Em Aparecida, Cardeal Scherer reza pela Arquidiocese de São Paulo e pelas vítimas da pandemia

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Pela primeira vez na história, Romaria Arquidiocesana a Aparecida aconteceu sem a presença física de fiéis, que se uniram virtualmente à missa presidida pelo Arcebispo no Santuário
Publicado em: 05/05/2020 - 17:45
Créditos: Redação

Como acontece há 119 anos, a Arquidiocese de São Paulo realizou sua romaria anual ao santuário da Padroeira do Brasil, em Aparecida (SP), neste domingo, 3.

Entretanto, pela primeira vez na história, a Basílica de 72 mil m² dedicada à Nossa Senhora da Conceição Aparecida, onde costumam se reunir aproximadamente 30 mil pessoas em torno de seu altar principal, estava vazia para a missa presidia pelo Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, devido às medidas de isolamento social para conter o avanço da pandemia de COVID-19.

Contudo, Dom Odilo não estava só nesta peregrinação. Além dos bispos auxiliares e alguns padres que concelebraram com ele no Santuário Nacional, uma multidão de fiéis leigos, sacerdotes, diáconos e religiosos consagrados da Arquidiocese acompanharam a celebração eucarística de suas casas por meio da televisão, do rádio e das mídias digitais.

“Esta Basílica está fisicamente vazia, mas muitas pessoas estão unidas espiritualmente, pela fé participando conosco nesta celebração, através dos meios de comunicação”, afirmou o Arcebispo.

“Nós aqui viemos, em Romaria, para colocar nas mãos e no coração de nossa Mãe e Padroeira a vida da Arquidiocese de São Paulo, nossos pedidos e também nossas angústias e esperanças neste tempo de pandemia”, afirmou Dom Odilo, no início da celebração. 

Ao saudar o Cardeal e os concelebrantes, o reitor do Santuário Nacional, Padre Carlos Eduardo Catalfo, ressaltou que desde o início do século XX, quando começaram as primeiras romarias à Aparecida, a Arquidiocese de São Paulo foi uma das primeiras a levar seus fiéis ao encontro da Mãe Aparecida. Ele recordou, ainda, que o próprio Santuário Nacional pertenceu ao território da Igreja particular de São Paulo até a criação da Arquidiocese de Aparecida, em 1958.

BOM PASTOR

A liturgia do 4º domingo da Páscoa a Igreja destaca Jesus como o Bom Pastor da humanidade. “Jesus é o pastor que veio para que as ovelhas tenham vida em abundância. Ele entregou a sua vida pela humanidade, sobre a cruz e manifestou a plenitude da vida na sua ressurreição”, afirmou Dom Odilo, no início da homilia.

O Cardeal recordou as palavras do hino da sequência pascal, entoado no Domingo de Páscoa: “por toda ovelha imolado, do mundo lava o pecado. Duelam forte e mais forte: é a vida que enfrenta a morte”. E reiterou que, “no seu imenso amor, Jesus entregou a sua vida por nós, para que nós alcançássemos a misericórdia e o perdão de Deus”.

Ao comentar o trecho da segunda leitura em que São Pedro afirma: “Vós andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes para o pastor e guarda de vossas vidas” (1Pd 2,25), o Arcebispo ressaltou que “Jesus não apenas nos redime do pecado, mas nos concede a graça de participar da vida nova pela graça do Batismo”.

QUE NINGUÉM SE PERCA

“Neste tempo pascal, recordamos que Deus é o supremo pastor da humanidade e quer que ninguém se perca, mas que todos sejam salvos, mediante a fé em Cristo, enviado ao mundo como bom pastor da humanidade”, enfatizou Dom Odilo, exortando que todos se mantenham unidos e atentos à voz do Pastor e não deem ouvidos aos falsos pastores, “que podem ser tantos entre nós e que não estão interessados no verdadeiro bem das ovelhas, mas apenas no seu proveito pessoal”.

Referindo-se ao Evangelho do dia (Jo 10,1-10), em que Jesus afirma ser  “a porta dos pastores” e a “porta das ovelhas”, o Cardeal Scherer afirmou que os pastores verdadeiros, que são reconhecidos pelas ovelhas e a quem as ovelhas seguem porque reconhecem a sua voz, são os pastores que passam pela única porta verdadeira que dá acesso às ovelhas.

CRISTO É A PORTA

“O verdadeiro pastor precisa passar pela porta que é Cristo. Se tenta chegar junto das ovelhas de outra maneira, ele espanta as ovelhas e essas escapam dele porque não o reconhecem como pastor, mas como ladrão e salteador. O pastor que se apresenta em seu próprio nome, não mediante a autenticação dada por Cristo, do seu serviço junto das ovelhas, acaba criando problemas sérios para as ovelhas”, salientou.

Dom Odilo sublinhou que Jesus é a porta para as próprias ovelhas. “Entrando e saindo no redil por meio dele, a porta, as ovelhas estão em segurança e não correm o risco de serem enganadas ou roubadas por falsos pastores ou tomarem caminhos errados”, disse.

