Leituras: Ex 32, 7 - 14 Sl: 105 / Evangelho: Jo 5, 31 - 47

O caminho quaresmal é um percurso mistagógico, que ensina pelos simbolismos. Durante esse tempo litúrgico cheio de símbolos, com os olhos fitos no mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus, animamos nosso coração para o exercício da  conversão.  Por meio da mudança de vida, buscamos reacender a chama do amor a Deus e ao próximo. O ideal é crescermos sempre mais no caminho da fidelidade aos ensinamentos do Senhor.

A liturgia desta quinta-feira da quarta semana da quaresma recorda-nos esse ideal cristão. Devemos buscar a conversão continuamente e a fidelidade ao Senhor, sob o risco de nos perdermos na caminhada se não o fizermos. Desviar o olhar do Senhor é assumir o risco de soçobrar ante o pecado.

A primeira leitura deste dia, retirada do livro do Êxodo, alerta-nos para a tentação de desviarmos o olhar, o coração e as práticas dos ensinamentos do Senhor e construírmos  outros deuses. Trata-se da passagem onde o povo de Deus constrói para si um bezerro de ouro (v.8) e o  coloca  no lugar de Deus. No texto, face a essa ação do povo, o autor usa a imagem de um Deus colérico, disposto a castigar (v,10.11). Antes de ser uma característica do Senhor, esse artifício quer mostrar que Deus, mesmo  contrariado com a infidelidade do povo, tem sempre mais disposição para o perdão que  para o  castigo. Que Ele nutre a esperança de mudança da humanidade e o desejo de que eles sejam fieis aos seus ensinamentos.

O Salmo retoma a temática da primeira leitura e suplica que Deus trate a humanidade segundo o seu amor. No evangelho, extraído do texto de São João, Jesus apresenta-se como filho envidado de Deus (v,36. 40. 43) aquele de quem  João Batista deu testemunho (v.33). O testemunho de João e a apresentação de Jesus, contudo, não são condições, aos olhos dos interlocutores, para que nele depositem sua fé. Tampouco o testemunho de Moises é capaz de persuadi-los. Eles não veem Jesus como messias, consequentemente não o aceitam. Buscam outros deuses, desviam o seu olhar do Senhor. Contudo, como afirma o salmo, o Senhor trata o povo não conforme ele merece, mas segundo o amor do seu coração. Assim, mesmo a recusa de reconhecer o Salvador, não O impede de revelar-se à humanidade e amá-la até a morte na ignomínia da  cruz.

Assim, as leituras da liturgia desta quinta-feira, nos ensinam que devemos  fitar nossos olhos, ouvidos e corações nos ensinamentos do Senhor. Buscá-lo, reconhecê-lo e testemunhá-lo. Trata-se de um exercício quaresmal diário e contínuo. Exortam-nos os textos a termos consciência da nossa fragilidade e da certeza que, não raras vezes, somos tentados a construir nossos próprios “deuses” e não reconhecermos o verdadeiro Deus da vida.

Pe. Reuberson Ferreira, mSC é mestrando em teologia - PUC/SP. Trabalha na Paróquia S. Miguel Arcanjo, Arquidiocese de São Paulo. (Escreve todas as quintas-feiras  neste espaço)