São Josemaría, santo do cotidiano

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06/07/2017 - 16:00
Aquela professora de piano - boa católica - ficou entusiasmada com uma descoberta: “‘Ao folhear o missal, não pude deixar de desiludir-me ao verificar que todas as santas foram freiras, virgens, mártires ou, pelo menos, viúvas’, conclui, não sem uma ponta de humor, Wilhelmine Burkhart, mãe de família, professora de música em Viena: ‘Que satisfação pensar que não só o esforço e o sofrimento, mas também as atividades humanas que nos enchem de alegria – como é para mim compor ou ensinar música – podem transformar-se numa oração contínua. Dezenas de milhares de pessoas devem este caminho a Josemaría Escrivá’”. A professora Burkhart conheceu São Josemaría por meio do seu filho mais velho, membro do Opus Dei. Em 24 de setembro de 1971, foi visitá-lo em Roma, e pôde es tar também com o Monsenhor Escrivá. Seu filho traduzia-lhe do castelhano as palavras que falavam de servir a Igreja com alegria, cada um no seu lugar: Tu podes transformar a tua arte em oração, disse-lhe São Josemaría.
 
O Papa São João Paulo II, na homilia por ocasião da canonização, em 6 de outubro de 2002, ensinava que “São Josemaría foi escolhido pelo Senhor para anunciar a vocação universal à santidade e mostrar que a vida de todos os dias e a atividade corriqueira são caminho de santificação. Podemos dizer que foi o santo do cotidiano. De fato, estava convencido de que, para quem vive sob a ótica da fé, todas as coisas são ocasião de um encontro com Deus, todas se tornam um estímulo para a oração. Vista dessa forma, a vida cotidiana revela uma grandeza insuspeitada. A santidade apresenta-se verdadeiramente ao alcance de todos”.
 
Desde 1928, São Josemaría Escrivá ensinou que o trabalho de cada dia não é alheio aos planos de Deus acerca das nossas vidas. O compromisso de ser cristão não se reduz a uns momentos de oração ou à participação na celebração dominical. Não podemos levar uma vida dupla, dizia: por um lado o trabalho de todos os dias, com suas exigências de horário, de atenção aos compromissos; por outro, completamente separada, a vida de relação com Deus. Como se fôssemos duas pessoas: uma de segunda a sexta-feira e outra de sábado e domingo.
 
De diversas maneiras e com expressões vivas, São Josemaría faz propostas interessantes como estas, por exemplo: “para um apóstolo moderno, uma hora de estudo é uma hora de oração” (Caminho, n.335). Ou então, “antes ‘só’ descascava batatas, agora, santifica-se descascando batatas” (Sulco, n.498). Trabalho e oração devem estar unidos: é missão dos leigos santificar as realidades terrenas e transformar o trabalho em oração e em apostolado. Oferecendo a Deus cada tarefa e esforçando-se por trabalhar com ordem, com intensidade, competência, sentido de responsabilidade e espírito de serviço.
 
A vocação universal à santidade é hoje doutrina solenemente proclamada pelo Concílio Vaticano II: “Todos os fiéis cristãos, nas condições, ofícios ou circunstâncias de sua vida, e através disto tudo, dia a dia, mais se santificarão, se com fé tudo aceitam da mão do Pai celeste e cooperam com a vontade divina, manifestando a todos, no próprio serviço temporal, a caridade com que Deus amou o mundo.” (Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 41).
 
Contudo, sabemos que manter essa união com Deus ao longo do dia exige, de ordinário, receber uma contínua assistência espiritual. Por isso, alguém comparou o trabalho da Prelazia do Opus Dei a um posto de serviços: o motorista estaciona o seu veículo para abastecer de combustível, verificar o nível do óleo do motor e a pressão dos pneus etc. A partir daí, pode continuar circulando com segurança. O mesmo serviço espiritual é oferecido aos fiéis leigos: recebem o “reabastecimento” de sua vida interior para sair novamentea desempenhar a sua tarefa de santificação do trabalho cotidiano, fazendo o seu apostolado em todos os ambientes: nas relações familiares, profissionais, religiosas e sociais. A festa de São Josemaría celebra-se no dia 26 de junho.