Ser indiferente ou fazer a diferença...

A A
04/05/2016 - 14:30

As parábolas do Evangelho têm a capacidade de iluminar os acontecimentos de nossa vida, ontem, hoje e sempre. O motivo para isso é que Jesus fala de situações reais e de pessoas comuns. Situações e pessoas que sempre encontramos à nossa volta. A parábola do “bom samaritano” nos traz uma situação assim.

Um sacerdote e um mestre da lei que passavam por uma estrada encontraram um homem caído, que foi atacado por bandidos e largado, jogado à beira do caminho. Por ali, passou um homem, originário da Samaria, que, vendo alguém caído, acolheu e cuidou dele (cf. Lc 10, 30-35). A parábola não indica nomes, mas chama a atenção para as atitudes de quem é ou não in- diferente à realidade do outro.

Em nossos dias, a indiferença parece ser um comportamento cotidiano, e que não incomoda mais. Na busca pela liberdade e pela autonomia, vamos criando um mundo próprio. Deixamos de conhecer as pessoas que habita a casa ao lado; algumas vezes caminhando com pressa para ir ao trabalho, à escola, passeando, entrando ou saindo de um lugar qualquer, nem prestamos atenção em alguém caído na calçada.

Um outro fato corriqueiro e tão comum, mas que sinaliza a indiferença, é a quantidade de pessoas usando fones de ouvido, para não escutar os ruídos de fora, mas, principalmente, para não serem incomodadas por quem está ao lado. Caminhamos apressados, querendo chegar aos nossos objetivos, mas absolutamente indiferentes ao que acontece a quem passa por nós, e se falarmos da realidade familiar, muitas vezes a situação não é diferente, talvez seja pior.

Partindo dessa realidade, deve nascer em nós uma preocupação e um questionamento. Será que a indiferença à nossa volta não começa a influenciar nossos atos e nosso comportamento cristão?

Jesus não foi indiferente à samaritana que veio buscar água. Ele atendeu com atenção o cego no caminho de Jericó e os dez leprosos que encontrou numa estada. Também parou diante da mãe viúva que estava indo enterrar seu filho único, acompanhou um pai que pediu ajuda para sua filha doente e saciou a fome da multidão reunida, com o pouco à sua disposição.

O distintivo dos cristãos não é ser uma marca externa, como um uniforme ou uma insígnia. Jesus não ficou indiferente aos acontecimentos da vida por causa do amor. Sua pregação e seus gestos nasceram de uma certeza profunda, “Eis o meu Filho muito amado, em quem pus toda minha afeição; ouvi-o.” (Mt 17,5).

Somos amados pelo Pai, e se quisermos realmente transformar a realidade à nossa volta, substituindo a indiferença e fazendo a diferença, não podemos esperar que o outro venha, que se aproxime de nós. O amor não espera. É necessário “ouvir” o Filho muito amado, e como ele assumir o protagonismo do amor. “Nisto reconhecerão todos que sois os meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia;
e vigário episcopal para a pastoral da comunicação

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3100 - 4 a 10 de maio