma bela experiência de ‘sínodo’, caminhando com Jesus, convivendo e aprendendo com Ele, unidos e irmanados por Ele”, destacou.

“Talvez nos encontramos em São Paulo (e não somente aqui) na condição dos discípulos de Emaús: perda do encantamento pela vida cristã e pela própria Igreja; desmotivação paralisante, que leva à apatia diante dos desafios enfrentados pela Igreja, e não são poucos! Tudo fica parecendo difícil, e que não vale a pena tentar mais nada. Pode ser que nos fixamos em esquemas mentais, pastorais ou até teológicos equivocados ou, pelo menos, não adequados para os tempos e as circunstâncias atuais, com medo do novo e do surpreendente de Deus no caminho dinâmico da Igreja...”, acrescentou o Cardeal. 

Em seguida, o Arcebispo apontou alguns “sintomas preocupantes” diante dos quais a Igreja em São Paulo se apresenta: “O esvaziamento da prática dominical e da procura de vários sacramentos; a quase ausência de crianças e jovens nas nossas comunidades, a pouca expressão da Catequese; certa burocratização de nossas paróquias e da ação pastoral, com excesso de estrutura, sem alcançar o foco daquilo que deveria ser a nossa ação evangelizadora; dispersão das energias pastorais, fraca incidência dos católicos na vida social, política e cultural e na formação da opinião pública; certo desânimo de pastores e fiéis, acompanhado de azedume e críticas amargas aos irmãos e à própria Igreja; tendência individualista acentuada, que se manifesta no descompromisso com a comunidade de fé e no modo subjetivo e relativista de  acolher os ensinamentos e orientações da Igreja; evasão de católicos para outras denominações cristãs, ou abandono total da vinculação com a Igreja e da fé...”. 

 

ARDOR MISSIONÁRIO

Diante desses sintomas, a Arquidiocese é interpelada. “Vamos continuar como estamos, sem tomar conhecimento das lacunas na evangelização e dos riscos de esvaziamento de nossas comunidades, fazendo de conta que nada mudou e tudo continua como sempre foi? Vamos continuar a fazer uma pastoral de mera conservação, ou queremos avançar para uma impostação mais missionária da nossa ação eclesial? Já avançamos algo na ‘conversão missionária’ e na ‘Igreja em saída’, à qual o Papa Francisco nos convoca?”, indagou Dom Odilo. 

O Cardeal Scherer reconheceu que, ao longo do tempo, não foi pequeno o esforço realizado na Arquidiocese para tornar a Igreja verdadeiramente presente e operante na imensa metrópole. “Nossa Arquidiocese tem feito seus planos de pastoral, traduzindo em prioridades e urgências pastorais aquilo que temos a fazer nesta cidade. Tudo isso, porém, pode ficar ‘letra morta’ e sem efeito, se não chegar efetivamente às bases do povo de Deus e sem uma verdadeira ‘conversão’ de nossa mentalidade e de nossa cultura pastoral”, continuou. 

“‘Deus habita esta Cidade: somos suas testemunhas!’, nesta metrópole, que começou com uma missão religiosa, uma escola, uma igreja, um altar e uma proposta de sociedade baseada nos critérios do Evangelho de Jesus, não podemos ficar ‘sumidos’. Acreditamos na força do testemunho cristão e católico, realizado de muitos modos e por muitos”, enfatizou o Arcebispo. 

Por fim, Dom Odilo afirmou que, no caminho do sínodo, todos perceberão que, assim como com os discípulos de Emaús, Jesus não abandonou sua Igreja, mas caminha com ela, renova-a por meio da constante ação do Espírito Santo, “na alegria de crer e de proclamar a Boa Nova do Evangelho à cidade mediante o testemunho da vida cristã e eclesial”.