Respeito responsabilidade e relação

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11/08/2017 - 09:30

Respeito, responsabilidade e relação: foi a “regra dos três R” indicada pelo Papa Francisco aos participantes no congresso internacional “Laudato si’ e grandes cidades” que decorreu no Rio de Janeiro, de 13 a 15 de julho. Organizado pela fundação “Antoni Gaudí para las Grandes Ciudades”  em colaboração com a arquidiocese brasileira, o congresso tem entre os temas principais agendados a água potável, a qualidade do ar e a eliminação de resíduos. Estas temáticas ambientais, aprofundadas à luz da encíclica do Pontífice sobre o cuidado da casa comum, foram relacionadas com os aspetos sociais, éticos e de gestão das metrópoles urbanas. A seguir, a nossa tradução da mensagem que o Papa enviou em espanhol por ocasião dos trabalhos na cidade carioca.

 

A Sua Eminência

Senhor Cardeal

LLUÍS MARTÍNEZ SISTACH

Arcebispo emérito de Barcelona

 

Amado irmão!

Saúdo-o cordialmente assim como a quantos participam no evento: Congresso Internacional “Laudato si’ e Grandes Cidades”.

Na Carta encíclica Laudato si’ faço referência a várias necessidades físicas que o homem de hoje tem nas grandes cidades e que precisam de ser enfrentadas com respeito, responsabilidade e relação. São três “R” que ajudam a interagir de maneira conjunta face aos imperativos mais fundamentais da nossa convivência.

O respeito é a atitude fundamental que o homem deve ter com a criação. Recebemo-la como dom precioso e devemos esforçar-nos para que as gerações futuras possam continuar a admirá-la e desfrutá-la. Devemos ensinar e transmitir este cuidado. São Francisco de Assis afirmava no seu Cântico das Criaturas: “Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã água, a qual é muito útil e humilde e preciosa e casta”. Estes adjetivos expressam a beleza e importância deste elemento, que é indispensável para a vida. Como outros elementos criados, a água potável e límpida é expressão do amor atento e providente de Deus por todas as suas criaturas, sendo um direito fundamental, que qualquer sociedade deve garantir (cf. Laudato si’, 30). Quando não se lhe presta a atenção que merece transforma-se em fonte de enfermidades e a sua escassez põe em perigo a vida de milhões de pessoas. É um dever de todos criar na sociedade uma consciência de respeito pelo que nos circunda; isto beneficia a nós e às gerações futuras.

A responsabilidade em relação à criação é a maneira como devemos interagir com ela e constitui uma das nossas tarefas primordiais. Não podemos ficar de braços cruzados, quando advertimos uma grave diminuição da qualidade do ar ou o aumento da produção de resíduos que não são adequadamente tratados. Estas realidades são a consequência de uma forma irresponsável de manipular a criação e chamam-nos a exercer uma responsabilidade ativa para o bem de todos. Além disso, verificamos uma indiferença em relação à nossa casa comum e, lamentavelmente, a tantas tragédias e necessidades que afligem os nossos irmãos e irmãs. Esta passividade demonstra a “perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade civil” (Laudato si’, 25). Cada país e governo deveria incentivar nos seus cidadãos maneiras de agir responsáveis para que, com criatividade, possam interagir e favorecer a criação de uma casa mais habitável e saudável. Se cada um fizesse o pouco que lhe compete na sua responsabilidade, muito se beneficiaria.

Observa-se nas grandes cidades, como também nas áreas rurais, uma crescente falta de relação . Independentemente da causa que o origina, o fluxo constante de pessoas gera uma sociedade mais plural, multicultural, que é um bem, produz riqueza e crescimento social e pessoal; mas faz também com que esta sociedade seja cada vez mais fechada e desconfiada.

A falta de raízes e o isolamento de algumas pessoas são formas de pobreza, que podem degenerar em guetos e causar violência e injustiça. Em contrapartida, o homem está chamado a amar e a ser amado, estabelecendo vínculos de pertença e laços de unidade entre todos os seus semelhantes. É importante que a sociedade trabalhe conjuntamente em âmbito político, educativo e religioso para criar relações humanas mais calorosas, que abatam os muros que isolam e marginalizam. Isto pode ser obtido através de agrupamentos, escolas, paróquias, etc., que sejam capazes de construir com a sua presença uma rede de comunhão e de pertença, para favorecer uma convivência melhor e conseguir superar tantas dificuldades. Desta forma, “qualquer lugar deixa de ser um inferno e torna-se o contexto duma vida digna” (ibid., 148).

Recomendo à intercessão da Virgem Santa, rainha do céu e da terra, estas jornadas de estudo e de reflexão. Que o seu conselho e guia oriente as decisões que forem tomadas a favor de uma ecologia integral que proteja a nossa casa comum e construa uma civilização cada vez mais humana e solidária.

Por favor, peço-vos que rezeis por mim; e rogo ao Senhor que vos abençoe.

Vaticano, 12 de junho de 2017

FRANCISCO

Fonte: L’OSSERVATORE ROMANO, Ano XLVIII, número 29 (2.474), quinta-feira 20 de julho de 2017, p. 03.