A política é necessária

A A
17/09/2015 - 15:45

A atual crise política que o País atravessa, ligada a uma crise econômica não sem importância, tem sido tratada pela imprensa e por vários setores da sociedade como uma questão de mão única, como se houvesse apenas uma saída: encontrar os culpados e destruí-los. Porque toda situação deve ter culpados, e eles são sempre os outros. Então, se escolhe o adversário, o culpabiliza e se faz campanha visando sua destruição, de preferência em execração pública. É a repetição da antiga figura do bode expiatório, o animal expulso da cidade carregando sobre si as maldades de seus habitantes. A cerimônia devia se repetir todos os anos, porque o bode morria lá fora, mas a maldade continuava cá dentro.

Tem-se orquestrado uma verdadeira demonização da atividade política, apresentando-a como responsável pelos problemas enfrentados pela população. Assim, todas as decepções e dificuldades da vida de cada um e da sociedade toda são culpa dos políticos e suas mazelas. Chega-se mesmo a insinuar que o País viveria melhor sem política, sem os políticos e sem partidos, como se isso resolvesse todos os problemas do mundo. A solução seria, segundo esse raciocínio, o estabelecimento de uma ditadura que não se submetesse às discussões dos partidos políticos e, simplesmente, impusesse sua vontade sobre todos. E há quem apoie descaradamente essa proposta.

Essa maneira de enxergar as coisas não é nova e costuma vir daqueles setores elitistas que se consideram melhores que os outros e, por isso mesmo, não precisam nem devem submeter-se a regras. Práticas do nazismo, do fascismo e de fundamentalismos atuais são exemplos claros. Muitos gritam contra a situação, mas esquecem de seus compromissos éticos: sonegam impostos, não respeitam leis de trânsito, furam filas, pulam catracas, não participam de discussões e se aproveitam das situações mais variadas para levar vantagem ou obter privilégios.

Já lembrava o Papa Francisco que a crise que se vive hoje é antropológica, isto é, um problema de compreensão do ser humano e de seu lugar no mundo. Uma falsa compreensão do humano faz pessoas pensarem que o importante é aproveitar a vida de todas as maneiras, enquanto que o fundamental para o ser humano é viver bem, o que é muito diferente.

A ação política permanece necessária para a solução das crises que atravessamos. Porque política se faz com diálogo e não com ofensas, com argumentos e não xingamentos, com debate e não imposição de pontos de vista. A ideia é encontrar os melhores argumentos para convencer o maior número de pessoas em vista da realização do bem-comum. Democracia não se faz sem debate, e seus princípios precisam ser afirmados e defendidos sob pena de se perder de vista o que significa civilização humana.

Fonte: Edição nº 3068 do Jornal O SÃO PAULO – página 05