Queremos ver Jesus...

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30/03/2016 - 12:15

Antes da Páscoa, alguns gregos se aproximaram de Felipe para fazerem um pedido: eles queriam ver Jesus. A Páscoa era uma festa, mas também uma ocasião perigosa, porque judeus e prosélitos de todas as partes se reuniam para lembrar a libertação do Egito, e com isso traziam de volta o desejo de libertação contra todo tipo de dominação.

No tempo de Jesus, os dominadores eram os romanos. Por isso, durante a festa da Páscoa, a guarda romana era sempre reforçada em Jerusalém. Diante de uma situação tão complexa e tão delicada, fica fácil compreender que qualquer anúncio messiânico seria recebido como provocação e poderia desencadear uma revolta popular.

Mas o anúncio de Jesus segue justamente um princípio contrário a esse. Ele não convoca uma revolta e nem mesmo exalta os ânimos. Sua palavra não era revolucionária, segundo os ideais políticos de seu tempo, mas era, antes, um convite à conversão e a renúncia de si mesmo.

Jesus prefere um movimento de transformação silenciosa, sem a gritaria das ruas e sem as posições acirradas das ideologias político-religiosas, como a dos zelotas, dos fariseus ou saduceus. Nesse movimento não se levantam bandeiras, mas Jesus é levantado na cruz, conforme suas palavras: “Quando eu for levantado atrairei todos a mim” (Jo 12,32).

O conhecimento de Jesus não se resume a um encontro casual, e nem sua palavra pode ser comparada a um sistema de ideias. A quem procuravam os gregos de ontem, e a quem buscam os homens de hoje?

Jesus atraía por suas palavras, por seus ensinamentos e pelos gestos salvíficos. Em sua ação, tudo apontava para o projeto do Pai, mesmo a morte de cruz. Por isso, levar as pessoas de ontem ou de hoje ao encontro de Jesus é também levá-las ao encontro do Pai. Jesus é o caminho para o Pai, mas aqui cabem outras perguntas: Como a morte pode revelar o amor de Deus? A morte não é o fim de tudo? Ela não é o silêncio definitivo que foi imposto a Jesus?

O silêncio imposto pela morte de Jesus foi quebrado quando a pedra foi removida do túmulo. As mulheres que foram ao túmulo também queriam ver Jesus. Assim como os gregos pediram a Felipe que os levassem a Jesus, Maria pediu ao homem, que ela supôs ser um jardineiro, que a levasse ao corpo de Jesus. A Ressurreição revela definitivamente aquele que todos procuravam. Jesus é a resposta para a busca dos gregos, e Ele não está entre os mortos, como pensava Maria.

A Ressurreição é a chave para o encontro com Jesus, e para responder nossas perguntas. Com a Ressurreição, o projeto de Deus atinge sua plenitude. Nele, toda a criação conhece sua realidade mais profunda: “Na realidade, o mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado. Adão, o primeiro homem, era efetivamente figura do futuro, isto é, de Cristo Senhor. Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime” (Gaudium et spes, 22). Portanto, conhecer Jesus, conhecer o Ressuscitado, é definitivamente conhecer a finalidade última do homem, “ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8).

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia;
e vigário episcopal para a pastoral da comunicação

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3095 -30 de março a 05 de abril