Dar pão a quem tem fome

A A
17/03/2016 - 11:45

Durante o Jubileu extraordinário da Misericórdia, somos convidados a praticar mais intensa e conscientemente as obras de misericórdia. Convido você a aprofundar a obra de misericórdia corporal: dar pão a quem tem fome.

A primeira coisa que temos que ter clara é que fome não deve ser confundida com apetite. Antes de tomar a refeição, temos apetite. Fome é quando temos vontade de comer, mas não temos o que comer. Fome é a experiência antecipada da morte.

Não há como não sermos afetados por essa dolorosa chaga da fome no mundo: hoje vão morrer de fome aproximadamente 40 mil pessoas! Tomar consciência dessa tragédia humana, mesmo que não resolva o problema na sua totalidade e na sua gravidade, ao menos pode aliviá-lo um pouco.

Nesse sentido, vejamos o que o Papa Bento XVI, na Encíclica Caritas in Veritate, 27, escreveu em 2009. Notem como é atual e urgente o que ele diz:

“A fome ceifa ainda inúmeras vítimas entre os muitos Lázaros, a quem não é permitido sentar-se à mesa do rico avarento. Dar de comer aos famintos (cf. Mt 25, 35.37.42) é um imperativo ético para toda a Igreja, que é resposta aos ensinamentos de solidariedade e partilha do Senhor Jesus. Além disso, eliminar a fome no mundo tornou-se também um objetivo a alcançar para preservar a paz e a subsistência da terra.

A causa principal da fome no mundo não é tanto a escassez material, mas, sobretudo, a escassez de recursos sociais e de natureza institucional; isto é, falta um sistema de instituições econômicas que seja capaz de garantir um acesso regular e adequado à alimentação e à água.

As piores crises alimentares são provocadas mais pela irresponsabilidade da política nacional e internacional do que por causas naturais. O problema da insegurança alimentar precisa ser enfrentado, eliminando as causas estruturais que o provocam e promovendo o desenvolvimento agrícola dos países mais pobres, por meio de investimentos em infraestruturas rurais, sistemas de irrigação, transportes, organização dos mercados, formação e difusão de técnicas agrícolas apropriadas. Tudo isso deve ser realizado, envolvendo as comunidades locais na opções e nas decisões relativas ao uso da terra cultivável.

Os direitos à alimentação e à água revestem um papel importante para a consecução de outros direitos, a começar pelo direito primário à vida. Por isso, é necessária a maturação de uma consciência solidária que considere a alimentação e o acesso à água como direitos universais de todos os seres humanos, sem distinções nem discriminações”.

É preciso que cresça, entre as pessoas, a vontade de ajudar os que passam fome. Não desperdiçar alimentos, viver de maneira austera, combater o consumismo, multiplicar as ações de solidariedade são gotas de amor no mar imenso da falta de pão no mundo.

Os “pobres Lázaros” estão diante de nossas portas. Não sejamos nós “ricos banqueteiros”, indiferentes e insensíveis. Enquanto estamos em vida, podemos transpor os “abismos” que nos separam dos que passam fome.

Precisamos de uma misericórdia criativa. Ajudemos os abrigos que servem refeições aos moradores de rua, participemos das coletas de nossas paróquias para ajudar as famílias pobres.

Dom Julio Endi Akamine
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa;
nomeado arcebispo de Sorocaba (SP)

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3093 -17 a 22 de março