MISSÃO CUMPRIDA! - Raul Amorim

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02/11/2018 - 08:30

Jo. 19,17-18.25-30

O processo de morte e ressurreição faz parte do ciclo da natureza. Tudo morre e renasce.  Faz parte também da caminhada. Um ato de amor é doação de si em benefício do outro. Muitas vezes, com muita dor e sofrimento. Jesus soube integrar e assumir a morte em sua vida como parte da sua missão. Vamos meditar...

Jo. 19,17-18: Então eles pegaram Jesus, que saiu carregando a cruz, rumo ao chamado “Lugar da Caveira”, que em hebraico se diz “Gólgota”. Foi aí que crucificaram Jesus, e com ele outros dois homens, um da cada lado, e Jesus no meio.

Os condenados à morte de cruz deviam eles mesmos carregar a cruz até o lugar da crucifixão. A morte de cruz era o castigo terrível que o império romano reservava para os que se revoltavam contra o poder do imperador de Roma.

Num mundo organizado a partir do egoísmo, o amor só sobrevive crucificado, pois ele é uma acusação contra o sistema. O sistema tem medo do amor. O grande poeta Zé Vicente nos diz no seu canto: “Soldados tristes, calados, com os olhos esbugalhados, vendo avançar o amor!”

Jo. 19,25-27: Junto à cruz de Jesus estava sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí o seu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí a sua mãe”. E desde essa hora o discípulo a recebeu em sua casa.

Este episódio, mencionado somente pelo Evangelho de João, tem um valor simbólico muito profundo. A mãe de Jesus representa o Antigo Testamento. Representa também Eva, a mãe de todos os viventes. O “Discípulo Amado” representa o Novo Testamento, a comunidade que cresceu ao redor de Jesus, é o filho que nasceu do Antigo Testamento.

Ao pedido de Jesus o filho recebe a Mãe em sua casa, o Novo Testamento recebe o Antigo. Os dois devem caminhar juntos. Pois o Novo não se entende sem o Antigo. Seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo ficaria incompleto. Seria uma árvore sem fruto.

Jo. 19.28-30: Depois disso, sabendo que tudo estava realizado, Jesus disse, para que se cumprisse a Escritura: “Tenho sede”. Havia por aí um jarro cheio de vinagre. Amarraram numa vara uma esponja ensopada de vinagre, e levaram até a boca de Jesus. Quando ele tomou o vinagre disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

No Evangelho de João, a descrição da morte de Jesus é feita com muita solenidade. Pois quem morre é o Senhor da vida, consciente da missão que tinha recebido do Pai. E para cumprir a Escritura até o ultimo detalhe e nada ficar sem cumprimento, ele diz: “Tenho sede!” Estas palavras fazem memória do salmo: “Na minha sede me deram vinagre para beber” (Sl. 69,22)

Assim, após ter realizado tudo como o Pai queria, Jesus, ele mesmo, determina a hora da partida. Aqui termina a antiga criação e nasce a nova. “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto”. (Jo. 12,24)

O relato da paixão e morte de Jesus escrito por João faz a gente perceber como a força da vida e ressurreição já estava presente e atuante na hora da própria morte.

A liturgia da Palavra desta comemoração de Finados nos leva a entender um dos mistérios de nossa existência terrena. Quem dera que tivéssemos na nossa hora a consciência de ter realizado em nossa vida a vontade do Pai.

Jesus se encanou em nosso meio para realizar a vontade do Pai, basta acreditar Nele e fazer dele a razão e o sentido de nossa vida, e quando chegar a nossa hora, quando pensarmos que tudo se acabou, Nele e com Ele seremos novas criaturas, como é o desejo e a vontade de Deus.

“O importante não é chegar nem partir, o importante é a travessia”. (Guimarães Rosa)

P/ CEBI ( Centro Estudos Bíblicos) raul4ap@gmail.com