Grandes Amizades
Cheguei de Roma há uns dias, onde participei – juntamente com D. José Roberto Palau -
de um curso para Bispos nomeados recentemente em todo o mundo.
No dia 18 de setembro, tivemos a graça de sermos recebidos na Sala Clementina pelo
Papa Francisco.
Estávamos numa alegre expectativa do momento de ver, ouvir e cumprimentar o Papa.
Logo de início o Papa disse que já nos conhecia de algum modo, mas queria ver o nosso
rosto e auscultar os sentimentos do nosso coração: “depois de ter ouvido falar de vós,
posso ouvir pessoalmente o coração de cada um e fixar o meu olhar em cada um de vós
para divisar as numerosas esperanças pastorais que Cristo e a sua Igreja depositam em
vós. É bonito ver revelado nos rostos o mistério de cada um e poder ler aquilo que Cristo
escreveu neles.”
Sentíamos a sua profunda compreensão do Papa para conosco: “Estimados Irmãos, o
nosso encontro tem lugar no início do vosso caminho episcopal. Já passou o clamor
suscitado pela vossa escolha; foram superados os primeiros temores, quando o vosso
nome foi pronunciado pelo Senhor; e agora até as emoções vividas na consagração se
vão gradualmente depositando na memória e, de certa forma, o peso da responsabilidade
adapta-se aos vossos ombros frágeis.”
No final, cumprimentou-nos um a um.
Apesar de ser um grupo grande, o Papa Francisco dirigia a cada um com um sorriso
amável e carinhoso: como se tivesse todo o tempo disponível para nós.
Todos nos sentimos mais irmãos, mais unidos, sentindo fortemente a comunhão do
Colégio Episcopal.
Que alegria ter muitos irmãos e verdadeiros amigos!
Queria aproveitar para fazer uma pergunta: quantos amigos você e eu temos?
Em certa ocasião, um rapaz, diante dessa pergunta, respondeu sem titubear: 1262
amigos!
Como assim? Saiu naturalmente a pergunta.
Tenho exatamente 1262 amigos no facebook!
Todos esses serão verdadeiros amigos?
Eu queria hoje chamar a atenção de todas para a grande responsabilidade que nós temos
de defender o tesouro da amizade, porque no nosso mundo, materialista, superficial, frio e
individualista esse valor se está perdendo.
Pensando nas palavras do Papa, podemos encontrar alguns sinais da verdadeira
amizade. Vejamos.
Primeiramente, as grandes amizades são como uma conquista: conseguir uma amizade
verdadeira exige esforço, tempo.
Custa para fazer uma amizade, mas depois, o amigo verdadeiro não nos abandona
nunca.
As amizades que se rompem com facilidade não são autênticas.
Em segundo lugar, a amizade permite compartilhar sentimentos. Diante de um amigo
se pensa alto, pois é uma pessoa com quem podemos falar dos nossos sentimentos e
convicções mais interiores.
Alguém falava da fórmula matemática da amizade: quando há amizade verdadeira as
alegrias se somam e os problemas se dividem.
Saint Exupery ressalta outro sinal da amizade em seu livro “O pequeno príncipe”: somos
responsáveis por aqueles que cativamos.
Desinteressado: a amizade não pode ser interesseira.
Querer o bem da pessoa: procurar ajudá-la sabendo sacrificar o interesse pessoal.
Querer as pessoas tal como são, com os seus defeitos. Não existe nenhuma pessoa
perfeita. Vencer diferenças de temperamento.
Por último, um conselho exigente do Livro dos Provérbios ressalta outra característica da
amizade: “Melhor é a correção manifesta do que uma amizade fingida”,
Corrigir quando necessário. Uma conversa clara, aberta, exigente.
Ver a alegria do Papa Francisco, a sua atenção, o seu sorriso, serve de estímulo para
todos nós aprendermos a cultivar verdadeiras amizades.
Dom Carlos Lema Garcia