Plenitude do tempo: o Natal desde o útero de Maria

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Publicado em: 15/12/2014 - 15:00
Créditos: Revista de Aparecida nº 153, página 8

A vinda de Jesus iniciou o “tempo messiânico”: manifestou-se o auge do amor salvador de Deus. Foi a “plenitude do tempo”, diz São Paulo em Gálatas 4,4. Isso aconteceu no seio de uma mulher. Deus, o Criador, se faz embrião, torna-se criatura humana. O útero da Virgem e Mãe do Messias prometido acolhe a “nova criação”. Nasceu Jesus, “homem novo”. A Palavra, ou seja, o inefável, o indizível (aquilo que é impossível de se falar) fez-se carne, para ser anúncio de felicidade total. Coisas da fé intrigando os limites de nossa compreensão! A sede da Palavra de Deus fez jorrar em Maria a fonte de água para a vida eterna (João 4,14). Aludir à água como fonte da salvação em sentido figurado é recurso literário frequente nos profetas bíblicos, inclusive nas referências aos tempos messiânicos. Deus aspergirá o povo da aliança com água pura… e lhe dará um coração novo (Ezequiel 36,25). “Tirarás água com alegria da fonte da salvação” (Is 12,3).

Apliquemos o símbolo da água ao mistério da vinda de Jesus. É sabido que no útero feminino o embrião humano fica envolvido em água, mergulhado nela. A medicina fala em “líquido amniótico”. Nadando nesse líquido, o embrião tem liberdade de movimento e é protegido de lesões mecânicas. A formação do corpo de Jesus passou por esse estágio. Ora, o sentido bíblico figurado dado à água pelos profetas do Antigo Testamento poderia ser estendido à gravidez de Maria, se relacionarmos o fato biológico com a revelação divina. “Ela ficou grávida por obra do Espírito Santo” (Mateus 1,18). O texto de Lucas tranquiliza o não entendimento da Virgem e lhe explica: “O Espírito Santo descerá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que vai  nascer será chamado Filho de Deus” (Lucas 1,35).

Divaguemos pela Palavra revelada no livro do Gênesis que poeticamente narra o poder de um Deus Criador: “No princípio Deus Criou o céu e a terra… O Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas” (Gn 1,1-2). Se Jesus é o “homem novo”, nova criação, Maria é a fonte da água onde Deus gerou e protegeu a vida humana do Verbo: sopro do seu Espírito e carne dela. Foi a cooperação maternal ao ministério de Jesus que nos deu a salvação no batismo da água e do Espírito Santo.

No seu perfil bíblico, Maria, lugar geográfico da Encarnação, é o primeiro santuário de Jesus. Tendo descido ao seio imaculado da Virgem, o Verbo comunicou-nos a vida divina. O tempo chegou à plenitude! No presépio de Belém, aconteceu o primeiro encontro com o Salvador, mas em todos os tempos o aconchego maternal de Maria continua sendo o espaço cálido e acolhedor do Natal para nós. “A quem tem sede será dado gratuitamente a beber da fonte da água viva”! (Ap 21,6).

Pe. Antônio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R.

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