Sobre a esperança

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14/10/2015 - 09:30

Em recente viagem a Cuba, poucos dias antes de seu pronunciamento nas Nações Unidas, o Papa Francisco se encontrou com jovens do Centro Cultural Padre Feliz Varela, em Havana. Os jovens constituem um dos auditórios preferidos de Francisco, que gosta de encontrá-los e conversar com eles. Não foi diferente em Cuba, onde ele se preocupou, em primeiro lugar, em convidar os jovens a sonhar. Mas daqueles sonhos mobilizadores, grandes, que valem uma vida. Sonhem e falem de seus sonhos, disse o Papa, dos seus grandes desejos de mundo novo e de vida para todos, porque os jovens sempre serão idealistas.

Nascida dos sonhos, a esperança. Os jovens são a esperança de seu povo. Essa esperança é mais que otimismo, porque é sofrida, trabalhada, fecunda e nos convoca à convivência, em verdadeira prática do que Francisco chama de "cultura do encontro" e na contramão da cultura do descarte que ele tem criticado duramente, como na Laudato si' ou em seus pronunciamentos.

Falando mais especificamente da esperança, o Papa lembrava aos jovens que, primeiramente, a esperança é feita de memória e discernimento. Esperança, ensina ele, é virtude de quem está a caminho e segue em direção ao futuro. Não se caminha na vida, simplesmente, mas se segue uma direção e se quer chegar a uma meta, aquela que ilumina o caminho e dá sentido à vida. Mas para se saber para onde se caminha é preciso saber quem somos e de onde viemos. Daí a memória, porque um povo sem memória é um povo sem esperança, e também o discernimento, que é a capacidade de ler a realidade de maneira clara e profunda, não determinada por preconceitos ou ideologias.

Mas esperança não se vive no isolamento. O caminho para o futuro é um caminho a ser percorrido em companhia, em coletivo. Isolamento, individualismo ou fechamento em si não trazem esperança mas sim a proximidade e o encontro com o outro. O caminho da esperança exige a cultura do encontro e do diálogo, na superação da exclusão, dos contrastes e dos enfrentamentos estéreis. As diferentes maneiras de pensar e as diversidades todas são uma riqueza para todos e um fator de crescimento. Por isso, o Papa pede que os jovens cultivem essa cultura do encontro, caminhando juntos para construir um país "com todos e para o bem de todos”.

Por fim, Francisco lembra que a esperança é solidária e conduz à solidariedade. É uma força que ajuda a superar qualquer obstáculo, ademais porque sem solidariedade não existe futuro para nenhum país, porque acima de qualquer outra preocupação deve estar o cuidado com o ser humano. As palavras do Papa em Cuba valem também para nós nestes tempos conturbados que atravessamos em nosso País. Cultivar o encontro e o diálogo pode ser um caminho melhor e mais promissor que os enfrentamentos sem sentido e a violência desmedida que temos conhecido.

Fonte: Edição nº 3072 do Jornal O SÃO PAULO – páginas 05