No fim, como será? - Raul de Amorim

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11/11/2015 - 19:30

Lc 17,26-37

O texto de hoje não é o tipo de leitura que poderíamos chamar de agradável, mas é um evangelho necessário. Depois de falar tanto a respeito da chegada do Reino de Deus parece que o povo, as autoridades e até mesmo os discípulos não estavam dando muito crédito a esse ensinamento. Diante da indiferença Jesus resolve ser mais direto, e é isso que Ele faz.

Lc 17,26-29: Como nos dias de Noé e Ló... A vida corre normalmente: comer, beber, casar, comprar, vender, plantar, colher. A rotina pode envolver-nos de tal forma que já não conseguimos pensar em outra coisa. O consumismo contribui para aumentar esta desatenção à dimensão mais profunda da vida. Deixamos o cupim entrar na viga da fé que sustenta o telhado da vida. Quando a tempestade derrubar a casa muitos vão acusar o carpinteiro.

Na realidade a causa da destruição foi à falta de atenção nos sinais dos tempos. Jesus faz memória da destruição de Sodoma como figura do que vai acontecer no fim dos tempos. O evangelista quer lembrar também a destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 70 DC.

Lc. 17,30-32: O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado... Fica difícil para nós imaginar o que representou para o povo a destruição de Jerusalém. Para ajudá-los a entender e a enfrentar o sofrimento Jesus usa comparações tiradas da vida: “Nesse dia, quem estiver no terraço e tiver utensílios em casa, não desça para recolhê-los. Assim também, quem estiver no campo, não volte para trás. Lembrem-se da mulher de Ló. (Gn.19,26)

Jesus dá o alerta para não perder tempo, tomar a decisão e ir em frente: é questão de vida ou de morte. Na tragédia ocorrida na cidade Mariana-MG muitas pessoas tiveram que abandonar suas casas para poder escapar com vida.

Lc.17,33: Quem procurar salvar a vida vai perdê-la, e quem perder a vida vai salvá-la... Só se sente realizada na vida a pessoa que for capaz de doar-se pelos outros. Perde a vida quem quer conservá-la só para si. Este conselho de Jesus é a confirmação da mais profunda experiência humana: a fonte da vida está na doação da vida.

 A leitura termina com uma pergunta dos discípulos: “Onde Senhor?” Queriam que Jesus dissesse onde aconteceriam essas coisas todas. Jesus responde de uma forma enigmática: “Onde estiver o corpo, aí também se ajuntarão os urubus”. Muitos estudiosos acham que Jesus lembra a profecia de Ezequiel (Ez.39,4.7-20) e também o livro do Apocalipse (Ap.19,17-18).

 É uma leitura que não tem a intenção de colocar medo diante de Deus, mas quer nos alertar que sem Deus a existência é vazia e sem sentido.