Pescadores de gente - Cônego Celso Pedro da Silva

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22/01/2017 - 00:15

Mt 4,12-23

Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizendo: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2). João é retirado de cena. É hora de Jesus entrar. Volta para a Galiléia, sai de Nazaré e vai morar em Cafarnaum. Começa então a pregar dizendo: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 4,17).

O evangelista que nos fala é São Mateus. Ele percebe o movimento de Jesus de Nazaré para Cafarnaum e se lembra das palavras de Isaias sobre o território de Zabulão e Neftali, onde ficava Cafarnaum. Cumpriam-se as palavras do profeta: “O povo que vivia nas trevas, na região escura da morte, viu uma grande luz”. A luz é Jesus. Seu deslocamento para Cafarnaum anuncia para que veio.

Pesava sobre o povo um jugo, uma canga tinha sido posta sobre seus ombros. Era o bastão do opressor. As botas pisavam ruidosamente no chão, as vestes estavam manchadas de sangue. Teglat-Falasar, rei da Assíria, era o opressor e seu era o bastão. Invadira a Galiléia com deportações e tributos, preparando o caminho para a queda do Reino do Norte alguns anos depois. Como em toda guerra, quem sofria era o povo. Nesta ocasião, Isaias vê nascendo um menino, chamado Príncipe da Paz. Esse menino já é adulto e vai morar em Cafarnaum, num ato simbólico, que diz a todos os que o seguem que ele veio para iluminar vidas em desespero. Fardas ensanguentadas e botas militares serão queimadas. Voltará a alegria. O Reino dos Céus está próximo.

Há um projeto a ser realizado. Quem vai realizá-lo? Jesus é o Verbo de Deus encarnado de verdade, por isso pretende ser em tudo semelhante a nós, exceto no pecado. Vai fazer um mutirão, vai fazer um puxirum, vai formar uma equipe? Estes são recursos de uma obra transitória. A obra de Jesus é permanente. Ele precisa mais do que uma equipe. Precisa de uma comunidade de fé. Forma então esta Comunidade que se chama Igreja e começa com alguns. Não espera que eles venham. Sai pela sua avenida, que era a beira do mar da Galiléia, vai vendo e vai chamando. Chama Pedro e chama André, dois irmãos, e depois outros dois, também irmãos, Tiago e João. Eram pescadores, trabalho normal da gente daquele lugar. Jesus os chama para fazerem o que sabiam, para serem pescadores, agora não mais de peixes, mas de gente. Aí está o primeiro grupo comunitário que vai trabalhar com Jesus para pescar gente que está vivendo nas sombras da morte, debaixo do bastão do opressor. Deixaram tudo e o seguiram. ‘Seguir’ será doravante o verbo do discípulo.