Aos 50 anos, Paróquia Imaculado Coração de Maria é testemunha da história paulistana

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Com 100 anos de história, Paróquia celebra 50 anos de instituição
Publicado em: 16/06/2015 - 15:45
Créditos: Edição nº 3055 do Jornal O SÃO PAULO – página 21

A Paróquia Imaculado Coração de Maria (rua Jaguaribe, 735, Vila Buarque), que celebra a festa de sua padroeira no sábado, 13 de junho, também comemora em 2015 os 50 anos de sua instituição como paróquia. Porém, sua historia tem mais de 100 anos e está fortemente ligada às origens da cidade de São Paulo.

Localizada na Vila Buarque, na regiao central, a igreja começou a ser construída em 1897, em função da demolição da Igreja do Pátio do Colégio que, em 13 de março de 1896, havia sofrido um desabamento em decorrência de uma forte chuva, sendo inteiramente demolida dias depois. Parte da verba utilizada na construção da Igreja Imaculado Coração de Maria, veio da indenização que o Estado pagou à então Diocese de São Paulo, pela demolição do templo erguido no local da fundação da cidade.

Do santuário à paróquia

Junto com o apoio do governo, foi feita uma campanha intensa para a construção da igreja, coordenada pelos Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos), que atuam na Paróquia até hoje. “Muitos dos colaboradores da época hoje dão nome a ruas do bairro, como Marquesa de Itu, Baronesa de Tatuí, Baronesa do Jaraguá, Dona Veridiana Prado, Dr. José Nogueira Jaguaribe (que dá nome à rua da igreja e foi quem fez a doação do terreno para a construção). Tanto que surpreende o fato de o templo ter sido construído em apenas dois anos, sendo aberto ao público em 1899”, explicou o Pe. Brás Lorenzetti, atual pároco.

O lançamento da pedra fundamental do templo aconteceu em 13 de março de 1897, pelo então bispo diocesano, Dom Joaquim Arcoverde, durante as comemorações do terceiro centenário de morte de São José de Anchieta. O projeto arquitetônico foi desenhado pelo professor Tiziano Zuchetta, escultor e arquiteto. O mestre de obras foi o italiano João Pugliese e o engenheiro-chefe e fiscalizador das obras, Francisco Carlos da Silva.

De 1899, quando foi aberta oficialmente ao público, até 1965, quando foi instituída paróquia, a Igreja Imaculado Coração de Maria tinha o título somente de santuário. Até 1970, a igreja abrigou, na capela do Santíssimo, uma parte do altar-mor da Igreja do Pátio do Colégio, bem como os restos mortais do índio Tibiriçá, que depois foram transladados para a cripta da Catedral da Sé.

Tibiriçá era cacique da tribo que habitava a regiao da Vila de São Paulo, e se converteu ao Cristianismo. Seu Batismo está retratado em uma das pinturas do teto da igreja. “São um conjunto de detalhes que hoje parecem desconexos, mas, na verdade, têm ligação com o começo da historia da cidade de São Paulo”, disse o Pároco, que aproveitou para desmentir uma informação que se popularizou de que a Igreja Imaculado Coração de Maria teria sido construída para substituir a antiga Igreja da Sé no centro da cidade. “Essa informação não procede. Esta igreja tem ligação , sim, com o Pátio do Colégio”.

Presentes de aniversário: restauro das obras de arte e do órgão de tubos

A Paróquia está celebrando o jubileu de outro de diferentes maneiras. Uma delas é conclusão do restauro das obras de arte do interior da igreja, considerada uma das mais belas da cidade, chegando a descobrir, em alguns pontos, a pintura original do templo. Também foi restaurado o órgão com 1170 tubos, pesando cerca de 5 toneladas, fabricado na França, em 1881, e trazido ao Brasil, em 1906.

“O órgão já havia passado por uma grande reforma em 1954, quando sofreu uma transformação, recebendo alguns acréscimos. Mas agora, está totalmente restaurado, uma vez que foi consumido quase que 50% de sua estrutura pelos cupins”, contou o Pároco. Para marcar o restauro do órgão e da igreja, na semana que antecedeu o aniversário da Paróquia, houve uma série de apresentações artísticas, que continuam com as “Quintas musicais”, às quintas-feiras.

No dia 31 de maio, Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, presidiu a missa solene. A festa da padroeira foi celebrada no dia 13 de junho, com missas às 08h e às 16h.

‘Que o templo seja uma casa de todos’

Ao longo dos 116 anos de história e do cinquentenário de atividades paroquiais, a Paróquia acompanhou as transformações da cidade, especialmente dos bairros de Santa Cecília e Higienópolis. Atualmente, enfrenta vários desafios pastorais. “Nosso maior desafio é fazer com que este templo seja uma casa de todos, não de um grupo, de uma classe social específica. Mas que seja, de fato, um espaço para todas as pessoas”, afirmou o Pe. Brás, que conta com a ajuda de dois vigários paroquiais, além da colaboração dos muitos sacerdotes claretianos que residem nas proximidades da igreja.

A Paróquia desenvolve, ainda, atividades de âmbito social, por meio do Centro Social e Promocional Paulo VI. No campo cultural e catequético, oferece oficina de música para crianças, adolescentes e famílias, além de atividades relacionadas com estudos bíblicos. “Buscamos desenvolver atividades diversificadas, além daquelas mais tradicionais, para que as pessoas possam vir aqui, se sentir em casa e participar”, explicou o Pároco, lembrando que é por isso que na porta da igreja há a inscrição “Refúgio dos pecadores”. “A igreja é refúgio de todos nós. Essa é a inspiração pastoral que nos move”, concluiu.

Fernando Geronazzo