‘Para que todos sejam um’ (Jo 17,21)

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16/11/2016 - 13:30

Queridos irmãos e irmãs, há poucos dias, em sua rápida visita à Suécia, o Papa Francisco fez um gesto bonito e de grande importância para toda a Igreja. Ele esteve presente na abertura do ano comemorativo do quinto centenário da Reforma Protestante promovida por Lutero. Não foi uma atitude isolada, mas fruto do diálogo ecumênico entre católicos e luteranos. Esse encontro aconteceu na cidade de Malmö, na Suécia, e os presentes foram convidados a olharem não para si, mas para Jesus Cristo, único Senhor.

Como nos pede o Senhor, o diálogo aproximou católicos e luteranos no testemunho do amor e na prática do serviço às pessoas mais vulneráveis e indefesas, os pobres: “Tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes me ver”.

A Cáritas Internacional e a Federação Luterana Mundial assinaram conjuntamente uma declaração de acordos que busca desenvolver e consolidar a cultura de colaboração para a promoção da dignidade humana e da justiça social. Os frutos serão as milhares de crianças pobres que poderão crescer, estudar e recuperar a saúde, graças às ações conjuntas de católicos e luteranos.

O Papa Francisco recorda-nos da nossa responsabilidade para com a “Casa comum”, o planeta, alertandonos dos problemas ecológicos que são problemas de toda a humanidade e que afetam principalmente os mais pobres e desprotegidos. Lembra-nos que, como cristãos, devemos ser protagonistas da revolução da ternura, saindo ao encontro dos “descartados” e marginalizados da sociedade, tornando palpável a ternura e o amor misericordioso de Deus, que não descarta ninguém, mas a todos acolhe.

Em sua homilia pronunciada antes da oração ecumênica na Catedral luterana de Lund, o Papa Francisco nos lembrou da importância de estarmos unidos a Jesus Cristo para produzirmos frutos: “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele, esse produz muitos frutos”. Cristo é a videira e nós os ramos. É Deus mesmo quem cuida de nós e nos protege com seu imenso amor. Deixemo-nos comover pelo olhar misericordioso de Deus. Ele deseja que como ramos vivos, unidos ao seu Filho, Jesus, produzamos muitos frutos. Só assim, como em Malmö, poderemos olhar o passado e contar a história de maneira diferente. O nosso Batismo e a fé comum em Jesus Cristo exigem de nós conversão, cujos frutos poderão ser a superação das divergências e dos conflitos que dificultam a reconciliação entre irmãos.

Não podemos modificar o passado, mas podemos modificar o modo de recordá-lo e até mesmo transformá-lo. Dessa forma, a declaração assinada conjuntamente pelo Papa Francisco e pelo presidente da Federação Luterana Mundial, Reverendo Mounib Younan, expressa gratidão a Deus pelo caminho percorrido do diálogo e do respeito, que levou a superar diferenças e desconfianças e a aprofundar ainda mais o testemunho do Evangelho. Conclui-se que as razões que nos unem são maiores e mais fortes do que aquilo que nos separa. Juntos agradeceram os dons espirituais e teológicos recebidos pela Reforma, confessaram e lamentaram diante de Cristo o fato de católicos e luteranos terem ferido a unidade visível da Igreja, e, cientes de que visões teológicas foram acompanhadas por preconceitos e conflitos, instrumentalizando a religião, nos mostraram o verdadeiro caminho “para que todos sejamos um”, como grande desejo do coração de Cristo. Demos graças a Deus!

Dom Eduardo Vieira dos Santos

Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Sé

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Ed. 3128/ 06 a 22 de novembro de 2016