‘Este é o meu Filho Amado. Escutai o que Ele diz’!

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28/02/2018 - 12:00

Quaresma é tempo de conversão, de reconciliação e de perdão. A Palavra de Deus neste tempo litúrgico nos anima e nos encoraja a fazermos uma profunda experiência do amor de Deus por nós por meio do sacramento do Perdão ou da Reconciliação. Por conversão se entende mudar de comportamento, mudar de vida. Deixar de praticar o mal e tudo aquilo que não condiz com a fé cristã. Não basta apenas querer mudar, é preciso mudar mesmo e colocar em prática os ensinamentos do Evangelho. 

No episódio da transfiguração, lido no segundo domingo da Quaresma, o evangelista Marcos nos mostra que Jesus, ao tomar três de seus discípulos, conduzi- -los a um alto monte e transfigurar-se na presença deles, revela de modo antecipado a sua vitória sobre a morte, fruto do pecado e da infidelidade da humanidade (cf. Mc 9,2). Pedro, um dos três discípulos, diante da cena da transfiguração, interage com Jesus, mesmo sem saber o que dizer: “Mestre, é bom ficarmos aqui, vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias (Mc 9,5). Pedro reconhece Jesus como Mestre, Messias, porém não sabe o que dizer, pois, como os outros discípulos, ele estava com muito medo. O medo não é uma atitude cristã. Quem crê em Deus não deve ter medo, mas fé. 

A intervenção divina, manifestada na voz vinda da nuvem – “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz” (Mc 9,7) – nos revela o que Deus Pai quer de cada um de nós: quer que escutemos o seu filho Jesus e que nele creiamos.  Escutar Jesus é a missão de todo discípulo. Acreditar nele como filho muito amado de Deus e testemunhá-lo é o que se espera de todo homem e de toda mulher que se reconhece necessitado do amor misericordioso de Deus.

A Quaresma é este tempo litúrgico que a Igreja nos oferece, convidando-nos a escutar Jesus que nos fala na vida cotidiana, na Palavra, nos sacramentos, em particular no sacramento da Reconciliação, oferecendo-nos, gratuitamente, o seu perdão. Na vida familiar, comunitária e social, nem sempre somos sinais e testemunhas do perdão e do amor misericordioso de Deus por nós, manifestado na pessoa do seu filho Jesus. Nem sempre somos capazes de perdoar ou mesmo de acolher o perdão uns dos outros. Mágoas, ressentimentos e até mesmo ódio podem por anos a fio nos privar da escuta de Deus Pai e do seu filho Jesus. Podem nos impedir de viver a gratuidade e a alegria do perdão. 

A caminhada quaresmal nos convida a acolher Deus que vem ao nosso encontro no sacramento da Reconciliação ou Perdão dos pedados. Não precisamos ter medo, mas fé. Fé no poder do amor de Deus que nos perdoa sem nosso merecimento, sem exigir de nós sacrifícios, mas apenas que o acolhamos no seu filho Jesus. Nas pegadas dos três discípulos que contemplaram no alto da montanha, na cena da transfiguração, no rosto luminoso e vitorioso de Cristo, e também nós, no sacramento do perdão, podemos contemplar e conhecer o amor misericordioso de Deus por nós. Jesus, no sacramento do Perdão dos pecados, nos mostra a face amorosa de Deus, pois quem o vê, vê o Pai: “quem me viu, viu o Pai” (cf. Jo 14,9). Faz-nos ver e também ouvir a vontade de Deus a nosso respeito: “Este é o meu filho amado. Escutai o que ele diz” (cf. Mc 9,7). 

Escutar e aderir a Jesus, praticando os seus ensinamentos, é o caminho quaresmal que nos é proposto, capaz de superar todo ódio, toda violência e toda forma de injustiça. Os exercícios quaresmais da oração, do jejum e da esmola nos ajudam a viver melhor este tempo de conversão e de reconciliação. Como “cristãos, leigos e leigas, na Igreja e na sociedade, sal da terra e luz do mundo”; como religiosos e religiosas; como consagrados e consagradas; como diáconos, sacerdotes e bispos de uma igreja em saída, busquemos escutar e acolher a pessoa de Jesus Cristo, nos preparando bem para celebrar a Páscoa do Senhor, e juntos assumir o caminho sinodal de comunhão, conversão e renovação missionária em nossa querida Arquidiocese.

 

Dom Eduardo Vieira dos Santos
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo