Índios do Brasil premiados pela ONU

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“L’osservatore Romano”: Índios do Brasil premiados pela ONU
Publicado em: 18/07/2019 - 15:15
Créditos: Redação

Índios do Brasil premiados pela Onu

Reconhecimento conferido à associação “Kĩsêdjê” engajada em atividades sustentáveis

É a Associação indígena “Kĩsêdjê”, que envolve os índios brasileiros de Querência em projetos sustentáveis no Estado do Mato Grosso, a vencedora do Prémio equatorial de 2019. A cada dois anos, a ONU atribui esta honorificência às entidades que se distinguem pelo seu compromisso e desenvolvimento de soluções locais sustentáveis, quer do ponto de vista ambiental quer económico. O Prémio será entregue oficialmente em setembro próximo, numa cerimónia que terá lugar em Nova Iorque.

Provenientes da parte ocidental do Brasil, os índios vencedores foram indicados de um total de 847 candidatos de mais de 127 países. De modo específico, a comissão da ONU avaliou positivamente o projeto agrícola promovido pela associação na terra indígena de Wawi, outrora sob o controle dos latifundiários, em 1998 restituída às comunidades étnicas locais. Assim, as imensas extensões foram convertidas ao cultivo de uma árvore nativa do cerrado brasileiro (pequi), da qual se extrai um óleo comestível que tem vários benefícios para a saúde, pois é rico de carotenoides.

A Associação Kĩsêdjê realizou um projeto de produção de óleo, lançando mão de todas as comunidades indígenas locais. De outubro a dezembro, os frutos de pequi são recolhidos pelos indígenas, reunidos em mutirão, enquanto alguns deles procuram encontrar outras áreas designadas para a colheita. Uma vez recolhidos, os frutos são cortados para separar a polpa e a semente e, por último, fervidos para a extração do óleo, que é decantado e filtrado por vários dias, antes de ser engarrafado.

Além de envolver a comunidade da ecorregião que gravita em volta da bacia do rio Pacas, o projeto tem como um dos seus objetivos o respeito pelo ecossistema e a sustentabilidade do rendimento. A produção de óleo de pequi aumentou de modo considerável nos últimos anos: com efeito, só em 2018 a Associação Kĩsêdjê produziu cerca de 315 litros de óleo, e este ano o óleo produzido pelos índios será exportado para os EUA, através de uma companhia alimentar.

Há muito tempo a ONU está a trabalhar pelo reconhecimento das atividades das comunidades indígenas que, precisamente por visar a sustentabilidade, podem representar um modelo virtuoso nas cadeias de produção industrial. Portanto, para a ONU as atividades indígenas são um património inestimável que deve ser protegido, juntamente com os direitos das mesmas populações. Tudo isto acontece enquanto a área amazónica corre o risco de desflorestação por causa de cultivos intensivos e projetos ligados a um turismo invasivo. Segundo os dados apresentados pelo Projeto para a monitorização satelitar do desmatamento legal na Amazónia (Prodes), em 2018 os agricultores desflorestaram mais de 6.200 hectares na ecorregião amazónica. A ONU continua a engajar-se na proteção dos enclaves étnicos ameaçados, através de iniciativas como o apoio à promoção de 2019 como o Ano internacional das línguas indígenas, que tem como finalidade valorizar a herança indígena como riqueza universal.

(Fonte: Edição 025, do jornal “L’osservatore Romano”, de 18 de junho de 2019, p. 14).