Igreja é uma vocação

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27/07/2016 - 14:30

Nas proximidades do mês de agosto, costumamos dar mais atenção à reflexão sobre o tema vocacional. Para não fugir da regra, quero tratar desse tema, porém aproveitando uma perspectiva apresentada pelo Beato Paulo VI na audiência geral de 17 de novembro de 1971, quando ele tratava do tema Igreja. Escolheu como temática da audiência geral “A Igreja é uma vocação”. Aqui, apresento uma síntese dessa belíssima catequese que nos leva a essência do ser Igreja, assembleia de convocados, vocacionados.

Na ocasião, perguntava o Beato Paulo VI: “Que significa Igreja? A curiosidade despertada por essa pergunta refere-se, agora, à etimologia da palavra: Igreja, na linguagem bíblica, significa uma assembleia convocada, de caráter religioso. É esse o seu significado desde o Antigo Testamento. Cristo tornou seu esse vocábulo e atribuiu-lhe um sentido próprio: ‘a minha Igreja’ (Mt 16,18) ”.

O Santo Padre comentou com simplicidade, naquela ocasião, que a Igreja nasceu de uma vocação, de uma vocação divina e as comunidades presentes no Novo Testamento tinham clara compreensão de terem sido chamadas: “Comecemos pelos Apóstolos”, dizia ele. “Foi Jesus quem os reuniu, chamando cada um deles: ‘Vinde após Mim’ (Mt 4, 19-22; cfr. 9,9; Jo 21,19). Não se associaram por iniciativa própria; foram escolhidos pelo próprio Cristo, que um dia lhes disse: ‘Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi...’ (Jo 15,16 ss.; Lc 6,13). São Paulo usa frequentemente esse conceito de voca- ção, como um conceito constitutivo da Igreja primitiva (cfr. Rm 8,30; Gl 1,6; 1 Ts 2,12 etc.). E o mesmo faz São Pedro (cfr. 1 Pd 1,15; 2,9; 5,10; 2 Pd 1,3) ”.

A consciência vocacional da Igreja gera vida de comunidade: “As pessoas que a acolhem são convocadas, juntamente com outras, também fiéis, e formam imediatamente uma comunidade, a Igreja, a sociedade dos ‘chamados a ser de Jesus Cristo’ (Rm 1,6). Quem foi chamado não permanece só, isolado, autônomo, mas é inserido, ‘ipso facto’, como membro de um corpo, o Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja (cfr. Cl 2,19; 3,15; Ef 4,6) ”.

Na Igreja, insiste o Beato Paulo VI, as pessoas encontram o sentido da vida, o porquê viver; ela dá uma finalidade e um mérito à vida: o Reino dos Céus. Por esse motivo, é a geradora das vocações, e, podemos dizer, o “lugar” para as pessoas que andam à procura de uma finalidade pela qual valha a pena viver, buscar, amar, agir, sofrer e morrer.

No entanto, muitos homens e mulheres de nosso tempo não ouvem a voz de Cristo, não buscam a Comunidade, não se sentem convocados, e, infelizmente, não encontram o sentido para sua vida e o lamento de Jesus continua: ‘Se neste dia tivesses conhecido, tu também, O que te pode trazer a paz! Mas isto ficou oculto aos teus olhos’ (Lc 19,42).

Como Igreja, assembleia de vocacionados, cabe a nós hoje, em nome de Cristo, formar uma cultura vocacional no ambiente em que vivemos, porque todos são convocados e precisam ouvir, claramente, a voz do Pastor e da Igreja, o mesmo convite doce e decisivo: vem!

Dom Sergio de Deus Borges

Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Ed. 3112/ 27 de julho a 2 de agosto de 2016