Espírito esportivo na jmj em Cracóvia e Olimpíadas no Brasil

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17/08/2016 - 14:00

Nos últimos dias de julho, dois milhões de jovens encontraram-se com o Papa na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Cracóvia. Agora, nosso país recebe pela primeira vez os Jogos Olímpicos. O que pode haver em comum entre esses dois grandes eventos? Durante a recente JMJ, o Papa Francisco falou das lições que recebemos dos esportistas.Vamos recordar algumas delas.

Em primeiro lugar, tratou da preguiça e do conformismo: “Preocupa-me ver jovens que desistiram antes do jogo; que ‘se renderam’ sem ter começado a jogar.” O Papa fez a seguir uma convocação a todos os jovens: “O tempo que hoje estamos vivendo não precisa de ‘jovens-sofá’, mas de jovens com os sapatos, ainda melhor, com os tênis calçados. Este tempo aceita apenas jogadores titulares em campo, não há lugar para reservas. O mundo de hoje pede-vos para serdes protagonistas da história, porque a vida é bela desde que a queiramos viver, desde que queiramos deixar uma marca.” Assim, Deus convoca cada um de nós para jogar no seu time. Fo- mos escolhidos, chamados por Deus pelo nosso nome. Ninguém fica de fora: todos temos uma missão a realizar na Igreja, na sociedade, na família, no nosso próprio ambiente. E os jovens, em sua maioria estudantes, devem ser protagonistas na sua escola, na sua faculdade, entre os seus amigos e companheiros.

Lembro que o Papa Francisco já havia feito essas comparações na vigília da JMJ do Rio de Janeiro: “Acho que a maioria de vocês ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros países, o fute- bol é uma paixão nacional. Sim ou não? Pois bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em um time? Deve treinar, e muito! Também é assim na nossa vida de discípulos do Senhor... Jesus nos oferece a possibilidade de uma vida fecunda e feliz. E nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna. Mas... Jesus pede que treinemos para estar ‘em forma’, para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida, dando testemunhos de fé”.

Para competir com valor, o esportista deve treinar com ritmo e disciplina. Por isso, a vida do atleta não é cômoda: terá que fazer testes físicos, atingir as condições para competir. Nos esportes coletivos (como na vida social), não adianta nada um atleta ser muito habilidoso se não souber jogar com o time, se não realizar sua função dentro do time. Aprimora seu desempenho técnico: nos treinos sem bola, com bola, na posição adequada. Aprende a realizar a função que o técnico espera, em conjunto com os demais jogadores.

Em razão da nossa fragilidade, em nossas vidas, como na vida dos atletas, acontecem os tropeços e as quedas. O Papa também nos falou disso: “Os habitantes dos Alpes, quando sobem as montanhas, entoam uma canção muito bonita que diz: ‘Na arte de subir, o importante não é não cair, mas não ficar caído’. Se tu és fraco, se tu cais, ergue um pouco o olhar para o alto... há a mão estendida de Jesus, que te diz: ‘Levanta-te, vem comigo’. ‘E se me acontece de novo?’ Faz o mesmo”.

Nós temos ao alcance da mão os recursos para sustentar as nossas lutas e nos levantarmos das quedas. O Papa nos disse na JMJ do Rio: “Conversem com Jesus. E se cometerem um erro, um deslize, não temam. ‘Jesus, olha o que eu fiz, o que faço agora?’ Mas sempre fale com Jesus, nos bons e maus momentos, não tema. Essa é a oração. Assim vai se treinando o diálogo com Jesus. E também por meio dos sacramentos, que fazem crescer em nós o amor de Jesus, por meio do amor fraterno, do saber ouvir, perdoar, do compreender, do perdoar, do acolher, do ajudar as demais pessoas, sem excluir nem marginalizar ninguém. Esses são os treinamentos para se seguir Jesus: a oração, os sacramentos e o serviço ao próximo.

Para sermos bons atletas na vida cristã, devemos seguir os conselhos do nosso “treinador”, Jesus: conversando com Ele em nossa oração, recebendo o seu perdão na Confissão, para nos levantarmos das quedas, e para fortalecermos a nossa alma com a Eucaristia. Assim estaremos em condições de corresponder ao que Deus e a Igreja esperam de nós.

 

Dom Carlos Lema
Bispo auxiliar da Arquidiocese;
e vigário episcopal para a educação e a universidade

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3115 -17 a 23 de agosto