Identidade de gênero e as instituições religiosas

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12/03/2018 - 15:15

Tema recorrente e um posicionamento da Igreja Católica sobre as discussões atuais. Como as atuais discussões sobre gênero tem impactado as instituições religiosas? Deus se Revelou. “E nós, que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco. DEUS É AMOR: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1, Jo 4, 16). Na Sagrada Escritura e dentro da tradição judaico-cristã encontramos Deus como Criador do Homem e da Mulher. O Livro Sagrado do Gênesis nos mostra, clara e nitidamente, a Criação e o amor de Deus por sua Obra. Judeus e cristãos compartilham da mesma referência escriturística sobre a bondade de Deus e aceitam o mesmo conceito de Criador-criatura. Como cristãos, sobretudo católicos, compreendemos Deus que nos criou para a felicidade. A pessoa humana foi criada para a alegria e o amor intensos. Como cristãos, sobretudo, identificamos a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica (LEVA, 2016).   Partimos do Amor Primeiro que é Deus, que se Revelou plenamente em Jesus Cristo como Uno e Trino. A Trindade Santa que é Una em Três Pessoas Divinas: Pai, Filho e Espírito Santo e Indivisível assegura o Pleno e Eterno Presente. Deus no Seu Plano de Amor prossegue o querer Trinitário criando o Homem e a Mulher completando, assim, sua maravilhosa e benfazeja Obra.

Estamos todos inseridos na Sociedade contemporânea e globalizada, plural e multiforme. Há muitos e diversos posicionamentos e infindáveis pensamentos e proposições. Diante do Tema: Ideologia de Gênero devemos polemizar ou propor via de Diálogo? Apresento a proposta de Deus em relação a criação e a dinâmica do ser criado, Homem e Mulher, na busca plena da felicidade como pessoa à luz da Sagrada Escritura.

Para nós, a PALAVRA DE DEUS é referência primeira e fundamental. O Gênesis, Livro Sagrado para Judeus e Cristãos, é a Fonte para entendermos a Criação. Nele buscamos dinamicidade em relação à criação e pautamos nossa postura na orientação assegurada e madura para o bem das pessoas. No Capítulo Primeiro do Livro do Gênesis, entre os Versículos 26 a 31, nos deparamos com Deus e o sexto dia da criação. Nesse dia o Altíssimo plasma o Homem e a Mulher. Ao findar o nascimento da humanidade Ele assegura que tudo foi muito bom. E da bondade de Deus nascemos para o que há de belo e bom. 

1- “Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança”. (Gn 1, 26). Somos criados à imagem e semelhança de Deus. Ele nos criou da sua Essência e nos quer sempre felizes.

2- “[...] para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão”. (Gn 1, 26). Somente o ser humano foi convidado, após o seu nascimento, a continuar a gestar o Obra da Criação. Deus nos capacitou de inteligência e vontade para dispor para o bem, sem ganância nem desperdício, sem alienação nem mutação.  

3- “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher os criou.” (Gn 1, 27). Assim diz a Sagrada Escritura. Deus nos criou Homem e Mulher. Nascemos de Deus e a ele devemos voltar. Nascemos do Eterno e para o Sempiterno regressaremos. Nossa casa primeira e última e a Eternidade.

4- “E Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sede fecundos’ [...]”. (Gn 1, 28). A fecundidade está intimamente ligada à proposta de santidade querida por Deus. Fecundidade, em última análise e bênção e graça.

5- “[...] e multiplicai-vos, enchei a Terra e submetei-a. Dominais sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão.” (Gn 1, 28). A todas as gerações pertencem às bênçãos e à benevolência do Altíssimo.  

6- “Deus disse: ‘Eis que vos dou, sobre toda a Terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem fruto com sua semente, para vos servirem de alimento.
E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os vegetais para alimento’. E assim se fez”. (Gn 1, 29-30). Compreendendo o Projeto de Deus para a Criação, percebemos um mundo sem fome e sem miséria. Na Sua infinita misericórdia somos sempre alimentados e saciados. Agindo de acordo com a vontade do Criador seremos sempre contemplados e beneficiados por seu Amor. Sem guerras e destruições, sem preconceitos e intolerância, viveremos sempre em paz e na concórdia.

