QUINTA FEIRA DA 23ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(Festa da Exaltação da Santa Cruz)
Leituras: Nm 21 4-9; Sl:77; Evangelho: Jo 3,13-19
No itinerário próprio do tempo litúrgico que agora vivemos, não raras vezes, celebra-se datas festivas, solenidades e memórias. Hoje deparamo-nos com uma festa da Igreja dotada de uma singularidade peculiar, a Exaltação da Santa Cruz. Trata-se de uma celebração que finca suas bases nos primeiros séculos do cristianismo. Segundo a tradição, a mãe de Constantino, Helena, descobrira a cruz na qual Cristo havia sido crucificado. Nesse lugar edificou-se um templo, atualmente a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. A exaltação da Santa Cruz associa-se a dedicação desse tempo e é celebrada na Igreja Católica e em outras tradições, como a Ortodoxa desde tempos imemoriais
Nesse o clima festivo, místico e simbólico, a liturgia desta quinta feira da vigésima terceira semana do tempo comum coloca ante nossos olhos o mistério da cruz de Cristo. Desafia-nos a divisá-la e reconhecer a grandeza do sacrifício redentor nela oferecido. Ao mesmo tempo, exorta-nos a uma postura clara de opção em fazer descer da cruz os crucificados da história.
A primeira leitura desta festa é extraída do livro dos Números. O texto está situado no conjunto de relatos sobre a travessia do povo de Deus pelo deserto. Diante de murmúrios dos peregrinos contra Moisés e contra Deus(v.5), pedagogicamente o Senhor suscita serpentes à mordê-los, muitos perecem(v.6). Reconhecendo o erro, os Israelitas pedem clemência. Deus ordena a Moisés que coloque sobre a ponta de uma haste uma serpente de bronze e todos os que para ela olharem serão redimidos(v.9). Ensina-nos o texto que aquilo que era sinal de opróbrio, meio de humilhação, tornou-se viés de conversão e, doravante, instrumento de salvação, tal como o será a cruz de Cristo.
Ao lado desse texto, na liturgia, despontam o salmo e o evangelho. O salmista, na metria das palavras, acentua a irremediável fidelidade e benevolência de Deus à infiel humanidade. O evangelho, por seu turno, descrito por João, apresenta o diálogo entre Jesus e Nicodemos(cf.v.9.11). O pano de fundo do diálogo é questão da vida nova(cf.Jo 3,3). Falando ao seu interlocutore, Cristo evoca a serpente erguida como sinal de salvação aos Israelitas e acresce que ele mesmo deve ser elevado para tornar-se sinal de Salvação. Tal sinal, pode-se entender, é a crucifixão de Cristo. Ato que revela o amor inflexível que Deus tem pela humanidade, entregando seu próprio filho para salvar o mundo (v.17). O lenho da cruz é, portanto, o lugar de onde verteu a salvação da humanidade. Aquilo que era para ser visto com sinal de condenação, desterro e maldição é o sinal da Salvação.
Nesse sentido, ensina-nos muito esta solenidade. Ela nos revela que o instrumento de opróbrio, tornou-se sinal de Salvação. Que a morte na cruz que parecia um redundante fracasso, é na verdade um genuíno gesto de Amor de um Deus que busca salvar a todos. Por fim, ela desafia-nos a contemplar os rostos crucificados da história e divisar no serviço a eles um caminho de redenção para o mundo.
Pe. Reuberson Ferreira, mSC - Mestrando em Teologia na PUC-SP. Trabalha na Paróquia S. Miguel Arcanjo, Arquidiocese de São Paulo.