Um estilo de vida

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23/11/2016 - 14:45

Na solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, o Papa Francisco encerrou o Jubileu extraordinário da Misericórdia, com sentimentos de gratidão à Santíssima Trindade por nos ter concedido este tempo extraordinário de graça.

O Ano Santo da Misericórdia, que se iniciou no dia 8 de dezembro de 2015, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, foi um tempo oportuno para nos aproximarmos com confiança do Senhor, que é rico em misericórdia e derrama em abundância sua graça e seu amor sobre aqueles que a Ele recorrem com o coração sincero.

Em nossa Arquidiocese, seis igrejas tornaram-se Santuários da Misericórdia com celebrações da Santíssima Eucaristia e uma multidão de pessoas que voltaram a experimentar, através do sacramento da Confissão, a riqueza da Sua misericórdia. Poder confessar os pecados é um dom de Deus, é uma dádiva, é obra de Deus, disse o Papa Francisco. Com o auxílio dos sacerdotes, fomos tocados com ternura pelas mãos de Deus e abrimos o coração, sem receio e sem medo, seguros de sermos acolhidos no coração transbordante de amor, que é próprio de nosso Deus e Senhor Jesus Cristo.

Também foram maravilhosas as peregrinações às igrejas com uma Porta Santa. Quantas pessoas, com sol ou chuva, entrando pela Porta Santa, suplicando ao Senhor, como o salmista: “Faze morada em meu coração aflito, liberta-me das minhas angústias. Presta atenção ao meu sofrimento e fadiga, e perdoa todos os meus pecados” (Sl 25). Nas peregrinações, ao passar pela Porta Santa e atender às orientações da Igreja, recebemos indulgência plenária em nosso favor ou em favor de algum parente, amigo ou familiar já falecido; é a misericórdia que se torna indulgência do Pai, que, através da Igreja, alcança o pecador perdoado e o liberta de qualquer resíduo das consequências do pecado, fortalecendo-o para agir com caridade e crescer no amor (cf. MV 23).

O ano jubilar terminou, mas a misericórdia de Deus não cessa, é como o orvalho da manhã, todos os dias volta a regar a terra. O Papa Francisco pede que o caminho da misericórdia continue a ser aberto por nós: “Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas, levando-lhes a bondade e a ternura de Deus! A todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós” (MV 5).

Imitando nosso Deus e Senhor, a misericórdia não pode cessar em nossa vida e nas nossas comunidades. Devemos fazer da misericórdia um estilo de vida, para que, na cultura da indiferença, nossas opções sejam justas, corretas, cheias de piedade, empatia compaixão e misericórdia, extraídas do poço da oração. Assim, a misericórdia pode e deve transformar-se em fundamento de uma nova cultura de vida, da Igreja e da sociedade (cf. Kasper, W., “A Misericórdia”, 106).

Por fim, olhemos para aquela que fez da misericórdia uma opção de vida: Santa Faustina. Em uma oração de 1937, ela ensina que todos podem fazer da misericórdia um estilo santo de vida: “Tu mesmo me ordenas que me exercite em três graus de misericórdia. Primeiro, a ação misericordiosa, de todo o tipo. Segundo, a palavra misericordiosa: o que não sou capaz de levar a cabo como ação deve acontecer por meio de palavras. Terceiro, a oração: no caso de eu não poder mostrar a misericórdia com fatos nem com palavras, sempre posso recorrer à oração. Que a minha oração chegue inclusive onde não estou corporalmente presente. Ó meu Jesus, transforma-me em Ti, que tudo podes” (Santa Faustina. In. Kasper, W., 180).

 

Dom Sergio de Deus Borges

Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Ed. 3129/ 23 a 29 de novembro de 2016