Dom Frei Antônio da Madre de Deus Galrão

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2º Bispo (1749-1764)

 

BIOGRAFIA

Nascido em maio de 1697, foi batizado no dia 26 de maio de 1697. Era filho do casal Brás Simões e Maria de Santo Antônio. Era natural da cidade de Lisboa, Portugal. Ainda criança, ingressou no convento franciscano e fez-se religioso da ordem, onde exerceu importantes cargos.

 

PRESBITERADO

Dom Frei Antônio da Madre de Deus Galrão era franciscano da província de Arrabida, um ramo pouco conhecido no Brasil. Já frade, recebeu a ordenação sacerdotal no dia 20 de dezembro de 1721.

 

EPISCOPADO

Dom frei Antônio da Madre de Deus teve sua nomeação decretada pelo Rei, para ser o segundo bispo da diocese de São Paulo no dia 24 de novembro de 1749. A nomeação do bispo, foi confirmada pela bula papal de Bento XIV, em 17 de março de 1750.

O novo bispo foi sagrado no Convento de Nossa Senhora e Santo Antônio de Mafra, no dia 06 de setembro de 1750. Foi sagrante dom Tomas de Almeida, patriarca de Lisboa, sendo um dos consagrantes, dom João de Azevedo (bispo da diocese de Portalegre e Castelo Branco, Portugal). Ainda no Convento de Mafra, dom Antônio da Madre de Deus Galrão tomou posse por seu procurador, o vigário capitular Mateus Lourenço de Carvalho, em 18 de outubro de 1750.

Ao partir rumo à São Paulo, dom Frei Antônio da Madre de Deus solicitou alvarás régios para a sua administração diocesana e condições especiais para as viagens pastorais que deveria empreender em sua diocese. Legalizou seus vencimentos, além de pleitear junto ao Rei a regularização dos vencimentos do cabido de São Paulo, tendo em vista o alto custo de vida na colônia, diferentemente do padrão que poderiam levar na metrópole.

Outra providência de dom Frei Antônio foi dar continuidade ao processo de divisas paroquiais, iniciados por seu antecessor, dom Bernardo Rodrigues Nogueira, e sem conclusão até aquele momento. O novo bispo recorreu à ajuda do Rei para evitar contestações, já que o primeiro bispo de São Paulo havia encontrado resistência por parte dos párocos, que não compreendiam que o bispo era detentor do direito de tomar tais providências.

Em 24 de março de 1751, dom frei Antônio embarcou para o Brasil. Embora estivesse de luto pela morte de dom João V, ocorrida em 31 de julho de 1750, o novo bispo de São Paulo foi acolhido com as solenidades de praxe para a ocasião no dia 28 de junho de 1751. Após sua chegada o bispo deu inicio aos trabalhos episcopais, reformulando primeiramente, o quadro do cabido.

A primeira paróquia criada no bispado de dom frei Antônio, foi a de Mogi-Mirim. Era uma modesta igreja de taipa e foi inaugurada em 1º de novembro de 1751, com a provável benção do arcediago Mateus Lourenço de Carvalho. Algumas solicitações do rei José I, foram emitidas ao longo do governo pastoral de dom frei Antônio, a fim de que se estabelecesse no território de sua diocese um convento franciscano no Paraná, a fim de atender os fiéis nos tempos quaresmais, atendendo às confissões e celebrando outros ofícios religiosos. Tal solicitação não parece ter sido atendida pelo bispo, uma vez que os franciscanos se estabeleceram no Paraná, somente no ano de 1899.

Enquanto a coroa portuguesa se preocupava com as novas divisões das terras da colônia, determinadas no Tratado de Madri (1751), dom frei Antônio estava com sua atenção voltada para as igrejas. O novo bispo tinha de dar à diocese uma nova catedral, já que desde os tempos do antigo bispo, a Igreja da Misericórdia vinha servindo de sede provisória. As demais igrejas da diocese se encontravam em péssimo estado de conservação em razão da pobreza da população e do não cumprimento das obrigações da Coroa Portuguesa. Em 29 de junho de 1952, a população enfeitou as ruas da cidade com luminárias e uma procissão transladou solenemente o Santíssimo Sacramento da Igreja da Misericórdia, para a nova Sé Catedral, que ainda faltava muito para ser concluída.

Dom Frei Antônio da Madre de Deus Galvão mostrou grande preocupação com os capelães e meninos do coro que aspiravam o sacerdócio, para que pudessem prosseguir seus estudos na catedral. Para tal, solicitou ao Rei a nomeação de um mestre-escola, a fim de que os meninos pudessem aprender a ler e escrever em português e em latim. Segundo o bispo, o fato de os meninos precisarem frequentar as escolas da cidade, fazia com que eles perdessem o estímulo, já que não havia tempo suficiente para os estudos e para a realização dos ofícios divinos. O pedido do bispo paulista foi atendido pelo Rei.

Em 28 de fevereiro de 1752, dom Frei Antônio da Madre de Deus Galrão erigiu a Irmandade de Nossa Senhora da Aparecida, na paróquia de Guaratinguetá. Esta irmandade ficou responsável por administrar a capela de Nossa Senhora Aparecida, construídas em terras doadas.

