Dar água a quem tem sede

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20/04/2016 - 12:15

Uma das obras corporais de misericórdia é dar de beber a quem tem sede. Jesus experimentou o drama da sede. Junto ao poço, Ele pediu à samaritana: “Dá-me de beber!” Crucificado, Ele gritou: “Tenho sede!” E lhe deram vinagre!

A Organização Mundial de Saúde estima que 80% das doenças em todo o mundo estão associadas à água contaminada. O drama da falta de água tratada e segura é, em muitos casos, causado pela má administração dos recursos naturais, pela exploração irresponsável da natureza, pela falta de uma gestão justa e competente dos recursos hídricos.

“A disponibilidade de água se manteve relativamente inalterada durante muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta sustentável, com graves consequências em curto e longo prazo. Grandes cidades dependem de importantes reservas hídricas e sofrem períodos de carência de água e, nos momentos críticos, nem sempre se administra com uma gestão adequada e com imparcialidade” (Laudato si’, 28).

Somos exortados à conversão para não ouvir de Jesus a condenação: “tive sede e não me destes de beber”. “Senhor, quando foi que te vimos sedento e não te demos de beber?” Isso aconteceu todas as vezes em que fomos omissos em não enfrentar com coragem e decisão o sério problema da falta de água de qualidade a todos. A falta de saneamento diariamente ceifa muitas vidas. São os pobres as vitimas mais frequentes das doenças relacionadas com a água. Em muitos lugares, os lençóis freáticos estão ameaçados pela poluição produzida por atividades extrativas, agrícolas e industriais.

“Tive sede e não me destes de beber”. “Quando foi isso, Senhor?” Toda vez que a qualidade da água disponível piorou e permitimos que esse recurso necessário à vida fosse privatizado. Ver o Senhor com sede e dar-lhe de beber significa lutar para que o acesso à água potável e segura seja reconhecido como um direito humano essencial, fundamental e universal, condição para o exercício dos outros direitos humanos (Laudato si’, 30).

“Tive sede e não me destes de beber”. “Quando foi que te vimos com sede e não te demos de beber?” Toda vez que desperdiçamos água. O problema da água é, em parte, uma questão educativa e cultural, e toda vez que tomamos consciência da gravidade dos nossos comportamentos, estamos dando de beber a Jesus (Laudato si’, 30).

Jesus continua dizendo a nós: “Tenho sede”. A nossa sociedade tem uma grave dívida social para com os pobres, que não têm acesso à água potável, porque isso é negar-lhes o direito à vida, radicado na sua dignidade inalienável. Toda vez que contribuímos para prover de água limpa e saneamento as populações mais pobres, Jesus nos diz: “tive sede e me destes de beber” (Laudato si’, 30).

O saneamento básico não é só um problema político e social. É um problema de fraternidade. São nossos irmãos que passam sede, que adoecem por falta de água tratada e segura. São nossos irmãos... ou melhor, é o próprio Jesus que continua nos pedindo: “dá-me de beber”; “tenho sede”. Você dará a Jesus água ou vinagre?

Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso.

Dom Julio Endi Akamine
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa;
nomeado arcebispo de Sorocaba (SP)

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3098 - 20 a 26 de abril