Primeiro Anúncio da Paixão - Raul de Amorim

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17/02/2017 - 00:15

Mc. 8,34-9,1

O Evangelho de hoje traz as condições par uma pessoa poder seguir a Jesus. Pedro não conseguiu entender a proposta quando Ele falou do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como Messias, mas não como Messias sofredor. Diante da incompreensão de Pedro, Jesus descreve o anúncio da Cruz e explica o significado da cruz para a vida dos discípulos.

Mc. 8,34-35: “E chamando a multidão com seus discípulos, Jesus lhes disse: Se alguém quiser seguir após mim, negue-se a si mesmo, carregue a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a própria vida, a perderá. Mas quem perder a própria vida por causa de mim e do evangelho a salvará.”

É bom lembrar que na época em que o evangelho de Marcos foi escrito a situação das comunidades não era muito confortável. No ano 64, o imperador Nero havia decretado a primeira grande perseguição matando muitos cristãos. Existia ainda uma discórdia entre os judeus convertidos e os não convertidos. A questão era a Cruz de Jesus.

Muitos achavam que um crucificado não podia ser o Messias esperado, pois a lei dizia que uma pessoa submetida a esse tipo de morte era considerada como um marginal. (Dt. 21,22-23). Fazendo memória das palavras de Jesus o evangelista queria encorajar os cristãos.

O discipulado é antes de tudo uma proposta: “Se alguém quiser..., Jesus não diz que as pessoas são obrigadas a segui-lo. Mas faz apenas um convite e propõe um desafio.

Mc. 8,36-37: “De fato, o que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e ter a própria vida destruída? Pois o que uma pessoa daria em troca da própria vida?”

Jesus tira as conclusões que valiam para os discípulos, para as comunidades do tempo de Marcos e para nós que vivemos hoje. Trata-se de um grande desafio porque o discípulo deve pensar na partilha, na misericórdia e a sociedade vem com o discurso do egoísmo, do consumismo. Isso contradiz radicalmente a proposta: negue-se a si mesmo...

A cruz de Jesus não é fruto de fatalismo da história, nem exigência do Pai. A cruz é conseqüência do compromisso de revelar a Boa Nova de Deus que é Pai e que, portanto, todas e todos devem ser aceitos como irmãos. Tomar a cruz e carregá-la atrás de Jesus não é fácil. Hoje em dia podemos dizer que existem muitos cristãos que seguem a Jesus, mas sem a cruz.

Mc. 8,38: “Se alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras, no meio desta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.” E lhes dizia: “Eu lhes garanto: Dos que estão aqui presentes, alguns não provarão a morte antes que verem o Reino de Deus chegando com poder.”

É uma exigência para não termos vergonha do Evangelho, mas termos sim a coragem de professá-lo. Não podemos ter vergonha de Jesus humilde e despojado! Muitas vezes é difícil de entendê-lo, mas devemos estar atentos aos fatos da vida onde Ele se revela.