7- “E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: o sexto dia”. (Gn 1, 31). O Fundamento da Bondade de Deus faz toda a diferença. Ao final da criação Deus nos abençoou com Amor Eterno.

Na Audiência Geral de 15 de abril de 2015, o Papa Francisco, orientando os católicos sobre a Família assim se pronunciou: “A catequese de hoje é dedicada a um aspecto central do tema da Família: o grande dom que Deus ofereceu à humanidade com a criação do homem e da mulher, e com o sacramento do matrimônio. [...] A diferença entre homem e mulher não é para a contraposição, nem para a subordinação, mas para a comunhão e a geração, sempre à imagem e semelhança de Deus. [...] o ser humano tem necessidade da reciprocidade entre homem e mulher. Quando isto não se verifica, as consequências são evidentes. Somos feitos para nos ouvir e ajudar reciprocamente. [...] A cultura moderna e contemporânea abriu novos espaços, outras liberdades e renovadas profundidades para o enriquecimento desta diferença. Mas introduziu inclusive muitas dúvidas e um grande ceticismo. Por exemplo, pergunto-me se a chamada teoria do gender não é também expressão de uma frustação e resignação, que visa cancelar a diferença sexual porque já não sabe confrontar-se com ela. Sim, corremos o risco de dar um passo atrás. Com efeito, a remoção da diferença é o problema, não a solução [...]”.

Como cristãos continuadamente valorizamos as Sagradas Escrituras. A Palavra de Deus é para nós como “[...] o sal da terra [...] a luz do mundo [...]” (Mt 5, 13-14). Ao mesmo tempo que fundamentamos nosso agir na constante presença da Trindade Santa buscamos respeitar posições outras, para um amadurecido diálogo e uma eficaz fraternidade entre pessoas, mesmo que de diferentes credos ou mesmo sem credo algum e com diversos posicionamentos e opiniões, mas que se entendam, se amam e se respeitam.

Mais que polemizar ou impactar, leva-nos a estudar de maneira consciente os Temas e nos sugere a refletir a conotação das palavras para ajudar eficazmente os leitores a tomar uma postura crítica e assegurar os valores e bem-estar pessoal. Posiciono-me como membro da Igreja Católica. A Sagrada Escritura leva-me a entender Deus na Palavra Revelada e propor a católicos e demais leitores o querer de Deus em nossas vidas. A Trindade Santa é amor e nos ama sempre.   Como Igreja Católica, sobretudo Santa e Apostólica, definida nos Concílios Ecumênicos de Niceia (325) e Constantinopla (381), fundamentalmente, ela preserva a Unidade. A Palavra do Papa Francisco é importantíssima. Ele fala à Igreja, representando todos os fiéis que seguem a Cristo Jesus. De fato, não há tema impactante. Existe, sim, responsabilidade ao propor uma discussão sobre quaisquer temas. Um discurso elaborado, mais que palavras bonitas e bem elaboradas as frases, nós atingimos pessoas que nos leem. E desta leitura procuram uma reflexão para suas vidas. Como católico, eu não posso fugir à Palavra de Deus, mas estou me dirigindo às pessoas, algumas que comungam comigo, outras que nem mesmo se interessam pelo tema, outras ainda que se mantem indiferentes. Todos os leitores são valiosíssimos. De maneira Ética todos devem ser valorizados como pessoa, assim como respeitados seus posicionamentos e atitudes.   Entendemos que não somos uma ideia de Deus. Fomos criados por Deus. O Altíssimo nos criou Homem e Mulher. Somos criados à sua imagem e semelhança, portanto, somos realidade. Não devemos possuir uma identidade pulverizada, insegura e instável em meio a tantas opiniões, mas precisamos alcançar a meta da felicidade plena com Deus.   

Pe. José Ulisses Leva.

Professor da PUC SP.