Comentário do Evangelho de Corpus Christi 4 de Junho (Mc 14,12-16.22-26): Tomai e comei, isto é meu Corpo

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03/06/2015 - 10:00

No Oriente antigo, o sangue simbolizava a totalidade da vida de um ser, animal ou humano. Por isso, quando o sangue de um animal era ofertado a Deus, na verdade o que se ofertava era a vida da pessoa que fazia a oferenda.

O termo sacrifício significa “tornar sagrado”; portanto, quando o sacerdote colocava o sangue do animal sobre o altar, a vida da pessoa ofertante é que se tornava sagrada, ou seja, consagrada a Deus. A ideia de sacrifício não tinha a atual conotação de “realização de algo difícil ou penoso”, mas de santificação ou sacralização da vida.

Antes de derramar o sangue na cruz, Jesus fez de sua vida uma oferta a Deus e à humanidade. Por isso ele antecipa, no gesto profético da última ceia, o que se dará no momento culminante do dom de si mesmo, a morte na cruz. É por causa de uma vida inteira ofertada, a Deus e ao outro, que a morte de Jesus, cume dessa oferta, pode ser chamada de sacrifício. A vida inteira de Jesus é sacrifício, é uma vida consagrada, santificada. Jesus oferta a própria vida como nosso representante.

Sua obediência e fé integral nos substitui, já que não conseguimos ser obedientes e fiéis da mesma forma. Sua vida humana sem pecado nos liberta do pecado, sua ressurreição nos liberta da morte. Em tudo isso Jesus nos representa e nos substitui. Cessam daqui por diante os antigos sacrifícios de animais. O sangue, a vida ofertada da nova aliança é o que vigora doravante.

Também era comum na cultura antiga a concepção de que beber o sangue significava assumir a vida presente nele. Os povos vizinhos a Israel, na Antiguidade, costumavam beber sangue de animais porque acreditavam com isso assimilar as características do animal, como força, coragem, valentia. Por isso, o Antigo Testamento proíbe beber o sangue de animais. As palavras do Senhor: “Isto é meu corpo… isto é meu sangue”, “tomai e comei… tomai e bebei”, deveriam nos recordar de que nos compete assimilar em nossa vida as características da vida de Jesus.

Dessa forma, no Corpo e Sangue de Cristo vive e cresce a Igreja, com os fiéis continuamente se alimentando de amor, de fidelidade, e doação ao outro, de perdão e de todos os aspectos da vida de Jesus.

O Corpo e Sangue de Cristo são centro e sustentáculo da vida cristã. Por isso, quem deles se alimenta há que aceitar participar da doação de vida realizada por Cristo, em adesão à vontade do Pai e em doação ao próximo. Assim, por meio da eucaristia, os fiéis vivem o mistério da vida, morte e ressurreição de Cristo, celebrando agora a comunhão sem fim na glória eterna.

Fonte: Publicado originalmente na Edição nº 303, página 53 da Revista Vida Pastoral – Editora Paulus