No Caminho da Cruz - Raul de Amorim

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05/08/2015 - 21:00

Mt. 16,24-28

Jesus começa a revelar aos discípulos a sua missão, anunciando a sua morte. Pedro rebate e o reprova dizendo: “Isso não pode acontecer”. Então o mesmo Jesus que o havia declarado feliz e abençoado, chega a chamá-lo de Satanás e instrumento de tentação. O próprio Jesus se sentiu tentado a ser Messias de um jeito diferente (Mt 4,1ss).

Jesus insiste fortemente no anúncio da cruz como uma escolha que ele fez do modo de realizar a sua missão e esclarece que esse destino não seria apenas o dele. Para segui-lo nesse caminho de doação e de risco, ele chama qualquer pessoa que aceite segui-lo. Até hoje, esse é um apelo difícil de ser compreendido e pode atemorizar muita gente.

Muita gente pensa que esse apelo de Jesus para cada um tomar a sua cruz e segui-lo significa assumir os sofrimentos e problemas da vida. A cruz seria qualquer coisa que nos faz sofrer. A visão do evangelho é mais que isso. Para Jesus, a cruz só tem sentido em função da missão e o quanto ela exige. A cruz significa as renúncias e os riscos necessários para se realizar a missão de testemunhar o Reino dos Céus.

Quem quiser seguir Jesus precisará identificar-se com esse projeto de confronto, sabendo que poderá enfrentar o desafio de entregar a própria vida. No tempo de Jesus a morte de cruz era reservada a criminosos e subversivos. Quem quiser seguir a Jesus deve estar disposto a se tornar inimigo de uma sociedade injusta. Para os discípulos também a cruz implica um engajamento na dimensão sócio-política. Os cristãos do Oriente Médio estão enfrentando esse desafio.

“Renegar a si mesmo” é ser capaz de abrir mão de suas aspirações pessoais, mesmo as mais legítimas, em função do testemunho do Reino que exige, em primeiro lugar, o bem comum. É a vitória sobre o egoísmo. Pode-se perder a vida por algo, por alguém que valha mais, e então a perda é ganho: “pois tua lealdade vale mais que a vida” (Sl 63,4)