Fátima: a experiência do Evangelho

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09/05/2017 - 10:15

A presença de Maria na obra da Igreja tem muitas formas de expressão. Talvez nenhuma dessas expressões tenha maior impacto na vida dos fiéis do que aquela que se verifica nos santuários marianos espalhados pelo mundo. Maria atrai multidões de filhos que, uma vez nesses santuários, acabam se encontrando em torno do altar, na participação da Eucaristia. O raio de influência desses locais ultrapassa tudo o que se pode imaginar: renovados em sua fé, muitos, ao voltarem para casa, passam a ter mil novas histórias para contar. Quando essas histórias falam de Fátima, elas são particularmente encantadoras.

Pode-se dizer que lá tudo começou em 13 de maio de 1917 – portanto, 100 anos atrás. Os protagonistas dos fatos são o que poderíamos chamar de anti-heróis: Lucia, de 10 anos, Francisco, de 9, e Jacinta, de 7. O que se poderia esperar de pequenos pastores? O cenário não ajudava: interior de Portugal, numa desconhecida vila chamada Fátima; nem o que faziam chama a atenção: deixaram as ovelhas por uns momentos, para rezar o Terço, o Rosário.

Uma luz brilhante, de repente, começou a mudar suas vidas. Conheciam os problemas que as tempestades podiam trazer; por isso, decidiram ir embora. Mas não era tempestade: em cima de uma azinheira, viram uma “Senhora mais brilhante que o sol”. Também ela tinha um Terço na mão.

As crianças ouviram, então, um convite que as deixou surpresas: rezar muito e voltar àquele lugar durante os próximos cinco meses, sempre no dia 13 e àquela hora. “Depois lhes direi quem sou e o que quero”. Na última vez – a 13 de outubro – a mulher se apresentou: era a “Senhora do Rosário”. Queria quer ali fosse construída uma capela. Em seguida, as setenta mil pessoas ali presentes puderam testemunhar o cumprimento do milagre que havia sido prometido: o sol, assemelhando-se a um disco de prata, girava sobre si mesmo como uma bola de fogo, parecendo cair sobre a terra. A partir daí, Fátima não seria mais a mesma: anualmente, milhões de pessoas passariam a procurá-la. Em busca de quê?

 Os peregrinos de Fátima buscam ouvir, como que dirigida a si próprios, a mensagem da Mãe de Jesus: “Rezem o Terço todos os dias, para alcançar a paz para o mundo... Façam sacrifícios pelos pecadores, pois muitas almas vão para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas... Não ofendam mais a Nosso Senhor, que já está muito ofendido...”

Os peregrinos vão a Fátima para rezar. Muitos, antes, fugiam da oração, cansados. Ali descobriram que o que realmente cansa não é rezar, mas resistir a Deus. Rezando, perceberam que o Senhor não lhes pede coisas, nem o tempo, mas tudo, porque tudo é Dele.

Muitos chegam a pé, depois de imensos sacrifícios. Aprendem que, para Deus, o importante não é o que se faz, mas como se faz. Nesse sentido, a vida de Maria – isto é, a oferta que faz continuamente de seu coração ao Senhor – passa a ser um estímulo para eles.

Os que têm a graça de participar da vigília de um dia 13 – e falar desse dia, em Fátima, é referir-se, obrigatoriamente, a um dia 13 compreendido entre maio e outubro – jamais se esquecem da procissão luminosa, acompanhada do “Ave, Ave, Ave, Maria”; no próprio dia 13, é emocionante participar da celebração eucarística em frente ao Santuário ou do momento da despedida, quando a imagem volta à Capela das Aparições...

Fazer a experiência de Fátima é entrar no coração do Evangelho. Tendo Maria convivido com Jesus durante trinta anos, tendo ouvido Suas pregações e participado de perto de Sua Paixão, poderia ser diferente sua mensagem ali, onde apareceu a três pequenos pastores?

A mensagem de Fátima continua atual. Os apelos à conversão e à penitência, feitos por Nossa Senhora lá em Portugal, no início do século XX, conservam ainda hoje, depois de 100 anos, uma estimulante atualidade. “O convite insistente de Maria Santíssima à penitência não é senão a manifestação da sua solicitude materna pelos destinos da família humana, necessitada de conversão e de perdão” (Card. Sodano).

Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ

Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil

Fonte: Edição 1350 da Revista Mensageiro do Coração de Jesus, de maio de 2017, p. 5-6.