Aconselhar os que estão na dúvida

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08/06/2016 - 15:15

Para viver bem o Jubileu da Misericórdia é indispensável a prática das obras de misericórdia. Não devemos deixar passar um dia sem praticar ao menos uma obra de misericórdia.

Gostaria de meditar a obra de misericórdia espiritual “aconselhar os que estão na dúvida”. Essa obra não se refere a todo tipo de dúvida, mas somente a que deixa a gente num estado de ânimo de incerteza que paralisa as decisões, que adia indefinidamente as escolhas, que foge das responsabilidades e que faz a se fechar em si mesmo.

Para enfrentar e superar esse tipo de dúvida, a tradição bíblica indica o conselho de pessoas sábias.  Quem está na dúvida não deve permanecer passivo. Deve buscar um conselheiro sábio que o ajude no caminho da relação virtuosa de amor e de amizade.

Aconselhar os que estão na dúvida consiste na arte de orientar as pessoas no caminho da salvação e da vida. É uma obra urgente hoje em dia, dadas as condições de confusão, de incerteza, de mentira e de enganação em que vivem tantas pessoas. Em nossa imensa cidade se multiplicam desequilíbrios e patologias do espírito. É impressionante o número dos que caem nas práticas ocultas para encontrar apoio e sustentação.

Todos nós temos necessidade de encontrar amigos que saibam nos dizer palavras boas, que nos ajudem na orientação fundamental de nossa vida. É urgente hoje restabelecer os vínculos de solidariedade entre as gerações (mais velhos/jovens; pais/filhos; avós/netos; veteranos/novatos), restabelecer a relação sadia entre as pessoas para constituir um tecido humano de entreajuda capaz de acompanhar, sobretudo nos momentos difíceis da vida.

Aconselhar é uma arte que exige sabedoria, instrução cristã, prática e vivência coerente com a sã doutrina e capacidade de criar relações sadias de ajuda, de escuta e de diálogo.

Vivemos em um mundo culturalmente desenvolvido que exige muito das pessoas religiosas. As dúvidas de fé podem ser uma ocasião para compreender melhor a fé e nela crescer.

Não pensar a fé leva a gente a estranhar a própria fé, que é também o primeiro passo para perdê-la. Por isso, é indispensável que todos os fiéis cristãos se sintam responsáveis pela fé dos outros.

A via-mestra dessa obra de misericórdia é a prática da direção espiritual. Mesmo que nem todos os cristãos possam ser orientadores espirituais, todos podem colaborar para que a comunidade cristã amplie e alargue essa paternidade espiritual que não permite que ninguém se sinta sozinho e abandonado em meio ao mar em tempestade da vida.

Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso.

Dom Julio Endi Akamine
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa;
nomeado arcebispo de Sorocaba (SP)

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3105 -08 a 14 de junho