“Discernir a vontade do Senhor” - Pe. Reuberson Ferreira, mSC

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29/06/2017 - 08:00

QUINTA FEIRA DA 12ª SEMANA DO TEMPO COMUM

Leituras: Gn 16, 1-12.15-1611, 1-11; Sl:105; Evangelho: Mt 7, 21-29

Regidos pelo Espírito Santo somos convocados a viver com intensidade a beleza e a grandeza do Tempo comum. Esse tempo, convida-nos a uma profunda e acurada reflexão sobre o Reino de Deus. Ele nos exorta a um decisivo compromisso com a  construção do projeto do Senhor, apresentado por Jesus Cristo. Assim,  por meio de gestos concretos, cada homem e mulher, tementes a Deus, deveria lutar para colocar a humanidade sob o pálio do Reino de Deus.

No espírito próprio deste tempo litúrgico, as leituras desta quinta feira da décima segunda semana do tempo comum, nos exortam a discernir a vontade do Senhor. Discernimento é uma categoria profunda na espiritualidade cristã. Ela envolve, além de descoberta-eleição-decisão, a paz/consolação que resulta da certeza de se está fazendo aquilo que o Senhor propõe.

A primeira leitura, extraída do livro das gêneses, apresenta o episódio da gravidez de Agar, escrava de Sarai que era mulher de Abrão. Conforme aparece no texto, entende-se que Sarai, entristecida por não dar um filho à Abrão e ajudá-lo a ser pai de uma multidão, como Deus lhe prometera, oferece ao seu marido sua escrava, com quem ele terá um filho, Ismael. Ante a gravidez da escrava e pelas dificuldades de relação entre ambas, Agar é expulsa da comunidade. Ela, porém, através do anjo do Senhor é exortada a retornar ao seu grupo e dar a luz ao filho de Abrão. Depreende-se dessa passagem a lição sobre o discernimento. Sarai discerniu que o projeto de Deus não iria cumprir-se porque ela era estéril, decidiu por isso fazer sua eleição, sua escolha e evitar sofrimentos. Tal opção não lhe trouxe paz, certamente não era o projeto de Deus. A fuga de Agar, por outro lado, representa outro discernimento não bem executado, redundando num fracasso. Conclui-se assim que discernir a vontade Deus não é apenas eleger nossas próprias prioridades, conforme nossos próprios desejos. Antes é perceber o movimento do Espírito em nós e, aceitar, mesmo que em meio as dores, os caminhos apesentados pelo Senhor para realizar seu projeto.

Na sequência da liturgia, o salmo e o evangelho apontam a confiança e a fidelidade no Senhor misericordioso, como caminho seguro para discernir seu projeto, conhecer sua vontade estabelecer o seu Reino. O evangelho de Mateus, de modo particular, assegura que fazer a vontade do Senhor, não é apenas pronunciar seu nome ou atribuir a si predicados de servo de Deus. Os que assim o fazem, assentam sua história sob um falso alicerce. Antes, buscar a vontade do Senhor, é fundamentar a própria vida em sua palavra, rocha firme contra a qual todas as intempéries não têm força. Depreende-se desse discurso de Jesus que discernir é pautar a própria vida à luz da mensagem do Evangelho e eleger as opções vitais sob a chancela de buscar em tudo a glória de Deus.

 Largos traços, a liturgia de hoje, insiste na busca pela vontade do Senhor. Tal vontade é  reconhecida por um acurado exercício de discernimento. Tal discernimento deve ser feito não pautado por impulsos e paixões desordenadas, antes pela reta intenção de buscar em tudo a glória de Deus. Guiar-se pela palavra de Deus, evitar os próprios interesses e aceitar com resignação as moções do Espírito é, inevitavelmente, o caminho para buscar perceber a vontade do Senhor em nossa própria história.

Pe. Reuberson Ferreira, mSC - Mestrando em Teologia na PUC-SP. Trabalha na Paróquia S. Miguel Arcanjo, Arquidiocese de São Paulo.