Coordenador da CF na Arquidiocese fala sobre o tema de 2015

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<p>&nbsp;Em entrevista ao&nbsp;O SÃO PAULO, &nbsp;o Coordenador&nbsp;falou dos desafios de assumir a coordenação da Campanha .&nbsp;</p>
Publicado em: 20/02/2015 - 15:30
Créditos: Jornal O SÃO PAULO – Edição 3038

Por Edcarlos Bispo

 

Na Quarta-feira de Cinzas, 18, iniciou-se na Igreja o período da Quaresma. É um momento de reflexão e meditação voltado ao jejum, oração e esmola. No Brasil, a Igreja realiza durante esse período a Campanha da Fraternidade (CF).

Neste ano, o tema da CF, “Fraternidade: Igreja e sociedade”, quer aprofundar, à luz do Evangelho, “o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus”, descreve o Texto Base da Campanha.

O documento apresenta seis  objetivos específicos: “Fazer memória do caminho percorrido pela Igreja com a sociedade, identificar e compreender os principais desafios da situação atual; Apresentar os valores espirituais do Reino de Deus e da doutrina Social da Igreja, como elementos autenticamente humanizantes; Identificar as questões desafiadoras na evangelização da sociedade e estabelecer parâmetros e indicadores para a ação pastoral; Aprofundar a compreensão da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações desumanas e violentas; Buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão da Igreja de Cristo de levar a Boa-Nova a cada pessoa, família e sociedade; Atuar profeticamente, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para o desenvolvimento integral da pessoa e na construção de uma sociedade justa e solidária”.

Na Arquidiocese de São Paulo, o coordenador e responsável pela CF, Padre Manoel Conceição Quinta, SSP, em entrevista ao O SÃO PAULO, falou dos desafios de assumir a coordenação da Campanha, qual a importância de discutir a relação Igreja e sociedade, como a Arquidiocese se articulará na vivência da CF e a importância da coleta que acontecerá, em todo o Brasil, no Domingo de Ramos.

O SÃO PAULO - Como é ser coordenador da Campanha da Fraternidade na Arquidiocese de São Paulo? Como está sendo assumir este desafio?

Padre Manoel Conceição Quinta - É um desafio grande, como coordenar qualquer outra pastoral.  A Arquidiocese de São Paulo é imensa e coexistem na cidade muitas realidades diferentes.  Penso ser importante trabalhar em conjunto com o Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, com o coordenador de Pastoral de cada Região, com o objetivo de formar núcleos de animadores da Campanha da Fraternidade, para atuarem nos setores e nas comunidades.  Se o desafio é grande, a colaboração de todos é maior.

O que o tema da Campanha “Fraternidade: Igreja e sociedade” tem a dizer para a Igreja em São Paulo?

A Campanha recorda à Igreja sua missão de construir o Reino de Deus. Ela tem de ser presença viva de Jesus Cristo, contribuindo para que a sociedade seja mais justa e fraterna. A Campanha lembra à Igreja que ela vive numa sociedade onde há muitos miseráveis e desprovidos de tudo. Às vezes é bom trazer à memória realidades desagradáveis. Há sempre o perigo de nos esquecermos delas, tudo sendo assimilado como “cultura” e aí não se faz mais nada.

Qual a contribuição da Igreja para a sociedade brasileira ao longo dos últimos cinquenta anos?

São múltiplas as contribuições da Igreja para a sociedade brasileira. Podemos partir das mais simples: a Igreja não prega a violência, nas suas orações sempre inclui as aflições da sociedade, reflete sobre a realidade  social e por vezes aponta injustiças, que atentam contra a dignidade humana. Promove a assistência, coloca-se a serviço dos mais necessitados. Basta  lembrar a existência das Pastorais Sociais da Arquidiocese. Quando necessário, se engaja politicamente e colabora com outras instituições comprometidas com o bem comum, a dignidade do ser humano e a justiça social.

Como estreitar o diálogo e a colaboração entre Igreja e sociedade?

A Igreja, a partir do Concílio Vaticano II, sempre esteve aberta ao diálogo e à colaboração, para que a sociedade seja mais justa e fraterna. O diálogo e a colaboração se tornarão estreitos à medida que existir um pensamento comum, uma ação que não esteja eivada de ideologias.

Quais as questões desafiadoras na evangelização da sociedade?

Entre tantas questões desafiadoras nomeio algumas: a droga, a violência e criminalidade, o indiferentismo e individualismo, o consumismo e o hedonismo.

Como buscar novos métodos, atitudes e linguagens para atualizar a missão da Igreja de levar a Boa-Nova a cada pessoa, família e sociedade?

A pergunta é bem ampla, a resposta é breve: o amor. Lembro-me de São Paulo Apóstolo: “Tende vem vós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo” (Fl 2,5). Aqui está o segredo de tudo.

Qual a importância da coleta da Campanha da Fraternidade? Como é usado esse dinheiro?

A Coleta da CF é o gesto concreto dos católicos, para os projetos próprios de cada campanha específica. Na falta de projetos específicos, o que é arrecadado destina-se à manutenção das obras sociais da Igreja e no nosso caso, às Pastorais Sociais da Arquidiocese. A coleta da Campanha está sempre ligada ao espírito quaresmal. A quaresma é tempo de penitência, oração, esmola, jejum e conversão. O Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica, nos diz que “o clamor dos pobres faz-se carne em nós”. Pede para voltarmos a ler a Palavra de Deus sobre a misericórdia. “A misericórdia não teme o julgamento” (Tg 2,12-13). A literatura sapiencial fala da esmola como exercício concreto de misericórdia para com os necessitados: “A esmola livra da morte e limpa todo pecado” (Tb 12,9). Encontramos o mesmo pensamento no Novo Testamento: “Mantende em vós uma intensa caridade, porque o amor cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8) (EG, 193).  

Como será trabalhada a Campanha na Arquidiocese?

A Campanha da Fraternidade está sendo trabalhada na Arquidiocese desde dezembro de 2014. Várias reuniões já foram feitas com o objetivo de divulgar a Campanha e formar agentes que animem as comunidades. Algumas Regiões Episcopais estão bem organizadas com suas equipes de divulgação da CF.

Quais desafios para que os padres e leigos assumam o compromisso com a Campanha?

A Campanha é a maior expressão de unidade pastoral da Igreja Católica no Brasil. Ela evangeliza e ensina a todos a ler a realidade, à luz do Evangelho. Não é necessário inventar muita coisa. É preciso conhecer as Pastorais Sociais da Arquidiocese e apoiá-las em tudo. Como sugestão se poderia retomar o “Seminário da caridade”, para todos tomarem conhecimento da ação social da Igreja na Arquidiocese de São Paulo.