“ Do qual pendeu a salvação do mundo” - Pe. Reuberson Ferreira

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14/09/2017 - 08:45

QUINTA FEIRA DA 23ª SEMANA DO TEMPO COMUM

(Festa da Exaltação da Santa Cruz)

Leituras: Nm 21 4-9; Sl:77; Evangelho: Jo 3,13-19

No itinerário próprio do tempo litúrgico que agora vivemos, não raras vezes, celebra-se datas festivas, solenidades e memórias. Hoje deparamo-nos com uma festa da Igreja dotada de  uma singularidade peculiar, a Exaltação da Santa Cruz. Trata-se de uma celebração que finca suas bases  nos primeiros séculos do  cristianismo. Segundo a tradição, a mãe de Constantino, Helena, descobrira a cruz na qual Cristo havia sido crucificado. Nesse lugar edificou-se um templo, atualmente  a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. A exaltação da  Santa Cruz  associa-se a dedicação desse tempo  e é  celebrada  na Igreja Católica e em outras tradições, como  a Ortodoxa desde tempos imemoriais

Nesse  o clima festivo, místico e simbólico, a liturgia desta quinta feira da vigésima terceira semana do tempo comum coloca ante nossos olhos o mistério da cruz de Cristo. Desafia-nos a divisá-la e reconhecer a grandeza do sacrifício redentor nela oferecido. Ao mesmo tempo, exorta-nos a uma postura clara de opção em fazer descer da cruz os crucificados da história.

A primeira leitura  desta festa é extraída do  livro dos Números. O texto está situado no conjunto de relatos sobre a travessia do povo de Deus pelo deserto. Diante de murmúrios dos peregrinos contra Moisés e contra Deus(v.5), pedagogicamente o Senhor suscita serpentes à mordê-los, muitos perecem(v.6). Reconhecendo o erro, os Israelitas pedem clemência. Deus ordena a Moisés que coloque sobre a ponta de uma haste  uma serpente de  bronze e todos os que para ela olharem serão redimidos(v.9). Ensina-nos o texto que aquilo que era sinal de opróbrio, meio de humilhação, tornou-se viés de conversão e, doravante, instrumento de  salvação, tal como o será  a  cruz de Cristo.

Ao lado desse texto, na liturgia, despontam o salmo e o evangelho. O salmista, na metria das palavras,  acentua a irremediável  fidelidade  e benevolência de  Deus  à infiel  humanidade. O evangelho, por seu turno, descrito por João, apresenta o diálogo entre Jesus e Nicodemos(cf.v.9.11). O pano de fundo do diálogo é  questão da vida nova(cf.Jo 3,3). Falando ao seu interlocutore, Cristo evoca a serpente  erguida como  sinal de  salvação aos Israelitas e acresce que ele mesmo deve ser elevado para tornar-se sinal de Salvação. Tal sinal, pode-se entender, é a crucifixão de Cristo. Ato que revela o amor inflexível que Deus tem pela humanidade, entregando seu próprio filho para salvar o mundo (v.17). O lenho da cruz é, portanto,  o lugar de onde verteu a salvação da humanidade. Aquilo que era para ser visto com sinal de condenação, desterro e maldição é o sinal da Salvação.

Nesse sentido, ensina-nos muito esta solenidade. Ela nos revela que o instrumento de opróbrio, tornou-se sinal de Salvação. Que a morte na cruz que parecia um redundante fracasso, é na verdade um genuíno  gesto de Amor de um Deus que  busca salvar a todos. Por fim,  ela desafia-nos a contemplar os rostos crucificados da história  e divisar no serviço a eles um caminho de  redenção para  o mundo.

Pe. Reuberson Ferreira, mSC - Mestrando em Teologia na PUC-SP. Trabalha na Paróquia S. Miguel Arcanjo, Arquidiocese de São Paulo.