‘Deus é servido quando nós servimos os irmãos’

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Na celebração que abre o Tríduo Pascal, o Cardeal Odilo Scherer lavou os pés de 12 migrantes e refugiados acolhidos em São Paulo
Publicado em: 26/03/2016 - 10:00
Créditos: Redação

Por Fernando Geronazzo

O Sagrado Tríduo da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, foi aberto com a Missa da Ceia do Senhor, na noite desta Quinta-feira, Santa, 24. Na Catedral da Sé, o arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, presidiu a celebração que recorda a instituição da Eucaristia, na última ceia, e o gesto de Jesus de lavar os pés dos discípulos. Neste ano, Dom Odilo lavou os pés de 12 migrantes  e refugiados de diferentes nacionalidades, acolhidos por instituicões que atuam na Arquidiocese.

Na homilia, o Arcebispo ressaltou que a Páscoa é o centro das celebrações na liturgia cristã, pois envolve os momentos e elementos centrais da fé da Igreja. “A nossa fé cristã não vem de uma bela doutrina simplesmente, ou de um alto ideal moral, ético. Nossa fé está relacionada com uma pessoa e, por isso, também está relacionada com fatos”, disse, acrescentando: “Hoje nós recordamos fatos da história da nossa salvação”. 

“Recordamos os grandes feitos da história da nossa salvação, que formaram a nossa fé. Feitos de Deus que envolvem os homens, a nós. E, por isso, hoje, também esse á um convite para que nós façamos a nossa parte, nos unamos a estes feitos de Deus com os homens. As maravilhas de Deus não ficaram no passado apenas, continuam também hoje e nós estamos envolvidos por estas obras de Deus em favor de todos nós”, explicou, destacando a instituição da Eucaristia, memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus.  

Lava-pés

Dom Odilo explicou, ainda, que o gesto de lavar os pés, no tempo de Jesus, era um trabalho dos escravos, dos servos, daqueles que estavam a serviço do seus senhores. “Jesus, que é o mestre, que é aquele que está a frente dos apóstolos, se põe a lavar os seus pés”.

Ainda de acordo com o Cardeal, Jesus faz o gesto de serviço humilde, se coloca ao serviço de todos e lhes pede que sigam o seu exemplo. E, desta forma, no gesto, ele realiza aquilo que, no dia seguinte, na Sexta-feira Santa, realiza com a doação da vida. “A sua entrega na cruz é um serviço pela humanidade, o extremo serviço. Ninguém tem maior amor, ninguém serve mais, do que aquele que dá a vida pelos amigos, por aqueles que ama”.

“Lavar os pés é um gesto simbólico, mas a tantas outras formas de traduzir o lavar os pés em relação aos nossos irmãos e somos convidados a fazê-lo, mas do que no rito, mas fazer de fato por meio dos serviços aos nossos irmãos”, explicou o Arcebispo, dando como exemplos diversas maneiras de serviço no dia a adia.

“Os pais são convidados a lavar os pés dos filhos enquanto esses são pequenos. Os pais cuidam dos filhos, se colocam as serviço dos filhos. Continuam a lavar seus pés quando os educam, quando se dedicam a eles, quando escutam seus problemas, quando têm paciência com seus momentos de crise. Os irmãos lavam os pés dos irmãos quando se interessam uns pelos outros, se colocam a serviço um dos outros e superam seus egoísmos de pretender que tudo seja para si”, disse.

Na sociedade, afirmou Dom Odilo, lavam os pés uns dos outros, todos aqueles que sincera e honestamente se colocam a serviço uns dos outro por meio de seu trabalho profissional e contribuição na vida social e responsabilidades públicas, colocando-se a serviço da comunidade. “Deus é servido quando nós servimos os irmãos, quando estamos atentos às suas necessidades, quando concretamente praticamos as obras de misericórdia e temos sensibilidade em relação as necessidades do próximo”.

Obra de misericórdia

O Cardeal também chamou a atenção para as tantas situações da sociedade que requerem atenção. “Temos tantos doentes em casa, nos hospitais, temos tantos prisioneiros... tantos pobres, que vão lutando para superar o dia a dia, que vivem na rua, sem teto, sem casa. Temos tantos que vivem na dependência química e deixados a sós , no seu abandono, simplesmente vão perecendo. Temos tantas situações de pessoas angustiadas, que precisam da boa palavra, do com conselho, orientação, instrução... Quantos convites a nós, cristãos, a não ficarmos indiferentes diante de tantos irmãos aos quais podemos lavar pés”.

Os muitos refugiados e migrantes que deixaram suas pátrias em busca de uma vida mais digna e segura também foram lembrados pelo Arcebispo. “Prófugos que escapam dos lugares de violência, de guerra, das tensões nos seus países de origem. Deixam tudo para salvar suas vidas. Precisam ser acolhidos, compreendidos, de alguém que lhes lave os pés, talvez até concretamente”, disse Dom Odilo, mencionando o grupo de pessoas que tiveram seus pés lavados por ele na celebração.

Por fim, o Cardeal agradeceu a todos aqueles que por si e pela Igreja lavam os pés de tantos irmãos. “Na celebração da  Ceia do Senhor, no rito do lava-pés, no Ano Santo da Misericórdia, recordemos a obras de misericórdia. Todas elas estão ligadas a este gesto de Jesus de levar os pés... Se nós não seguirmos o exemplo de Jesus, não temos parte com ele. Se somos cristãos, somos chamados a seguir o exemplo que ele nos deixou”, concluiu.