No cristão não há lugar para o egoísmo (Papa Francisco)

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13/08/2019 - 11:45

No cristão não há lugar para o egoísmo

«Não há lugar para o egoísmo na alma do cristão: se o teu coração for egoísta, não és cristão», mas alguém que procura unicamente a sua vantagem, frisou o Papa na audiência geral de quarta-feira, 26 de junho, na praça de São Pedro. Prosseguindo as catequeses sobre os Atos dos Apóstolos, o Pontífice meditou a propósito da narração da vida da comunidade primitiva entre o amor a Deus e o amor aos irmãos (cf. At 2, 42).

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!

O fruto do Pentecostes, a poderosa efusão do Espírito de Deus sobre a primeira comunidade cristã, foi que muitas pessoas sentiram o próprio coração trespassado pelo alegre anúncio — o querigma — da salvação em Cristo e aderiram livremente a Ele, convertendo-se, recebendo o batismo em seu nome e aceitando por sua vez o dom do Espírito Santo. Cerca de três mil pessoas começam a fazer parte daquela fraternidade, que é o habitat dos crentes e constitui o fermento eclesial da obra de evangelização. O fervor da fé destes irmãos e irmãs em Cristo faz da sua vida o cenário da obra de Deus, que se manifesta com prodígios e sinais através dos Apóstolos. O extraordinário faz-se ordinário e o dia a dia torna-se o espaço da manifestação de Cristo vivo!

O Evangelista Lucas narra-nos isto, mostrando-nos a Igreja de Jerusalém como o paradigma de todas as comunidades cristãs, como o ícone de uma fraternidade que fascina e que não deve ser mitificada, nem sequer minimizada. A narração dos Atos permite-nos olhar para dentro das paredes da domus onde os primeiros cristãos se reúnem como família de Deus, espaço da koinonia, ou seja, da comunhão de amor entre irmãos e irmãs em Cristo. Perscrutando no seu interior, podemos ver que eles vivem de uma forma muito específica: são «assíduos no ensinamento dos Apóstolos, na união fraterna, na fração do pão e nas orações» (At 2, 42). Os cristãos ouvem assiduamente a Didaqué, ou seja, o ensinamento apostólico; praticam relacionamentos interpessoais de alta qualidade (inclusive através da comunhão dos bens espirituais e materiais); fazem memória do Senhor mediante a “fração do pão”, isto é, a Eucaristia, e dialogam com Deus na oração. São estas as atitudes do cristão, as quatro caraterísticas de um bom cristão.

Contrariamente à sociedade humana, onde se tende a perseguir os próprios interesses, prescindindo ou até em detrimento do próximo, a comunidade dos crentes afasta o individualismo para favorecer a partilha e a solidariedade. Não há lugar para o egoísmo na alma do cristão: se o teu coração for egoísta, não és cristão, és um mundano, que só procuras a tua vantagem, o teu benefício. E Lucas diz-nos que os crentes permanecem juntos (cf. At 2, 44). A proximidade e a unidade são o estilo dos crentes: próximos, preocupados uns pelos outros, não para falar mal do outro, não, para ajudar, para se aproximar.

Portanto, a graça do Batismo revela a íntima união entre os irmãos em Cristo, que são chamados a compartilhar, a identificar-se com os outros e a dar, «de acordo com as necessidades de cada um» (At 2, 45), ou seja, a generosidade, a esmola, preocupar-se pelo próximo, visitar os doentes, ir ao encontro dos necessitados, de quantos precisam de consolação.

E precisamente porque escolhe o caminho da comunhão e da atenção aos carentes, esta fraternidade que é a Igreja pode levar uma vida litúrgica verdadeira e autêntica. Lucas diz: «Frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo» (At 2, 46- 47).

Enfim, a narração dos Atos recorda-nos que o Senhor garante o crescimento da comunidade (cf. 2, 47): a perseverança dos crentes na aliança genuína com Deus e com os irmãos torna-se força atrativa que fascina e conquista muitas pessoas (cf. Evangelii gaudium, 14), um princípio graças ao qual a comunidade de crentes de todos os tempos vive.

Oremos ao Espírito Santo a fim de que faça das nossas comunidades lugares onde receber e praticar a vida nova, as obras de solidariedade e de comunhão, lugares onde as liturgias sejam um encontro com Deus, que se torna comunhão com os irmãos e irmãs, lugares que sejam portas abertas para a Jerusalém celestial.

Papa Francisco

(Fonte: Edição 027, do jornal “L’osservatore Romano”, de 02 de julho de 2019, p. 12).