Aqui está o seu remédio

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07/06/2016 - 10:30

No dia 15 de agosto de 1975, festa da Assunção de Maria ao céu, na cidade de Ho Chin Minh (Vietnã), o arcebispo de Saigon, Dom François- Xavier Van Thuan, foi convidado a comparecer no Palácio da Presidência. Foi declarado sumariamente preso. Saiu de casa vestindo a batina e levando o Terço no bolso. Era o primeiro dia do longo período de 13 anos em que esteve preso no seu País.

Quando me encarceraram em 1975 - rememorou o Bispo vietnamita - veio-me uma pergunta angustiosa: "Poderei celebrar a Eucaristia?". Somente um homem de Deus reage dessa forma. No momento em que é preso, não pensa em chamar seus advogados (talvez nem tivesse) nem em avisar alguém para mobilizar a opinião pública internacional sobre um abuso de autoridade etc. Não pensou nisso. Preocupou-se se teria condições de celebrar a missa.

O Prelado explicou que, ao ser detido, não lhe permitiram levar nenhum dos seus objetos pessoais. No dia seguinte, autorizaram-no a escrever à sua família para pedir um pijama, objetos de higiene pessoal etc: "Por favor, enviem-me o remédio para a dor de estômago”. Os familiares entenderam muito bem o que queria e lhe mandaram uma garrafa pequena de vinho com uma etiqueta: ‘Remédio para a dor de estômago’. No meio da roupa, esconderam também algumas hóstias. O policial perguntou-lhe: "O Senhor tem problema de dor no estômago?”. "Sim”, respondeu o Monsenhor Van Thuan. «Aqui está o seu remédio”.

Aquele funcionário da prisão não percebeu o alcance profundo das suas palavras. Aqui está o seu remédio! Com aquele vinho, ele poderia ter presente Jesus, com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua Alma e a sua Divindade. Aqui está o Pão da vida eterna e o Cálice da salvação.

Na Eucaristia está o nosso remédio também. É o alimento que nos revigora as energias. Está o remédio para todas as nossas carências, fraquezas, debilidades, porque Jesus é médico das almas e dos corpos e pode curar as nossas enfermidades espirituais.

A festa de Corpus Christi comemora a presença de Jesus na Eucaristia. Ele permanece entre nós e se interessa pelas nossas coisas. Ele nos pergunta: como você está? O que o preocupa? O que você precisa? Como eu posso ajudá-lo? Nunca agradeceremos bastante a presença de Jesus na Eucaristia, na Santa Missa e no Sacrário. Uma forma prática de fazê-lo é entrar numa igreja e fazer uma visita ao Santíssimo. Assim fazem os apaixonados: anseiam pelo momento de se encontrar. Não basta falar pelo telefone. Nada substitui a presença da pessoa amada. Por que havia de ser diferente com Deus? Como nos preparamos? Qual a nossa expectativa para a hora da missa e da comunhão? Assistir à Santa Missa com frequência e fazer uma Comunhão bem feita, estando devidamente preparados. 

A Igreja recomenda que os fiéis comunguem quando participam da Eucaristia, desde que se encontrem nas devidas disposições. E, se a consciência os acusar de pecados graves, tenham antes recebido o perdão de Deus no sacramento da Reconciliação, lembrando aquilo que São Paulo recordava à comunidade de Corinto: «Todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação" (1 Cor 11,27-29).       

Assim, a primeira condição para comungar é o estado de graça. Não basta um propósito genérico de se confessar logo que possível. Não nos enganemos pensando que basta o desejo de ser perdoados, mas é preciso receber a absolvição dos pecados no sacramento da Confissão.      

Além do estado de graça, deve-se guardar jejum de uma hora e aproximar-se da Comunhão com a devoção e a fé de receber o próprio Deus.  

Vamos procurar o nosso remédio na Eucaristia. Vamos renovar o nosso desejo de nos preparar bem para receber Jesus na Comunhão.                   

Fonte: Edição 3104 do Jornal O SÃO PAULO – página 05