Viva a Mãe de Deus e nossa: Ano Mariano Nacional

A A
07/12/2016 - 19:00

No dia 8 de dezembro, a Igreja comemora a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, uma festa especialmente significativa dentro da celebração do Advento. Na “plenitude dos tempos”, quando está para enviar seu Filho ao mundo, para ser nosso Salvador, Deus prepara uma “mãe que fosse digna d’Ele”. A Mãe do Redentor é figura central do Advento e do Natal.

Maria Imaculada foi preservada do pecado original em vista de sua maternidade divina: não podia o pecado dominar nenhum instante sobre aquela que seria a Mãe do Salvador! Ela também foi redimida, graças ao Filho do Eterno Deus que dela nasceu e assumiu nossa condição humana; privilegiada com essa graça toda especial, Maria Imaculada intercede pelos pecadores, para que eles também alcancem perdão e misericórdia e sejam curados das feridas causadas pelo pecado.

A Igreja toda olha para Maria Imaculada com esperança pois, nela, a graça redentora manifestou-se plenamente eficaz: “Nela nos destes as primícias da Igreja, esposa de Cristo sem ruga e sem mancha, resplandecente de beleza” (Prefácio da Missa). Ela é a imagem da Igreja e da humanidade redimidas e em plena sintonia com Deus. Aquilo que Maria é, nós esperamos ser; nela, temos a imagem daquilo que somos chamados a ser, pela misericórdia de Deus e com nossa colaboração livre, como ela mesma fez: “Faça-se em mim conforme a tua palavra (Lc 1,38).

No dia 12 de outubro, celebramos a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira principal da América Latina. É mais uma representação muito significativa de Maria, relacionada com o Advento. Na tela de Guadalupe, Maria é representada como uma mulher grávida, numa alusão clara ao mistério da Encarnação, que nós celebramos no Natal. Maria de Guadalupe traz ao mundo o “Deus conosco”, presença consoladora e confortadora dos aflitos e Salvador dos “pequenos de Deus”.

Ao índio São João Diego, aflito pelos problemas de saúde em família e temeroso de se apresentar diante do bispo, para lhe levar a mensagem celeste, ela conforta e encoraja, dizendo: “Não estou contigo, eu que sou tua mãe?!” Nossa Senhora de Guadalupe representa a Mãe do conforto e da esperança, que traz ao mundo o Redentor, “cura” dos doentes, aflitos e fracos e esperança de salvação para todos. O nome Jesus significa “Deus cura”, “Deus salva”.

Desde o dia 12 de outubro passado, estamos comemorando os 300 anos do encontro da imagem sagrada de Nossa Senhora da Conceição Aparecida nas águas do rio Paraíba do Sul. Durante esses três séculos, a “Senhora de Aparecida” tornou-se muito querida de tantos brasileiros, que para ela se voltam com grande devoção e carinho filial. Por isso, ela foi proclamada “Rainha e Padroeira do Brasil”.

A arquidiocese de São Paulo possui um motivo especial para comemorar o tricentenário por ter uma relação histórica muito próxima com Aparecida. Desde que, em 1745, foi criada a diocese de São Paulo, até 1958, quando foi criada a arquidiocese de Aparecida, o Santuário de Aparecida pertenceu à diocese/arquidiocese de São Paulo; durante mais de dois séculos, São Paulo ficou encarregada de zelar pelo Santuário e pela difusão da devoção à Virgem Mãe Aparecida. Também a basílica “nova” foi iniciada pelo Cardeal Motta, arcebispo de São Paulo, na década de 1950; ele mesmo acabou se tornando o primeiro arcebispo de Aparecida, em 1964.

Para a comemoração desse tricentenário, por iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o Ano Mariano Nacional vai de 12 de outubro de 2016 a 12 de outubro de 2017. É uma ocasião especial para o aprofundamento da fé e de nossa relação filial e eclesial com Maria, “Mãe de Deus e nossa”. Em vista disso, resolvi escrever e publicar, em breve, uma carta à arquidiocese de São Paulo, para que sirva de motivação e orientação para as práticas do Ano Mariano.

Veneramos e valorizamos a Virgem Maria, a Mãe Imaculada do Redentor, não simplesmente porque nós assim decidimos e queremos, mas porque reconhecemos que Deus lhe deu um lugar especialíssimo nos seus desígnios em relação à humanidade e à Igreja. O próprio Deus a escolheu e agraciou, dando-lhe uma missão especial na história da nossa salvação, realizada “na plenitude dos tempos”, como recordamos e celebramos mais uma vez na solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo Metropolitano de São Paulo

Artigo publicado no  Jornal O  SÃO PAULO  - Edição 3131 - De 08/12/2016 à 13/12/2016