“Meus olhos viram a tua salvação” - Raul Amorim

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02/02/2018 - 08:45

Lc.2,22-40

Celebramos hoje a festa da Apresentação do Senhor. Os pais de Jesus, de acordo com a lei mosaica, 40 dias depois do nascimento do menino, foram ao Templo para oferecer o primogênito...

Lc.2,22-23: E quando se completaram os dias para a purificação deles, conforme a Lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém, para apresenta-lo ao Senhor. Tal como está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”.

Durante muito tempo a festa que celebramos hoje, era chamada de “Purificação de Maria”. Com a reforma da liturgia em 1960, passou-se a destacar mais o sentido da   “apresentação” de Jesus ao Pai. A partir de então, a festa recebeu o nome de “Apresentação do Senhor”

O evangelista destaca a fidelidade dos pais de Jesus à Lei mosaica. A lei referente à consagração do primogênito encontra-se no livro do Êxodo: Javé falou a Moisés: “Consagre a mim todo primogênito dos filhos de Israel, os que por primeiro saem do ventre materno. Eles serão meus, tanto dos homens quanto dos animais”. (Ex.13,1-2)

Lc.2,24-25: E também para oferecer em sacrifício um para de rolas ou dois pombinhos, como diz a lei do Senhor. E eis que havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem justo e piedoso esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava sobre ele.

O sacrifício de dois pombinhos era para a purificação de Maria. A lei dizia que toda mulher que desse à luz ficava impura durante quarenta dias. Para sua purificação deveria oferecer um cordeiro de um ano para o holocausto.

O livro do Levítico ainda ressalta: “Se ela não tiver meios para comprar um cordeiro, pegue duas rolas ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro para o sacrifício pelo pecado. O sacerdote fará a expiação por ela, e ela ficará purificada” (Lv.12,8)

Mais uma vez continuando a lição da manjedoura e dos pastores, Lucas sublinha o amor especial de Deus pelos pobres. Deixa claro que Maria, José e Jesus eram contados entre eles como, aliás, era toda população de Nazaré.

Lc.2,26-27: O Espírito Santo lhe havia revelado que ele não morreria sem antes ver o Messias do Senhor. Movido pelo Espírito, ele foi ao Templo. Quando os pais levaram o menino Jesus para cumprir o costume da Lei a respeito dele.

Temos um encontro entre o velho e o novo. Entre Simeão e o menino. A Antiga Aliança se alonga para se unir com a Nova; estica o pescoço para ver o personagem que chega. A esperança certamente alimentou a vida de Simeão. A esperança deve alimentar a nossa missão.

Lc.2,28-32: Simeão tomou a criança nos braços, louvou a Deus e disse: “Agora Senhor, podes deixar teu servo partir em paz, segundo a tua palavra. Porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos, luz para iluminar a nações e glória de teu povo Israel”.

Simeão proclama que ele pode ir em paz, simbolizando que as esperanças dos justos da Antiga Aliança agora estavam se realizando em Jesus. Assim como na visitação, a idosa Isabel, acolhia com alegria a chegada de Maria com Jesus, agora Simeão recebe com a mesma alegria a novidade da Nova Aliança, concretizada em Jesus.

Lc.2,33-35: Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que diziam dele. Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do menino: “Eis que este menino será causa de queda e reerguimento de muitos em Israel. Ele será sinal de contradição. Quanto a você, uma espada vai atravessar sua alma. E assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”.

É um trecho difícil de entender especialmente no que se refere à frase dirigida a Maria: Quanto a você, uma espada vai atravessar sua alma. Frequentemente se explica essas palavras como referentes à dor de Maria em testemunhar o sofrimento na cruz e até lhe damos o título de Mãe das Dores. Mas o Evangelho de Lucas não fala da presença de Maria na morte de Jesus. Esse relato só se encontra no evangelho de João (19,25-26)

É bem provável que Lucas queira enfatizar que o compromisso com a missão de Jesus age como uma espada que faz corte radical entre as opções da vida. Neste sentido lembramos a carta aos hebreus: “Pois a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes. Ela penetra até o ponto em que a alma e o espírito se encontram, até onde as juntas e medulas se tocam. Ela sonda os sentimentos e pensamentos mais íntimos”.

Lc.2,36-38: A profetisa Ana também estava presente....

 Ana é viúva, anciã e profetiza. Simeão e Ana representam, quase nos mesmos termos de Zacarias e Isabel, os justos que esperavam a salvação de Deus. O grupo era conhecido no Antigo Testamento como ao anawim, ou os “pobres de Javé”.

Lucas mais uma vez coloca juntos homem e mulher, um tema comum nos seus escritos. Assim, o evangelista insiste que mulher e homem se colocam juntos diante de Deus. São iguais em dignidade e graça, recebem os mesmos dons e tem as mesmas responsabilidades.

Lc.2,39-40: Quando acabaram de cumprir todas as coisas segundo a Lei do Senhor, eles voltaram à Galileia, para sua cidade de Nazaré. E o menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava sobre ele.

Jesus “crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e o favor de Deus estava com ele”. Como acontece com todos nós, esse crescimento foi gradual, e a sua família tinha um papel importantíssimo no seu crescimento.

P/ CEBI (Centro Estudos Bíblicos) Raul de Amorim Pires> raul4ap@gmail.com