Após receber correspondências do Marquês de Pombal, em 20 de novembro de 1757, dom frei Antônio da Madre de Deus Galrão determinou que fossem celebradas em toda diocese o ofício litúrgico de São Francisco de Borja, da Companhia de Jesus, como patrono dos reinos e domínios, no dia 10 de outubro, de cada ano.

Outro ponto marcante do governo episcopal de dom Galrão era a sua preocupação com a formação do clero. O seminário da diocese estava a cargo do jesuítas. Os jesuítas foram os primeiros professores do povo e do clero paulista. Em 1759, quando foi deflagrada a perseguição e a expulsão da Companhia de Jesus, o seminário contava com 23 alunos internos, que foram expulsos. A comoção tomou conta da população de São Paulo. Depois de três anos, dom frei Antônio fundou no dia 31 de julho de 1762 a ordem de São Pedro dos Clérigos, com a finalidade de assistir de forma espiritual, material e cultural os associados e apoiar as iniciativas em favor da cultura teológica e pastoral dos presbíteros.

Dom frei Antônio da Madre de Deus Galrão era franciscano, acompanhando com tristeza e pesar o ocorrido com os jesuítas. Não mudou seu antigo costume fraternal em relação a eles. Dom frei Antônio não sofreu a perseguição do Marquês de Pombal, tendo em vista que seus atos em favor dos jesuítas não foram públicos.

A construção da capela-mor e da torre da Sé Catedral receberam contribuição do próprio bispo, que tinha suas côngruas praticamente todas investidas nas obras. Isso era marca do descaso que a Igreja sofria por parte do Reinado que não enviava a contribuição necessária para a manutenção das despesas da diocese.

O bispo faleceu aos 66 anos, no dia 19 de março de 1764. Dos 15 anos de bispado, residiu em São Paulo 13 anos. Deixou seus bens às obras pias e conventos existentes. Primeiramente, foi sepultado na capela-mor da antiga Sé Catedral. Atualmente, seus restos mortais repousam na cripta da catedral da Sé, onde pode ser lido em sua lápide:

 
“REQVIEM. AETERNAM. DONA. ET. DOMINE
DD. FR. ANTONII. DA. MADRE. DE. DEVS. GALRÃO.
PAVLOPOLITANAE. PLEBIS. SEDVLE. VPILIONIS
XIV. KAL. PAR. MDCCLIV. E. VIVIS. SVBLATI
CLARIS. NOBILISTATIQUE. LAVDIBVUS. EXORNATI
EXEMPLO. VISSE. STRENVE. PVGNASSE. NOTI
HVNC . PACIS . LOCVM . NACTA. SVNT. OSSA” 1
 

1 Dá-lhe o repouso eterno, Senhor. Esta mansão de paz foi concedida aos ossos de dom frei Antônio da Madre de Deus Galrão, zeloso pastor da grei paulistana, falecido aos 14 de fevereiro de 1754, ornado de méritos brilhantes e valiosos, deixando o exemplo de vida e árduo labor.

 

BRASÃO

 

Descrição: Escudo eclesiástico, partido: o 1º de blau com um leão de sable,gotado e lampassado de goles, trepante sobre o lado senestro de um monte de sua cor (sinopla) - das Armas dos Simões - tendo em chefe uma estrela de jalde, de oito pontas, entre duas cruzes latinas do mesmo; o 2º de goles, com seis costas de argente, postas: 2, 2 e 2, firmadas nos flancos – Armas da família Costa. O conjunto pousado sobre uma cruz trevolada de ouro, entre uma mitra de prata adornada de ouro, à dextra, e de um báculo do mesmo, à senestra, para onde se acha voltado. O todo encimado pelo chapéu eclesiástico com seus cordões em cada flanco, terminados por seis borlas cada um, tudo de verde.

Interpretação: O escudo oval obedece as regras heráldicas para os eclesiásticos. Os campos representam as armas familiares do bispo, nascido da nobreza lusitana. No 1º, a cor blau (azul) representa o manto de Maria Santíssima e, heraldicamente, significa: justiça, serenidade, fortaleza, boa fama e nobreza; o monte e o leão são tirados das ramas da família paterna de dom Frei Antônio, os Simões, sendo que o Leão representa também o bispo que sobe o Monte Santo do Senhor, que sendo de sua cor, sinopla, simboliza esperança, liberdade, abundância, cortesia e amizade; o Leão, sendo do metal jalde (ouro), simboliza: nobreza, autoridade, premência, generosidade, ardor e descortínio; as duas cruzes representam a Cruz de Cristo e a do cristão, que cada um deve levar com resignação; e a estrela representa Maria Santíssima , Estrela da Manhã, que auxilia o cristão a chegar ao Cristo. No 2º estão representadas ar armas familiares dos Costas, sendo que a cor goles (vermelha) simboliza o fogo da caridade inflamada no coração do bispo, bem como valor e socorro aos necessitados;e o metal argente (prata) simboliza a inocência, a castidade, a pureza e a eloquência, virtudes essenciais num sacerdote.