Ius ad verbum

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31/08/2017 - 10:15

Os direitos fundamentais do fiel são exigências de justiça e que devem ser respeitados e promovidos em toda a vida e atividade da Igreja. A celebração do mês da Bíblia está em sintonia com essa realidade de promoção dos direitos dos fiéis, presente no Código de Direito Canônico, em seu cânon 213: “Os fiéis têm o direito de receber dos Sagrados Pastores os auxílios hauridos dos bens espirituais da igreja, sobretudo da Palavra de Deus e dos Sacramentos”.

Os fiéis têm o direito de receber dos Sagrados Pastores os auxílios da Palavra de Deus. Isto quer dizer que a Igreja tem o dever de tornar acessível a Palavra aos fiéis, com os meios que dispõe na ação evangelizadora e pastoral. 

A promoção do direito dos fiéis à Palavra de Deus não se esgota com uma campanha de Bíblias para que cada fiel tenha uma Bíblia em casa. É um passo importante cada fiel ter sua Bíblia, porém é muito mais importante, como disse o Papa emérito Bento XVI, “educar o povo na leitura e na meditação da Palavra para que ela se converta em seu alimento e para que, por experiência própria, vejam que as palavras de Jesus são espírito e vida (cf. Jo 6,63)” (DA 247). Para comprovar o afirmado, é suficiente fazer uma breve enquete na Igreja ou nas ruas da cidade sobre quantos têm a Bíblia em casa. A maioria dirá que a tem. Porém, se fizermos uma segunda pergunta de quantos leem a Bíblia com frequência, certamente a resposta não será unânime, nem mesmo na Igreja. As pessoas têm a Bíblia, mas não têm um método para torná-la companheira e alimento do dia a dia. 

É necessário ensinar as pessoas a lerem a Bíblia, terem gosto pela sua leitura. Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Evangelii Gaudium , o Papa Francisco sugere o método de leitura espiritual da Palavra de Deus ou ‘Lectio divina’ como caminho para que a Palavra passe a fazer parte do cotidiano. Assim o Santo Padre ensina: “Consiste na leitura da Palavra de Deus num tempo de oração, para lhe permitir que nos ilumine e renove.... Na presença de Deus, numa leitura tranquila do texto, é bom perguntar-se, por exemplo: ‘Senhor, a mim que me diz este texto? Com esta mensagem, que quereis mudar na minha vida? Que é que me cansa neste texto? Porque é que isto não me interessa?’; ou então: ‘De que gosto? Em que me estimula esta Palavra? Que me atrai? E porque me atrai?” (EG 152). 

Assim, seguindo o método da leitura orante, a Palavra de Deus se tornará fonte de vida e de espiritualidade, e o fiel poderá exercer o direito à Palavra no seu verdadeiro significado. Por esse método, a Palavra de Deus torna-se não só uma boa nova para a vida privada das pessoas, mas uma companheira de viagem, mesmo para as famílias que estão em crise ou imersas em alguma tribulação, mostrando-lhes a meta do caminho; tornar-se-á, também, um critério de juízo e uma luz para o discernimento dos vários desafios que têm de enfrentar os cônjuges e as famílias nos dias atuais (Cf. AL 252). 

No mês de setembro, vamos promover o direito à Palavra – ius ad verbum – partilhando, se sou líder na Comunidade, buscando, se sou participante da Comunidade, um método para iniciar-se neste sublime caminho de escuta obediente da Palavra de Deus. 

Dom Sergio de Deus Borges
Bispo Auxiliar  da Arquidiocese na Região Santana