O bem-aventurado resto de Israel - Cônego Celso Pedro da Silva

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29/01/2017 - 00:15

Mt 5,1-12a

Lendo e meditando o Evangelho de Mateus, a liturgia coloca diante de nós, logo no inicio do Tempo Comum, um grande projeto de Jesus, um verdadeiro ‘plano de pastoral’. Já ouvimos Jesus anunciar: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. Já o vimos deslocando-se como luz para iluminar o povo que vivia nas trevas da opressão. E o vimos formando uma comunidade de pessoas dispostas a se tornarem pescadores de gente. Hoje, o grande projeto se confirma pela boca de Sofonias, do Salmista, de Paulo e do Evangelista do ano, São Mateus.

O profeta Sofonias projeta um ideal e mostra sua realização. - Todos os humildes da terra, aqueles que fazem a vontade de Deus, procurem o Senhor, procurem a justiça, procurem a humildade. Talvez vocês encontrem um refúgio no dia da ira do Senhor. - O profeta se refere aos humildes da terra que realizam os mandamentos de Deus. No Dia da ira do Senhor, no dia final, talvez encontrem refúgio. Por que ‘talvez’? Porque Deus não se tornou devedor deles pelo bem que fizeram. Deus é absolutamente livre. Ninguém é tão importante que possa gloriar-se diante do Senhor, dirá São Paulo. Sofonias descreve, então, a realização do ideal. Deus deixa no meio de Israel um povo humilde e pobre que procura refúgio no nome do Senhor. É o ‘resto de Israel’, que não cometerá injustiça, não mentirá nem enganará. Será bem governado, terá repouso e não será perturbado por ninguém.

Eis aí o ‘resto’, elencado nas bem-aventuranças: os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos por causa da justiça. São gente de atitude, animada por um propósito, imbuída de um espírito que faz dela gente que vale a pena. A eles e elas de todas as raças e nações, unem-se os discípulos de Jesus, injuriados, perseguidos, de quem falam mal.

Seriam estes os destinatários da obra de Jesus e de seus companheiros? Aqueles que os apóstolos deverão pescar? Os que devem se converter? Provavelmente não. O aspecto deles é de colaboradores de Jesus, gente humilde que procura a justiça e constrói a paz. São o resto de Israel de Sofonias, beatificados por Jesus. Eles têm rosto de Reino dos Céus. Foi assim que Jesus começou a sua pregação: “Convertei-vos porque o Reino dos Céus está próximo”. Aí está o ideal realizado. Um Reino de gente “fraca e desprezada, sem importância e sem serventia”, que se gloria no Senhor, o qual é para todos “sabedoria, justiça, santificação e libertação”.