Aqui está o seu remédio

A A
01/06/2016 - 15:00

No dia 15 de agosto de 1975, festa da Assunção de Maria ao céu, na cidade de HoChin Minh (Vietnã), o arcebispo de Saigon, Dom François-Xavier Van Thuan, foi convidado a comparecer no Palácio da Presidência. Foi declarado sumariamente preso. Saiu de casa vestindo a batina e levando o Terço no bolso. Era o primeiro dia do longo período de 13 anos em que esteve preso no seu País.

Quando me encarceraram em 1975 – rememorou o Bispo vietnamita – veio-me uma pergunta angustiosa: “Poderei celebrar a Eucaristia?” Somente um homem de Deus reage dessa forma. No momento em que é preso, não pensa em chamar seus advogados (talvez nem tivesse), nem em avisar alguém para mobilizar a opinião pública internacional sobre um abuso de autoridade etc. Não pensou nisso. Preocupou-se se teria condições de celebrar a missa.

O Prelado explicou que, ao ser detido, não lhe permitiram levar nenhum dos seus objetos pessoais. No dia seguinte, autorizaram-no a escrever à sua família para pedir um pijama, objetos de higiene pessoal etc: “Por favor, enviem- me o remédio para a dor de estômago”.

Os familiares entenderam muito bem o que queria e lhe mandaram uma garrafa pequena de vinho com uma etiqueta: ‘Remédio para a dor de estômago’. No meio da roupa, esconderam também algumas hóstias. O policial perguntou-lhe: “O Senhor tem problema de dor no estô-mago?”. “Sim”, respondeu o Monsenhor Van Thuan. “Aqui está o seu remédio”.

Aquele funcionário da prisão não  percebeu o alcance profundo das suas palavras. Aqui está o seu remédio! Com  aquele vinho, ele poderia ter presente Jesus, com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua  Alma e a sua Divindade. Aqui está o Pão da vida eterna e o Cálice da salvação.

Na Eucaristia está o nosso remédio também. É o alimento que nos revigora as energias. Está o remédio para todas as nossas carências, fraquezas, debilidades,  porque Jesus é médico das almas e dos corpos e pode curar as nossas enfermidades espirituais.

A festa de Corpus Christi comemora a presença de Jesus na Eucaristia. Ele permanece entre nós e se interessa pelas nossas coisas. Ele nos pergunta: como você está? O que o preocupa? O que você precisa? Como eu posso ajudá-lo? Nunca agradeceremos bastante a presença de Jesus na Eucaristia, na Santa Missa e no Sacrário. Uma forma prática de fazê-lo é entrar numa igreja e fazer uma visita ao Santíssimo. Assim fazem os apaixonados:  anseiam pelo momento de se encontrar.  Não basta falar pelo telefone. Nada substitui a presença da pessoa amada. Por que havia de ser diferente com Deus? Como nos preparamos? Qual a nossa expectativa para a hora da missa e da comunhão? Assistir à Santa Missa com frequência e fazer uma Comunhão bem feita, estando devidamente preparados.

A Igreja recomenda que os fiéis comunguem quando participam da Eucaristia, desde que se encontrem nas devidas disposições. E, se a consciência os acusar de pecados graves, tenham antes recebido o perdão de Deus no sacramento da Reconciliação, lembrando aquilo que São Paulo recordava à comunidade de Corinto: “Todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação” (1 Cor 11, 27-29).

Assim, a primeira condição para comungar é o estado de graça. Não basta um propósito genérico de se confessar logo que possível. Não nos enganemos pensando que basta o desejo de ser perdoados, mas é preciso receber a absolvição dos pecados no sacramento da Confissão.

 

Além do estado de graça, deve-se guardar jejum de uma hora e aproximar- se da Comunhão com a devoção e a fé de receber o próprio Deus.

Vamos procurar o nosso remédio na Eucaristia. Vamos renovar o nosso desejo de nos preparar bem para receber Jesus na Comunhão.

Dom Carlos Lema Garcia
Bispo auxiliar da Arquidiocese
e vigário episcopal para a Educação e a Universidade

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3104 - 01 a 07 de junho