Que devo fazer, Senhor?

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25/01/2019 - 15:45

No caminho de Damasco, Paulo foi surpreendido por uma luz fortíssima, vinda do céu, e pela voz que o interpelou com as palavras: “por que me persegues?”. Ele quis saber de quem era a voz e foi sur-preendido novamente: “Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem estás perseguindo!” Podia haver choque maior que esse, justamente ele, Saulo, tão seguro e determinado em seus propósitos?

Paulo caiu em si e mudou de postura. Tornou-se humilde e perguntou: “Que devo fazer, Senhor?” É a disposição do homem que já não possui mais respostas para tudo e se põe a perscrutar sobre o que é bom e o que não é; sobre o que deve fazer, ou deixar de fazer. Paulo abriu-se à voz de Deus, acolhendo e levando a sério essa voz, mesmo naquela circunstância tão inusitada. Como podia imaginar que, na pessoa dos cristãos, era a Jesus que ele estava perseguindo? Mudou de rumo e tornou-se discípulo de Cristo e missionário do Evangelho entre os povos.

A pergunta de Paulo é a mesma que também nós devemos fazer nos momentos de tentação, de escolhas difíceis e decisões de peso. A resposta buscada com humildade e discernimento pode mudar o rumo da nossa vida, como mudou a de Paulo. Será que temos o costume de perguntar – “Senhor, que queres que eu faça?”

Em São Paulo, entramos no 2o ano do nosso sínodo arquidiocesano, com o propósito de fazermos um “caminho de comunhão,conversão e renovação missionária” em nossa Igreja. É um tempo propício para fazermos essa mesma pergunta: “Senhor, que queres que façamos?” Somos todos chamados a nos colocarmos em atitude de escuta, para “ouvir o que o Espírito diz à Igreja” (Ap 2). E ele nos fala de muitos modos!

No encontro surpreendente com Jesus ressuscitado às portas de Damasco, Paulo foi envolvido por uma luz fortíssima e ficou cego. Mas buscou ver, apoiando-se em amigos e no mestre Ananias. E recuperou a vista, “para ver o Justo, conhecer a vontade de Deus e ouvir a sua própria voz” (cf. At 22,12-15). Paulo passou a ver novamente, mas já não via mais as coisas como as via antes. O Espírito Santo lhe fez compreender o Evangelho de Jesus e sua própria missão.

Também nós busquemos a luz de Deus, no nosso caminho sinodal, querendo ver e compreender, com novo olhar, o mundo ao nosso redor, a vida e a missão da Igreja e nossa própria missão. Só assim poderemos fazer a conversão e renovação missionária necessárias. O Espírito Santo não deixará de nos ajudar com suas luzes e graças. Que o apóstolo São Paulo interceda por nossa Arquidiocese e por toda a cidade de São Paulo!

 

Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
Artigo publicado no folheto litúrgico "Povo de Deus em São Paulo", 25/01/2019