Tempo quaresmal e Campanha da Fraternidade

O mistério da Ressurreição é um dos pilares da fé católica. A Igreja de Cristo Jesus propõe, no tempo litúrgico da Quaresma, um momento forte e comprometedor com a mensagem apresentada pelo Salvador e Redentor de todo o gênero humano, Cristo Jesus, o Filho do Deus Altíssimo. Juntamente com o tempo quaresmal, a Igreja Católica no Brasil, desde a década de 1960, inseriu como prática da vida cristã a Campanha da Fraternidade. Sua primeira edição em âmbito nacional, em 1964, buscava a renovação interna da Igreja, tendo como tema “Igreja em renovação” e como lema “Lembre-se: você também é Igreja”. Em 2019, o tema escolhido pela Igreja foi “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27).

Três são as práticas quaresmais indicadas pela Igreja. O jejum, a esmola e a oração. As práticas propostas nos ajudam à conversão para bem celebrarmos a Páscoa cristã. Somada ao jejum e à esmola, a oração é fundamental para a vivência cristã. A oração proposta por Jesus Cristo é aquela mesma indicada aos seus discípulos. Jesus revelou-nos a oração tendo como destinatário o Pai que está nos céus. Sugeriu a seus discípulos que entrassem no quarto e fechassem a porta para rezar (cf. Mt 6,6).

Quando iniciamos a oração ensinada por Jesus Cristo (cf. Mt 6,9-13), percebemos que nos relacionamos não com o Pai que é meu, mas com o Pai que é nosso. Quando pedimos ao Pai o pão, não o pedimos em privacidade para mim e aos meus, mas sugerimos ao Pai nosso o pão que é também nosso.

Portanto, começamos a rezar na verticalidade. Com as mãos estendidas, voltamos os nossos braços para o alto. Quando rezamos e entendemos a oração ensinada por Jesus Cristo, voltamos os nossos braços e olhares para a horizontalidade, isto é, para as preocupações e ansiedades da humanidade. Entendemos que Cristo Jesus ensinou-nos a rezar na intimidade das nossas preocupações, sem nos esquecermos das necessidades de toda a humanidade. Sendo assim, a Campanha da Fraternidade deste ano nos faz entender profundamente o mistério da cruz. A cruz passa a ser a centralidade cristã. Eu dirijo para o alto os meus olhos e para o lado os meus braços. Dirijo-me para Deus, lembrando sempre de todos os homens e mulheres da Terra.

Quaresma é momento forte para eu me relacionar com Deus. É tempo oportuno para eu vivenciar as práticas que me são propostas pela Igreja à luz da Revelação. Está contida no Evangelho de Jesus Cristo a melhor maneira de fazer subir aos céus nossos pedidos (cf. Mt 6,1-6.16-18). Porém, Quaresma é, também, momento e tempo de olhar o outro, quem quer que seja, para que o bem possa ser feito. Seja, assim, a oportunidade que o Senhor está nos proporcionando para uma adequada preparação da Páscoa deste ano, tendo em vista a Páscoa definitiva: “E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa” (Mt 6,18).

Padre José Ulisses Leva é professor de História Eclesiástica na PUC-SP