‘Homem e mulher, os criou’

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06/01/2016 - 14:15

O livro do Gênesis sublinha que tanto o homem quanto a mulher foram criados à imagem de Deus. Com essa afirmação fundamental se evidencia que os dois foram igualmente desejados por Deus e que a dignidade deles de imagem e de pessoa humana é, nos indivíduos de ambos os sexos, a mesma. Dado que Deus a quis, essa distinção é boa. O ser é humano necessariamente sendo homem ou sendo mulher.

Deus não é, evidentemente, nem homem nem mulher. Dele, porém, provêm as qualidades e as perfeições que caracterizam tanto o homem quanto a mulher. Uma vez que o masculino e o feminino são, em sua distinção e igual dignidade, participação no ser perfeitíssimo de Deus, não há nada de estranho, portanto, que, na Bíblia, Deus apareça com traços masculinos e femininos, de mãe, de esposo, de pai. Na Virgem Maria, temos um ícone dessa “maternidade”, e, portanto, desses traços femininos de Deus.

O homem e a mulher não foram criados somente juntos, mas também um para o outro. O livro do Gênesis nos mostra essa verdade. O homem, reconhecendo a mulher como carne da sua carne, descobre-a como um ser com o qual está unido por um vínculo que depende do próprio desígnio divino.

Por isso, o homem e a mulher são feitos um para o outro. Entendamos bem: o homem e a mulher, considerados em si mesmos, não são incompletos. No seu ser pessoal, inteligente e livre, cada um deles tem uma vocação irremissível.

Somente se os considerarmos como pessoas no senso pleno da palavra (na sua autopossessão e na sua capacidade de se doar) tem sentido o dom de si mesmos que o homem e a mulher se fazem reciprocamente no Matrimônio. Com essa união, eles formam “uma só carne”, não no senso de que o ser pessoal deles desapareça e seja absorvido em uma unidade superior, mas no senso de que a personalidade de cada um deles recebe dessa união uma nova conotação. Em virtude dessa união, podem transmitir a vida humana e cooperam de maneira única com a obra do Criador. Com efeito, não há maior cooperação na obra criadora do que aquela que se realiza na procriação.

Na criação do homem e da mulher, encontramos o núcleo essencial e uma expressão altamente qualificada da sociabilidade humana.

O homem e a mulher receberam o encargo de dominar a terra e o de crescer e de se multiplicar. Naturalmente esse domínio não pode ser feito sem a referência ao Criador. Esse domínio deve levar em conta as outras criaturas, que servem certamente o homem segundo o desígnio de Deus, mas das quais o homem não é patrão. Não há somente a preocupação pelos outros seres. O homem deve também zelar pelas gerações futuras.

Dom Julio Endi Akamine
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa;
nomeado arcebispo de Sorocaba (SP)

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3083 - 06 a 12 de janeiro