Nascimento de João Batista - Raul de Amorim

A A
24/12/2016 - 00:15

Lc. 1, 57-66

Nos capítulos 1 e 2 do evangelho de Lucas, o evangelista descreve o anúncio e o nascimento de dois meninos, João e Jesus, que vão ocupar um papel importante na realização do projeto de Deus. Nestes dois capítulos, Lucas faz memória de muitos fatos e pessoas do Antigo Testamento. É para sugerir que com o nascimento destes dois meninos a história faz a grande curva e inicia a realização das promessas de Deus por meio de João e de Jesus e com a colaboração dos pais Isabel e Zacarias e Maria e José.  O texto de hoje fala do nascimento de João Batista.

Lc. 1, 57-58: Quando se completou o tempo de Isabel dar à luz, ela teve um filho. Os vizinhos e parentes ouviram dizer que o Senhor havia tido grande misericórdia para com Isabel, e se alegraram com ela.

Como tantas mulheres do Antigo Testamento, Isabel era estéril: Como Deus teve piedade de Sara (Gn. 16,1; 17,17; 18,12), de Raquel (Gn. 29,31), e de Ana (1 Sam.1,2.6.11) transformando a esterilidade em fecundidade, assim Ele teve misericórdia de Isabel, e ela concebeu um filho. A leitura diz que os vizinhos e parentes se alegraram com a notícia lembrando as palavras do anjo: “Você terá alegria e felicidade, e muitos se alegrarão com o nascimento dele”. (Lc.1,14)

Quando, depois de cinco meses, a vizinhança pôde perceber no corpo dela que algo fora do comum tinha acontecido. O acontecimento fugia às possibilidades humanas.  Deve ter sido uma gestação difícil. Pensemos: Isabel  em idade avançada e Zacarias além de idoso havia ficado mudo porque duvidara do anúncio do anjo (Lc. 1,20) Ainda bem que Maria veio para ajudá-la a partir do sexto mês! (Lc. 1,56).

Lc. 1,59-60: E aconteceu que, no oitavo dia, foram circuncidar o menino. E queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. Mas a mãe disse: “Não, ele se chamará João”.

A circuncisão era feita oito dias depois do nascimento, e nesse dia dava-se o nome a criança e ofereciam uma festa. Mas, pelo texto parece que houve algo inusitado, os parentes queriam dar o nome de Zacarias ao menino em homenagem ao pai.

Isabel em conformidade com a mensagem divina recusou o nome que as pessoas queriam dar ao menino. Ela disse: Ele se chamará João. Numa aldeia na serra da Judéia, o controle social é muito forte. Quando uma pessoa sai “fora dos padrões” do lugar, ela é criticada. Que sufoco! Quando existe discordância entre a vontade de Deus e a nossa, nós nos tornamos limitados e incapazes de viver plenamente a graça.

Lc. L,61-63: Disseram-lhe: “ Entre seus parentes não há  ninguém com esse nome”. E com gestos perguntaram ao pai que nome queria dar ao filho. Ele pediu uma tabuinha e escreveu: “O nome dele é João”. E todos ficaram admirados.
Os parentes e amigos não cedem facilmente e apelam para o pai. Poderíamos até pensar: “Às vezes parentes atrapalham!” Ficaram sem saber o que dizer, o texto diz: E todos ficaram admirados. Talvez tivesse percebido que algo do mistério de Deus que envolvia o nascimento de João.

Na forma de descrever os acontecimentos, Lucas o evangelista não é como o fotógrafo que só registra o que os olhos podem ver. Ele é como quem usa um Raio-X que registra aquilo que os olhos não podem ver. Lucas lê os fatos com o Raio-X da fé que revela o que o olhar comum não percebe.

Lc.1, 64-66: No mesmo instante a boca e a língua dele se soltaram, e ele começou a falar, louvando a Deus. Todos vizinhos ficaram tomados de temor, e a notícia se espalhou por toda região montanhosa da Judéia.

O jeito de Lucas descrever lembra  as circunstâncias do nascimento de pessoas que no Antigo Testamento tiveram destaque na realização do projeto de Deus. Poderíamos destacar: Moisés (Ex2,1-10); Sansão (Jz. 13,1-4 e 13,24-25); Samuel (1Sam 1,13-28 e 2,11).
Quanto mais conhecimento conseguirmos acumular do Antigo Testamento, mais recordações vamos descobrir nos escritos de Lucas. Os dois primeiros capítulos do seu evangelho não são histórias no sentido em que nós hoje entendemos a história. Funcionam mais como espelho para ajudar a descobrir que João e Jesus tinham vindo realizar as profecias.

Na atitude de Isabel e Zacarias, de Maria e José, Lucas nos apresenta modelos de como se converter ao Novo que está chegando.