“As ovelhas devem prestar atenção à voz do seu verdadeiro pastor, e saber distinguir a voz dele no meio de tantas vozes. Isso significa muito para nós, em nossos dias, quando há tantas vozes e tantos que se apresentam como ‘pastores’. É preciso que os cristãos tenham atenção e discernimento, para seguirem apenas a voz do pastor bom, que está verdadeiramente interessado no seu bem”, salientou o Arcebispo.

ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES 

O Cardeal recordou, ainda, que no Domingo do Bom Pastor, a Igreja também celebra o Dia mundial de oração pelas vocações sacerdotais. “Somos convidados especialmente a nos unirmos em prece para que Deus chame a muitos para serem bons pastores, a exemplo de Jesus e dele possam receber o encargo de cuidar das ovelhas. A Igreja precisa muito de pastores bons e santos, que sirvam com alegria e generosidade as ovelhas e cuidem delas, como Jesus mesmo faria”, destacou.

O Arcebispo também afirmou que em todas as paróquias e comunidades da Arquidiocese é preciso haja o serviço vocacional organizado, para apoiar o surgimento de vocações e seu encaminhamento para a maturidade. “A primeira ação vocacional é nossa oração fervorosa e constante pelas vocações sacerdotais e à vida consagrada religiosa. Que em todas as comunidades e paróquias haja ao menos uma vocação e que as vocações contem sempre com a valorização e o apreço de todos. Em cada comunidade, ao menos, uma vocação”, pediu.

SÍNODO ARQUIDIOCESANO

Ao falar das intenções das intenções apresentadas à Padroeira do Brasil, Dom Odilo pediu pela realização do sínodo arquidiocesano convocado em 2017 e cujas atividades estão suspensas temporariamente devido à pandemia. “Nossa Igreja vive na realidade complexa da Metrópole e nela procura ser fiel à sua missão recebida de Jesus: ‘Vós sereis minhas testemunhas’. Queremos renovar-nos nesta missão e, por isso, estamos celebrando o sínodo arquidiocesano e fazendo um caminho de comunhão, conversão e renovação missionária em toda a nossa Arquidiocese”, disse.

“Em nossa Romaria, suplicamos a Nossa Senhora Aparecida que interceda por nós e nos ajude a estarmos sempre atentos à voz do Espírito Santo e aos caminhos de Jesus, nosso Bom Pastor”, completou.

PANDEMIA

O Arcebispo reiterou o convite à oração para que todos sejam livres do contágio do novo coronavírus e para que os cientistas e pesquisadores encontrem quanto antes uma vacina e uma medicação eficaz para a prevenção e a cura da doença e de tantas outras enfermidades que afligem a humanidade.

O Cardeal também pediu a intercessão de Nossa Senhora os doentes nos hospitais e nas casas e todos os que cuidam deles. “Que os doentes sejam assistidos e possam recuperar a saúde. E todos os que cuidam deles possam ter sua saúde preservada”, pediu.

“E colocamos também nas mãos de Nossa Senhora Aparecida nossa súplica por todos aqueles que vivem a angústia do desemprego e da incerteza econômica a respeito do dia de amanhã. Que a partilha e a solidariedade fraterna ajudem a tantas pessoas e famílias a superarem este tempo de crise, sem maiores sofrimentos”, acrescentou o Cardeal, concluindo: “Temos a certeza de que Nossa Senhora, a quem Jesus nos entregou como Mãe, está olhando por nós”. 

PRECE PELO BRASIL

Na oração dos fiéis, o Cardeal Scherer fez uma prece por todo o Brasil, sobretudo pelas autoridades de todos os níveis, para que se busque aquilo que melhor possa contribuir para atender as necessidades dos que mais sofrem com pandemia.

“Que se deixe de lado toda forma de instrumentalização, que todos os que têm a responsabilidade se deem as mãos para melhor encontrar os benefícios do povo que mais precisa, especialmente os doentes, os pobres e os que ficaram desempregados”, destacou.

No fim da missa, Dom Odilo fez a oração de consagração da Nossa Senhora Aparecida em nome de toda a Arquidiocese de São Paulo.

Antes da bênção final, o Cardeal reiterou sua orientação para que sejam seguidas as recomendações das autoridades sanitárias para combater a pandemia, por meio do distanciamento social e medidas de higiene preventiva. “É a medicina que nos temos no momento”, afirmou, lembrando que ainda não há vacinas ou cura para a COVID-19. “Cuidemos para não nos contagiarmos e não contagiar os outros. Por isso, o que está sendo recomendado é importante. Se todos fizermos o que está em nosso alcance, logo essa pandemia passará”, completou.

EXPRESSÃO DE COMUNHÃO

Os fiéis da Arquidiocese de São Paulo também estiveram unidos à Romaria Arquidiocesana por meio da oração e comunhão espiritual. Desde a quarta-feira, 29 de abril, atendendo ao convite do Arcebispo, as famílias e comunidades rezaram o Rosário e a Ladainha de Nossa Senhora em preparação para a Romaria.

Logo após a benção final dada por Dom Odilo no Santuário Nacional, os sinos de muitas igrejas de São Paulo badalaram em sinal de comunhão com a romaria. Algumas comunidades realizaram pequenas carreatas pelas ruas com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, para que as pessoas pudessem saudar a imagem da padroeira das janelas de suas residências.