Papa celebra Dia de Oração pelo Cuidado da Criação

A A
Pregação da Liturgia da Palavra celebrada na Basílica de São Pedro foi feita pelo pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa
Publicado em: 01/09/2015 - 16:00
Créditos: Redação com Rádio Vaticano

“Ninguém pode seriamente servir à causa da salvaguarda da criação se não tiver a coragem de ser contrário ao acúmulo de riquezas exageradas nas mãos de poucos e à tirania do dinheiro.” Foi o que disse o pregador da Casa Pontifícia, o frade capuchinho Raniero Cantalamessa, na Liturgia da Palavra presidida pelo Papa Francisco, na Basílica Vaticana, na tarde desta terça-feira, 1º de setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação.

Citando uma passagem do Gênesis (1, 28) que traz o relato da criação, o religioso franciscano explicou em que sentido se expressa o domínio do homem sobre a criação, fruto de forte crítica em tempos recentes, ressaltando crer que tal crítica parta do fato de se interpretar palavras da Bíblia à luz de categorias seculares alheias à Sagrada Escritura.

Frei Catalamessa explicou que o termo “dominai” não tem no texto sagrado o significado que a palavra tem fora da Bíblia, ressaltando um paralelismo evidente: “como Deus é o dominus do homem, assim o homem deve ser o dominus do restante da criação, ou seja, responsável por ela e seu custódio”.

A fé num Deus criador e no homem feito à imagem de Deus não é, portanto, uma ameaça, mas, sobretudo, uma garantia para a criação, e a mais forte de todas, ressaltou o pregador da Casa Pontifícia.

Esta fé nos diz que “o homem não é dono absoluto das outras criaturas; deve prestar conta daquilo que recebeu. A parábola dos talentos tem aí sua aplicação primordial: a terra é o talento que todos, juntos, recebemos, e do qual devemos prestar conta”.

Objetando, ainda, à referida crítica, o frade capuchinho disse que a prova de que não é a visão bíblica a favorecer a prevaricação do homem sobre a criação está no fato que “o mapa da poluição não coincide com o da difusão da religião bíblica ou de outras religiões, mas, sim, com o de uma industrialização selvagem, voltada unicamente para o lucro, e com o da corrupção que cala a boca de todos os protestos e resiste a todos os poderes”.

O pregador da Casa Pontifícia evidenciou que junto à afirmação de que homens e coisas proveem de um único princípio, a narração bíblica apresenta uma hierarquia de importância.

Essa hierarquia é violada, por exemplo, “quando se faz gastos exorbitantes com animais (não animais em perigo de extinção!), enquanto diante dos próprios olhos, se deixa morrer de fome e de doenças milhões de crianças”, frisou.

Referindo-se ao trecho evangélico proposto na liturgia, Frei Cantalamessa afirmou que devemos nos preocupar não com o nosso amanhã, mas daqueles que virão depois de nós. Não devemos nos perguntar: “O que comeremos? O que beberemos? O que iremos vestir?” Mas: “O que comerão? O que beberão? O que irão vestir nossos filhos, os futuros habitantes deste planeta?”

Referindo-se ao episódio da multiplicação dos pães – no qual depois se recolhe o que sobrou para que nada se perca (Jo 6, 12) –, ressaltou a necessidade de se evitar o desperdício, sobretudo no campo alimentar. Evocando a encíclica “Laudato si” do Papa Francisco, citou a passagem “Não podeis servir a Deus e à riqueza”, para em seguida afirmar:

“Ninguém pode seriamente servir à causa da salvaguarda da criação se não tiver a coragem de ser contrário ao acúmulo de riquezas exageradas nas mãos de poucos e à tirania do dinheiro.”

Esclarecendo que Jesus jamais condenou a riqueza em si, ressaltou:

“O que Jesus condena é a riqueza desonesta (Lc 16, 9), a riqueza acumulada em detrimento do próximo, fruto de corrupção e especulação, a riqueza surda às necessidades do pobre: por exemplo, a riqueza do rico epulão da parábola, que hoje não se refere a um indivíduo, mas A um inteiro hemisfério.”

Em seguida, o pregador da Casa Pontifícia tomou o exemplo de São Francisco de Assis, com o seu cântico das criaturas, que o Papa Francisco, com feliz intuição, escolheu como moldura espiritual para sua encíclica.

“São Francisco é a prova viva da contribuição que a fé em Deus pode dar para o esforço comum pela salvaguarda da criação. O seu amor pelas criaturas é uma consequência direta de sua fé na paternidade universal de Deus”, afirmou.

Por fim, citou um slogan dos nossos dias, “Pense globalmente, mas aja localmente”. A salvaguarda da criação, como a paz, se faz, diria nosso Santo Padre Francisco, “artesanalmente”, começando por nós mesmos. “A paz começa por ti, repete-se comumente nas mensagens para o Dia Mundial da Paz; também a salvaguarda da criação começa por ti”, destacou Frei Cantalamessa.