“Testemunhas da unidade até os confins do mundo” - Pe. Reuberson Ferreira, mSC

A A
01/06/2017 - 13:45

Leituras: At 22, 30;23.6-11; Sl:15; Evangelho: Jo 17, 20-26

QUINTA FEIRA DA 6ª SEMANA DA PASCOA

O tempo pascal dirige-se para seu crepúsculo. Celebramos a liturgia da sua última semana, a sétima. Neste tempo, no hemisfério sul vivencia-se a semana de oração pela unidade dos cristãos. De igual modo, vigilantes e ansiosos, invocamos a força do Espírito Santo sobre a Igreja, sobre nós. Somos, portanto, como seguidores do ressuscitado, convocados a viver a unidade em meio à diversidade que é característico do ser humano e a testemunhar o ressuscitado pela prática da caridade.

Nesse sentido, a liturgia desta quinta feira da sexta semana da páscoa que também celebra o mártir São Justino, evidencia a necessidade de testemunho e unidade por parte da comunidade cristã. As leituras apresentam-nos, por um lado, os capítulos derradeiros da saga missionária do Apóstolo Paulo. Por outro, a insistente súplica de Cristo pela unidade e fidelidade dos seus discípulos. Somos exortados ao testemunho da unidade.

A primeira leitura, extraída do livro dos Atos dos apóstolos narra mais um traço da atuação de Paulo de Tarso. Ele está preso em Jerusalém. Neste relato, o apóstolo dos gentios é levado ao conselho dos anciãos (At 23.6), sob o pretexto do Tribuno romano entender de que lhe acusavam (At 22, 30). Ante os anciãos, Paulo atesta que a acusação que lhe imputam é de crer na ressurreição dos mortos (v.6), particularmente a de Jesus. O conselho dos anciãos, composto por fariseus e saduceus, onde uns acreditavam na ressurreição e outros não, iniciam uma celeuma (v.7) por conta dessa questão. Parte da assembleia atesta sua inocência (v.9), acirrando o conflito e o consequente regresso de Paulo a prisão. À noite, no cárcere, o Senhor aparece a Paulo e pede testemunho em Jerusalém e, mais ainda, em Roma (v.11). Depreende-se desse texto, a clareza da missão de Paulo, ele é testemunha concreta projeto de Deus realizado em Jesus. De igual modo, atesta a necessidade sempre crescente da universalização do evangelho, pois ele deve chegar até os confins do mundo (Cf. At 1, 8) que para época era Roma.

O Salmo e o Evangelho acentuam aspectos diferentes, mas que convergem na mensagem de testemunho e unidade. O salmista atesta sua confiança no Senhor, mesmo nas intempéries da vida. Sabe que nele está o caminho para vida e a felicidade eterna. Talvez era essa segurança que firmava Paulo no seu propósito de testemunhar o senhor até os confins da terra. O Evangelho, por seu turno, narrado por João, apresenta a conclusão, em forma de prece, do longo discurso de despedida de Jesus (Jo 13-17). O tema do discurso, nesta parte final, é unidade dos discípulos, àqueles de outrora e os de hoje (v.21). Trata-se de uma unidade modela pela de Cristo com o Pai. Distintas pessoas, unidas desde sempre pelo amor (v.23). A unidade suplicada por Jesus aos seus discípulos é, portanto, a da caridade, do amor. Na prática da caridade, do amor fraterno e no compromisso com irmãos, bem mais que na liturgia ou no culto,   é que os cristãos são reconhecidos como verdadeiros discípulos do Senhor (At 2, 42-46).

As leituras da liturgia desta quinta-feira, memória de São Justino, portanto desafiam-nos ao exercício corajoso de testemunhar o Evangelho, em meio as adversidades da vida. A apresentar com destemor e com práticas convincentes a proposta do ressuscitado. De igual modo, apontam-nos que o principal caminho de unidade entre os cristãos dá-se no campo da caridade (Amor) a despeito das diversidade e a diferenças ou como diria um místico do medievo: “Nas coisas essenciais, a unidade; nas coisas não essenciais, a liberdade; em todas as coisas, a caridade”.

 

Pe. Reuberson Ferreira, mSC -  Mestrando em Teologia PUC-SP. Trabalha na Paróquia S. Miguel Arcanjo, Arquidiocese de São Paulo. ( Escreve todas as quintas feiras neste espaço)