O coração do discípulo missionário

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01/10/2015 - 08:00

                 Jesus reunia, frequentemente, seus discípulos e os orientava sobre como viver a Palavra e ser fiel ao projeto de amor do Pai eterno. Havia muitos discípulos que O escutavam com alegria, mas nem todos tinham a intenção de transformar essa escuta em atitudes novas no seu viver cotidiano e no seu agir como discípulos missionários.

                Conhecendo tal ambiguidade no meio de Seus discípulos, Jesus oferece um critério de discernimento para definir quem está no caminho certo do discipulado missionário e quem precisa de forte conversão, utilizando estas palavras: “a boca fala daquilo que o coração está cheio” (Lc 6,45). Pela boca, pela palavra e pelas atitudes do discípulo missionário, vamos descobrir do que está cheio o seu coração.

Pode ser que o coração esteja cheio de tristeza.  Diz o Papa Francisco que “O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem” (EG 2).

                Da boca de um discípulo missionário com o coração mesquinho e comodista não ouvimos o anúncio de Jesus Cristo, mas o lamento e as desculpas para não nos dedicar à evangelização; quando convidamos para um ministério na Comunidade, ouvimos o não, ou o que é pior: há fiéis que trocam de paróquia para não se comprometer. E quando falamos de missão, escutamos com tristeza as mesmas frases: já fizemos isto há vinte, dez ou cinco anos e não obtivemos “resultado satisfatório”.  Ouvimos essa frase inclusive de sacerdotes e diáconos. O coração já está cheio, não há lugar para uma resposta alegre ao amor de Deus que convoca continuamente para a missão.

                O Papa Francisco fala do grande tesouro da Igreja que são os discípulos que têm coração missionário: “É o batizado que se faz «fraco com os fracos (...) e tudo para todos» (1Cor 9, 22). Nunca se fecha, nunca se refugia nas próprias seguranças, nunca opta pela rigidez auto defensiva. Sabe que ele mesmo deve crescer na compreensão do Evangelho e no discernimento das sendas do Espírito; e assim não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada” (EG 45).

                   São leigos e leigas, consagrados e consagradas, diáconos e sacerdotes, que falam da alegria de ter encontrado Jesus e como Jesus preencheu seu coração do amor de Deus. Assim, com o coração cheio de amor, transborda a Missão: falam de Jesus que nos perdoa porque nos ama; comprometem-se nas pastorais, movimentos e serviços; são catequistas que vão à procura das crianças para a catequese e não esperam na secretaria da Igreja, porque sabem da importância de sair ao encontro; são jovens que evangelizam outros jovens com alegria; levam o amor e a misericórdia de Deus nas ruas e casas, testemunhando que o pecado que tanto nos aflige pode ser vencido pelo perdão e pela misericórdia de Deus.

               Do coração missionário surge o compromisso com a missão, hoje: falar de Jesus com novas atitudes e novas maneiras, de forma criativa e entusiasmada, mesmo que tenhamos vivido experiências pastorais que pareceram infrutíferas no passado. Em seu coração e em sua ação a causa missionária se torna a primeira de todas as causas.