Grandes Amizades

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13/10/2016 - 15:30

Cheguei de Roma há alguns dias, onde participei - juntamente com Dom José Roberto Fortes Palau - de um curso para bispos nomeados recentemente em todo o mundo.

No dia 18 de setembro, tivemos a graça de sermos recebidos na Sala Clementina pelo Papa Francisco.

Estávamos numa alegre expectativa do momento de ver, ouvir e cumprimentar o Papa.

Logo de início, o Papa disse que já nos conhecia de algum modo, mas queria ver o nosso rosto e auscultar os sentimentos do nosso coração: “Depois de ter ouvido falar de vós, posso ouvir pessoalmente o coração de cada um e fixar o meu olhar em cada um de vós para divisar as numerosas esperanças pastorais que Cristo e a sua Igreja depositam em vós. É bonito ver revelado nos rostos o mistério de cada um e poder ler aquilo que Cristo escreveu neles”.

Sentíamos a profunda compreensão do Papa para conosco: “Estimados irmãos, o nosso encontro tem lugar no início do vosso caminho episcopal. Já passou o clamor suscitado pela vossa escolha; foram superados os primeiros temores, quando o vosso nome foi pronunciado pelo Senhor; e agora até as emoções vividas na consagração se vão gradualmente depositando na memória e, de certa forma, o peso da responsabilidade adapta-se aos vossos ombros frágeis.”

No final, cumprimentou-nos um a um. Apesar de ser um grupo grande, o Papa Francisco dirigia a cada um com um sorriso amável e carinhoso: como se tivesse todo o tempo disponível para nós. Todos nos sentimos mais irmãos, mais unidos, sentindo fortemente a comunhão do Colégio Episcopal. Que alegria ter muitos irmãos e verdadeiros amigos! Queria aproveitar para fazer uma pergunta: quantos amigos você e eu temos?

Em certa ocasião, um rapaz, diante dessa pergunta, respondeu sem titubear: 1.262 amigos!

Como assim? Saiu naturalmente a pergunta.

Tenho exatamente 1.262 amigos no Facebook!

Todos esses serão verdadeiros amigos?

Eu queria hoje chamar a atenção de todas as pessoas para a grande responsabilidade que nós temos de defender o tesouro da amizade, porque no nosso mundo, materialista, superficial, frio e individualista, esse valor se está perdendo. Pensando nas palavras do Papa, podemos encontrar alguns sinais da verdadeira amizade. Vejamos.

Primeiramente, as grandes amizades são como uma conquista: conseguir uma amizade verdadeira exige esforço, tempo. Custa para fazer uma amizade, mas depois o amigo verdadeiro não nos abandona nunca.  As amizades que se rompem com facilidade não são autênticas.

Em segundo lugar, a amizade permite compartilhar sentimentos. Diante de um amigo se pensa alto, pois é uma pessoa com quem podemos falar dos nossos sentimentos e convicções mais interiores. Alguém falava da fórmula matemática da amizade: quando há amizade verdadeira as alegrias se somam e os problemas se dividem. Saint Exupéry ressalta outro sinal da amizade em seu livro “O pequeno príncipe”: somos responsáveis por aqueles que cativamos.

Sentimento desinteressado: a amizade não pode ser interesseira. Querer o bem da pessoa: procurar ajudá-la sabendo sacrificar o interesse pessoal. Querer as pessoas tal como são, com os seus defeitos. Não existe nenhuma pessoa perfeita. Vencer diferenças de temperamento.

Por último, um conselho exigente, do Livro dos Provérbios, ressalta outra característica da amizade: “Melhor é a correção manifesta do que uma amizade fingida”.

Corrigir quando necessário. Uma conversa clara, aberta, exigente.

Ver a alegria do Papa Francisco, a sua atenção, o seu sorriso, serve de estímulo para todos nós aprendermos a cultivar verdadeiras amizades.

Dom Carlos Lema Garcia

Vigário Episcopal para o Vicariato para a Educação e a Universidade